Direto de Brasília-DF.
As escolhas que fazemos na vida são tão diferentes, quanto diferentes somos uns dos outros. Apesar das diferenças, nos igualamos em várias circunstâncias, pois em momentos vários agimos como multidão condicionada pelo Estado, religião, política e pelas paixões que nos movem. Afinal, como dizem pensadores de todos os tempos, somos movidos mais pelas paixões que pela razão.
Nos apaixonamos por pessoas, por estilos de vida, por futebol, religião, política etc,. Nossas paixões tanto podem nos aproximar quanto nos dividir, pois quando nos sentimos leais a algo tendemos a excluir seu oponente.
A lealdade dividida é um dilema identificado pelos filósofos dos tempos clássicos gregos, em que determinada pessoa ou grupo de pessoas se vê diante de duas ou mais circunstâncias às quais se consideram leais, mas ficam na dúvida sobre a opção que devem fazer.
São muitos os exemplos possíveis. Durante o século XIX, em plena revolução industrial, a Inglaterra e os Estados Unidos da América (EUA) já eram dominantes no setor primário da economia(agricultura e pecuária) e começavam a investir pesado em ciência e tecnologia, com o objetivo de ir além da agricultura, pecuária e comércio, este já globalizado pelas grandes navegações iniciadas no século XIII.
O que Inglaterra e EUA queriam e conseguiram era dominar a indústria mecanizada, o setor secundário da economia nacional e internacional e se firmarem como países hegemônicos ou dominantes.
Na corrida para se tornarem países hegemônicos na nova ordem econômica que se avizinhava junto com o Século XX, a classe política europeia e norte americana se aliava tanto quanto podia à ciência e tecnologia, enquanto a classe política republicana brasileira dirigia o país para o setor primário.
Somente em meados da década de sessenta do século XX, no governo JK o Brasil se volta para a industrialização e, ainda assim, de forma extremamente tímida. Acontece que a história não perdoa quem não se adapta e foi assim que o atraso no desenvolvimento industrial e o descaso com o processo educacional fantasiosamente confundido com processo de escolarização, cimentou a base para o que somos hoje, ou seja, um país com mais de 200 anos de atraso em relação à alguns países da Europa e, principalmente EU que desde o pós primeira guerra mundial assumiria como de fato é até hoje, o posto de império mundial dominante.
E, não me venham com a tolice de fazer referência a “império dominante” por meio do discurso fraco, ultrapassado e reprovado historicamente que os de esquerda fazem. Na história não há períodos sem um ou vários impérios dominantes, assim como na Política não há espaços vazios de poder.
Hoje, próximos do primeiro quarto do século XXI ainda somos um Estado voltado para o setor primário e com poucos lampejos de industrialização em um mundo no qual EUA, Alemanha, Japão e outros países já dominam os rudimentos da Inteligência Artificial e caminham em direção da interação quase plena entre o mundo virtual e o real.
Para piorar, o pequeno avanço iniciado com os governos liberais e completados pelos governos socialistas que tivemos logo após a redemocratização, não passaram de uma Vitória de Pirro (vitória de Pirro é aquela que se consegue a um preço cujos prejuízos são irreparáveis e não compensam o custo da batalha).
Como segundo exemplo sobre o dilema da lealdade dividida recordemos que no século XIX vários países da Europa e na America do Norte, os EUA, investiam pesado em construir vastas redes de ferrovias, enquanto a classe política brasileira se mantinha fiel às rodovias, apesar de conhecerem a eficiência e eficácia dos trens de passageiros e cargas, pois elas (as classes políticas) enviavam seus filhos para serem educados na França e em Portugal e, portanto, conheciam a fórmula certa do desenvolvimento.
Sim! Desde início do século XX (que já se foi a 18 anos) nossos políticos sabiam o que fazer para nos projetar adiante, para fazer o Brasil alcançar a maioridade do desenvolvimento, mas optaram por seus projetos pessoais ao invés dos projetos sociais que colocariam nossa Nação no trilho do desenvolvimento.
De um país patrimonialista dominado pelos antigos “coronéis” (fazendeiros, donos de cartórios e políticos que compravam a patente de Coronel), somente na década de 60 do século XX, com uma simples Lei (o Decreto-lei n. 200/1967) o governo brasileiro passou a país burocrático (na época esse termo significava “organização”), criou a Administração Pública Burocrática com a pretensão de nos organizarmos para a Ordem e o Progresso, lema positivista estampado na atual bandeira Nacional, criada em 1889, com a proclamação da República.
O problema é que aqui por esta nossa terra brasilis temos por hábito fazer adaptações que por vezes deturpam o “bem ou bondade” existente na “coisa” ou no “ser”.
Foi assim que o termo burocracia, no Brasil ganhou ares de desorganização nas quatro esferas de governo. De organizado só nos restam as organizações criminosas que nos governam como um autêntico Estado Paralelo e, neste Estado Paralelo, inclua-se as diversas organizações criminosas de colarinho branco que se instalaram no Poder para saquear dos cofres públicos o dinheiro que deveria ser investido na íntegra em programas sociais.
Conheço três continentes do mundo. Já viajei por quase todo o Brasil. Somente não conheço três de suas capitais e por seu interior não canso de conhecer por toda sua extensa beleza, mas também em toda sua extensa miséria.
Já viajei para conhecer mais de 26 países do mundo e neles mais de 56 cidades, sendo que para algumas delas voltei várias vezes. Sempre faço registros fotográficos e dossiês da infraestrutura desses lugares por onde passo. Vou pelo roteiro turístico e também por lugares incomuns a turistas. O que tenho observado é que enquanto em alguns lugares alguns governos se preocupam com o bem estar do povo, aqui no Brasil continuamos governando há mais de cinco séculos ao argumento do “um pra ti e dois pra mim”.
As organizações criminosas há muito dividem nossa sociedade entre os que têm coragem de sair de casa (apesar do medo que adoece o espírito da Nação) e os que por medo se trancam em casa e deixam aos criminosos de colarinho sujo e criminosos de colarinho branco, dominarem as ruas, praias, lagos, parques. Essas mesmas organizações criminosas têm dominado a direção do Estado e, por conseguinte nosso direito de ir e vir e de pensar por nós mesmos, porque quando não se investe verdadeiramente em processo educacional, livros textos e escolas não passam de mais um instrumento de propaganda das classes políticas dominantes descompromissadas com o bem estar da Nação.
Em alguns países desenvolvidos do mundo, que deveriam obrigatoriamente servir de exemplo ou paradigma para nossos governos, a classe política se sente comprometida com o bem estar da Nação e leva a sociedade a se dividir entre o bom e o melhor. No Brasil, ao invés de avançar cinquenta anos em cinco como pretendia JK, seguimos no ritmo do cinco por cinquenta, ou seja, avançamos cinco e retrocedemos cinquenta.
O dilema da lealdade dividida aqui nesta terra Brasil é um pêndulo balançando entre extremos que vão do ruim ao menos ruim, do candidato que rouba mas faz, àqueles cujo lema em relação ao povo é “um pra ti, dois pra mim”.
Se começarmos hoje a semear sementes para uma nova Ética Social haverá esperança de que algum dia, alguma geração possa ter “Cor Unum et Anima Una pro Brasília”, ou seja, “Um coração e uma só alma pelo Brasil”. Porque como afirma Ketan J. Patel “nao é possível implementar uma mudança sustentável sem uma mudança de mentalidades”.