Direto de Brasília-DF.
(SÉRIE: CASOS ESCABROSOS DE AGRESSÃO DE ALUNOS, PAIS E RESPONSÁVEIS CONTRA PROFESSORES, ORIENTADORES EDUCACIONAIS E DIRETORES DE ESCOLAS)
Em uma manhã ensolarada de quarta-feira, 13 de março de 2019, sob o céu da cidade de Suzano, São Paulo, dois adolescentes, premeditadamente, conseguiram entrar na Escola Estadual Raul Brasil com armas, munição, explosivos caseiros, arco-e-flecha, faca e desejo de matar.
A “casa” não era desconhecida, nem tampouco o eram seus professores, orientadores educacionais, diretores, merendeiros, pessoal da limpeza, vigilantes e o pessoal do ‘staff’ administrativo da escola. Mas, o que importava para os atiradores?
Por outro lado, no que pensava aquele “batalhão” de servidores públicos e terceirizados colocados à disposição para servir, ensinar e até por vias oblíquas, educar a todos os alunos, inclusive aos dois atiradores, alunos do ensino médio daquela agência de ensino e transformação de vidas?
Certamente a resposta submergiu no desespero e na depressão que tomou conta dos que restaram vivos, cuja sorte foi maior que a dos que inocentemente morreram. O que explicaria tal terror: o “ressentimento do pobre”, matar bulinadores contumazes, a violência doméstica, os traumas de suas infâncias, o abismo imenso entre a realidade e as expectativas da adolescência?
Todos os argumentos são utilizados modernamente, para sacudir dos ombros de agressores a responsabilidade pessoal. Afinal, tudo que foi citado atormentou, atormenta e atormentará a vida da esmagadora maioria que habita o planeta, e ainda assim, as pessoas não saem em seu “dia de cão” jogando coquetel molotov, esfaqueando ou atirando nas demais pessoas.
À parte do “bullying” e sua natureza humilhante, dos reais, supostos ou traumas inventados ou de conveniência que esta sociedade de consumo multiplica, ponha-se no lugar de professores, orientadores educacionais e corpo diretivo de uma escola de ensino fundamental ou médio (seja empático), e diga se aquele é um cenário esperado, justo no lugar em que o conhecimento é trabalhado para forjar o caráter de uma Nação.
Hoje, um dia após o triste aniversário da tragédia em que os alunos atiradores Gulherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos mataram cruelmente a seus colegas de escola, Pablo Henrique Rodrigues, Cleiton Antonio Ribeiro, Caio Oliveira, Samuel Melquíades Silva de Oliveira e Douglas Murilo Celestino, as funcionárias são Marilena Ferreira Umezo e Eliana Regina de Oliveira Xavier e Jorge Antonio de Moraes, dono de uma locadora, merece lembrar que a ameaça ou agressão a professores, orientadores educacionais, diretores e demais profissionais de uma escola é uma mensagem, um grito de alerta, que a infância e adolescência emitem. O que fazemos diante de sinais de trânsito, por exemplo? O que fazem navios ante sinais de tempestades?
Se a mensagem constitui um S.O.S (save our soul) ou um grito de alerta sobre o perfil do agressor, cabe à família, sociedade e Estado agirem para prevenir que vidas inocentes sejam dizimadas e junto a elas, sepultadas a alegria de viver e o sentimento de que sair de casa para trabalhar atormente a psique dos vivos que passam a viver como se mortos fossem.
Aquela quarta-feira em que os ponteiros do relógio do tempo cravavam 9h30 da manhã constitui mais um aviso histórico e contumaz da violência que diariamente ocorre em alguma escola do Brasil e não é notícia porque professores, orientadores educacionais, diretores e demais profissionais vinculados às redes de ensino “deixam passar” sem registrarem ocorrência policial. Talvez façam isto porque não querem expor a vergonha que sentem, a humilhação a que são expostos cotidianamente. Vergonha e humilhação para as quais pais e responsáveis que não educam seus filhos contribuem ao maltratá-los em casa, ao não discipliná-los ensinando que hierarquia e respeito são requisitos fundamentais do viver em sociedade.
O tiroteio de Suzano não foi nem será o único, como apontam as estatísticas abaixo. Veja outros casos em outras cidades do Brasil:
Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/policia/tiroteio-em-escola-deixa-pelo-menos-oito-feridos-na-grande-sao-paulo,1fc76c4811b92f3db5171875228f18a4p9rmlxt5.html e Gazeta do Povo.
Há uma batalha social e acadêmica para decidir se somos o produto do meio ou o fruto de nossas escolhas pessoais. No primeiro caso vence o determinismo daqueles que pensam que “tal pai, tal filho. Tal mãe, tal filha˜. Na hipótese dois estão aqueles, entre os quais me incluo, que pensam que a conduta consciente e livre dirigida a determinado fim, deve ser vista como o verdadeiro indicativo da vontade, razão suficiente para que por ela alguém seja permitido viver em sociedade ou responsabilizado adequadamente.
Aceitar ameaça e/ou agressão a uma pessoa que se esforça para fazer o bem a um agressor, como se este não pudesse escolher o que fazer antes de “lançar a pedra” é sepultar a razão e o poder de racionalizar a conduta.
Educar e ensinar um pouco do que sabemos e, mais importante ainda, se permitir ser educado e ensinado, pode apontar para uma vida menos selvagem do que a que desponta no horizonte social, pois como diz o aforismo judaico “A resposta branda desvia o furor, enquanto a palavra dura suscita a ira. A língua dos sábios adorna a sabedoria, enquanto a boca dos tolos derrama a estultícia”.
Quem é o sábio e quem é o tolo nessa equação social de hoje?