Direto de Brasília-DF.
O apogeu da Renascença
O sonho de todo renascentista era a ascenção de um novo homem e para que este homem novo pudesse superar sua versão mais fraca e evoluir à partir de seu “EU” mais forte, duas intervenções de cunho espiritual seriam necessárias: primeiro passar por uma Metanoia, segundo estar aberto a sua capacidade extraordinária de se adaptar.
O apogeu do sonho renascentista tornaria material os esboços biológicos(pela transformação do corpo) e psicológicos(pela transformação da mente) desse novo homem. São tantos os nomes importantes que semearam e cultivaram a Renascença que citar Leonardo da Vinci descortina em nossa mente o quilate dessa época dourada para a razão.
Como iniciei dizendo, a ascenção desse “homem novo” exigia duas intervenções, a Metanoia e o exercício da necessária humildade por parte de alguém que se decida evoluir adaptativamente. Metanoia, para variar, é vocábulo polissêmico do grego antigo, ou seja, possui significados vários aplicáveis a ciências e doutrinas sociais variadas. Por exemplo, na “Retórica”, disciplina grega do processo educativo e de ensino que estuda a arte da comunicação, Metanoia é compreendida como a técnica intelectual usada para retornar a uma afirmação feita, para refazê-la em seguida, corrigindo-a, enfatizando-a ou atenuando-a, com todo esse esforço privilegiando a dialética, arte do diálogo saudável em que as partes não pensam em vencer a discussão, mas em fazer o conhecimento progredir. De dizer isto sei que você já viu que usar Metanoia na política é tarefa quase impossível, porque na política o que se busca é vencer a discussão por meio de qualquer artifício ou técnica, por mais falaciosa(mentirosa) que seja.
Metanoia também é muito aplicada na teologia e neste campo é entendida como sinônimo do arrependimento que faz com que o fiel mude de mentalidade. Essa mudança interna(na mente) tem reflexos em todas as demais atitudes. Já na Psicologia, a metanoia foi sabidamente usada pelo genial psiquiatra Carl Gustav Jung para significar uma completa transformação da psique humana à semelhança do que ocorre no interior de uma crisálida. Por óbvio essas discussões se acirraram entre os dogmáticos religiosos que diziam e dizem que transformação assim só Deus faz, e os não dogmáticos que dizem que uma coisa não exclui a outra.
A segunda intervenção necessária para o surgimento do homem da Renascença seria aceitar e abrir-se ao processo evolutivo como meio de atingir a dimensão da razão e seguir sua trilha. De inúmeras formas essas discussões não eram novas, porque já propostas pelos gregos desde antes do período clássico, por volta dos 600 a.C. Mas, ressuscitar e contextualizar o tema teve um impacto importante para a história do mundo.
A Renascença teve muitas vozes, mãos e cérebros que a ela se dedicaram. Marsílio Ficino, humanista cívico e filósofo italiano cria firmemente no poder do intelecto humano. Lutou para pacificar platonismo e cristianismo, filosofia com ciência e fé. Para fugir das contendas envolvidas em tal sonho aceitou harmonizar os pensamentos platônicos com a fé cristã, o que já havia sido trabalhado por Santo Agostinho. Como às vezes importa mais a paz que ter razão, essa estratégia lhe permitiu avançar com o processo educacional e de ensino que tinha em mente para o homem renascentista. Você deve achar estranho eu me referir somente ao “homem”, mas a verdade é que em todos esses séculos machistas a mulher tinha papel secundário e quase sempre relegada ao anonimato. Para explicar isto vem aí as novas edições revistas e ampliadas em português e espanhol, do livro, “A mulher e sua luta épica contra o machismo”, uma obra que aborda o machismo e seus efeitos nos dez maiores impérios do mundo. Espero que leia.
Ficino não crê em conhecimento pré-existente que procede do mundo das ideias, gotejadas paulatinamente na mente humana por meras reminiscências. Ele crê que o conhecimento é fruto de esforço natural e que a alma humana intenta chegar ao conhecimento ou às verdades da vida por meio do intelecto que possuímos e isto não é platônico, mas aristotélico. Mas, se insistisse nesta discussão poderia perder o direito de evoluir. Neste aspecto calar e trabalhar pode fazer o silêncio gritar para a História.
Sem abandonar a fé e procurando minimizar enfrentamentos que impedissem o avanço do processo educacional e de ensino, Marsílio Ficino assegura que o intelecto humano é uma luz, um caminho na direção de Deus a que o homem intelectual não quer negar e sim trilhar para chegar à verdade maior que é, a compreensão do Supremo Criador do Universo, inclusive de forma científica.
Esse humanismo cívico e moral que se volta para a cidade e para o “bom cidadão” reconhece o valor da tradição, da família e dos bons costumes, que devem ser preservados pelo conhecimento da História. A compreensão da História, aliás, é o caminho para sua preservação. Nesta fase valoriza-se a Pintura, a Poesia, a Escultura e a Filosofia, numa espécie de ressurreição da Teoria da Estética, do belo, coisa que os gregos antigos ensinavam e cultuavam.
O Homem bom sob o ponto der vista moral e ético era uma manifestação estética, um reflexo do que o ser humano nasceu para ser ou daquilo na qual poderia se transformar. Um humanista crê na capacidade de assimilação e transformação do homem à partir de si mesmo, de seu intelecto. Com a valorização da Teoria da Estética dentro do contexto do humanismo, era de se esperar que a beleza do “NU” se potencializasse, pois o humanismo desde suas origens nasceu valorizando corpo e espírito. Note que pinturas da época apresentam o “nu” em homens e mulheres, sem a conotação que o sexo tem na indústria pornô, por exemplo.
No próximo episódio escrevo sobre o “humanismo da corte”, variação do humanismo que deseja produzir um homem capaz de servir bem a seu Príncipe ou governador.
Até breve.
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