Afogados da Ingazeira: nutrientes para as boas almas

Afogados da Ingazeira: nutrientes para as boas almas

Por Adriano Marcena

Para muitos, uma cidade afastada dos grandes centros urbanos pode ser maiúscula em desimportância e minúscula em glamourosidade. Contudo, para os moradores, aquela pequenina cidade, tão desprezada por muitos, é o útero do universo onde nascem não apenas as estrelas, mas todos os fios do leite cósmico que guardam os nutrientes das nossas almas. 

Poucos sabem que é naquela cidade onde o mundo começa a fazer sentido para muita gente, justo naquele lugar, fincado nas terras sertanejas do Brasil, que o belo cantarolar do amanhecer anuncia a chegada de mais uma oportunidade para saborear a existência. 

É naquela cidade, cercada de sol por todos os lados, que o cheiro bruto de cuscuz com leite, da charque frita, do saboroso manguzá salgado, da coalhada fresquinha, da caneca de café quente e da boa lasca de queijo coalho com mel de abelha atiçam os estômagos matutinos.

Lá pelo meio da manhã, a cidade se reveste de interação social em que as notícias da rádio, das mídias sociais, além dos intermináveis boatos e fuxicos imperdíveis reviram a vida de muita gente. 

Nas pancadas da noite é a hora da prosa nas calçadas, das risadas pelos bancos das praças, dos causos engraçados e da criançada a brincar de infância pelas ruas em meio ao arrastar das pedras do dominó a bater cruzadas ou buchudas. 

Pela madrugada, as assombrações deixam o Parque da Saudade e São Judas Tadeu e emburacam nas lendas assombrativas que assustam jovens e crianças em noite de contar histórias de mal-assombro.

Nos finais de semana, vaquejadas, aboiadores, pega do boi e repentistas levam a população ao deleite festivo para reafirmar seus valores culturais como forma de preservar importantes tradições passadas de geração em geração.   

E quando chega a Festa do Padroeiro, Senhor Bom Jesus dos Remédios, puxada pela Procissão da Bandeira? Pense num festejo bonito que deixa a população emocionada de tanta fé. Como se esquecer da inesquecível apresentação da Banda de Música nas comemorações do centenário da cidade (2009)? E o São João de Afogados? Eita festa boa da gota! A alegria invade todos os recantos, chegando também às Comunidades Quilombolas de Jiquiri, Pintada, Umbuzeiro e Leitão, fazendo o povo vibrar com uma das melhores festas juninas do sertão do Pajeú.

O Tabaqueiro é a grande figura do Carnaval de rua da cidade de Afogados da Ingazeira e não vai demorar a cair no gosto de todo pernambucano. É personagem que tem todo o corpo fantasiado para evitar ser reconhecido e carrega preso à cintura um pequeno recipiente, feito de chifres de bois ou bodes, chamado tabaqueiro, com tampas de madeira onde era guardado o fumo de rolo torrado.

A Expoagro de Afogados da Ingazeira reafirma a importância econômica do município para o Nordeste brasileiro no segmento da caprinovinocultura, possibilitando que o poder municipal possa investir em obras que tornam a vida da população muito melhor. Sem se esquecer que o sistema de abastecimento d’água está chegando a várias áreas do município e o que já é bom vai se tornar cada vez melhor. 

Erguida sobre as poéticas terras do Sertão do Pajeú, Afogados da Ingazeira guarda em suas origens uma comovente tragédia que serviu de mote para o nome da cidade. Tudo aconteceu quando a cidade ainda pertencia à Ingazeira. Corre à boca miúda que durante uma enchente do rio Pajeú, um casal de viajantes morreu afogado ao tentar atravessar suas águas. Os corpos dos afogados na cidade de Ingazeira foram encontrados dias depois, episódio este que, posteriormente, deu origem ao nome Afogados da Ingazeira. 

Como vimos, Afogados da Ingazeira não tem nada de pequena, nada de coitadinha e nem de cidadezinha, pois sua grandiosidade está dentro do coração de cada afogadense.E acreditem que não tem quem consiga arrancar essa força que mora no peito dos seus moradores. 

Um dos seus filhos, José Patriota, prefeito e atual  presidente da AMUPE guarda em suas células afogadenses o equilíbrio para administrar a importante Afogados da Ingazeira e a AMUPE, que tem por finalidade integrar e articular os municípios de Pernambuco, e promover e valorizar ações que busquem a igualdade entre homens e mulheres. 

É por isso que se diz por aí: Afogados da Ingazeira é nutriente para as boas almas.

 

 

Conheça um pouco mais sobre  Adriano Marcena é escritor, historiador, teatrólogo e professor.

Autor de mais de 15 livros publicados e detentor de 3 prêmios nacionais de literatura. Adriano Marcena é o criador do badalado Dicionário da Diversidade Cultural Pernambucana, obra reconhecida pela ALEPE, UFPE, UBE e requisitado para compor o acervo da Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos. Com obras traduzidas e publicadas em outros países, Marcena foi o primeiro Presidente da Academia de Letras do Jaboatão dos Guararapes e do Conselho Municipal de Cultura. 

Produtor Executivo da FLIPO – Festa Literária Internacional do Ipojuca (2013-2014), Coordenador da Casa da União Brasileira de Escritores – UBE/Fliporto (2011-2012) e Coordenador da Plataforma de Lançamentos da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco (2011-2013-2015). É escritor membro da União Brasileira dos Escritores – UBE e da Sociedade Brasileira de Autores – SBAT. Criador da Turma da Joaquina, atualmente faz parte do movimento startup da Economia Criativa no Porto Digital do Recife.

Alguns títulos publicados:

Marcena, A. A ópera do Sol – Uma Odisseia Nordestina no Sertão Pernambucano – Ópera-repente. 

Marcena, A. Jaboatão Histórias e Lutas. Jaboatão dos Guararapes: O Autor, 2001. (6 Edições);

Marcena, A. Teatro Completo Um: Textos Para 1, 2 e Até 3 Atores. Recife: O Autor, 2009. (Publicação Patrocinada Pelo Programa BNB de Cultura 2009);

Marcena, A. Dicionário da Diversidade Cultural Pernambucana. 2. Ed. Recife: Cel Editora, 2011.

Marcena, A. Dicionário Escolar da Diversidade Cultural Pernambucana. Recife: Ideia 2012. 

Marcena, A. Mexendo o Pirão: Importância Sociocultural da Farinha de Mandioca no Brasil Holandês (1637-1646). Recife: Funcultura/Secretaria de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco, 2012.

Marcena, A. Raspando o Tacho: Comida e Cangaço: Relações etnogastronômicas entre Nômades e Sedentários nos sertões nordestinos (1922-1938). Recife: Recife: Funcultura/Secretaria de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco, 2015. Acompanha Versão Áudio Livro.

Marcena, A. Bullying: sou diferente, mas sou humano – Por uma cultura de Paz. Recife: Ideia 2015.

Marcena, A. A Saideira – Breve história cultural da cerveja em Pernambuco. Recife:    

Recife: Funcultura/Secretaria de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco, 2016.

Marcena, A. As Aventuras do Vampiro do Cordel. Recife: Funcultura/Secretaria de

Cultura/Governo do Estado de Pernambuco, 2018.

PRÊMIOS E MENÇÕES HONROSAS RECEBIDOS:

Prêmio Especial do Júri no XIII- Festival de Teatro de Bolso – Tebo – Recife-PE, 1992, Para o texto Gabriel & Isabel;

Menção Honrosa: Categoria Infantil para o texto O Rei Rodela no Concurso Literário da Fundarpe – Governo do Estado de Pernambuco – Versão 1992; 

Prêmio Nacional de Estímulo à Dramaturgia da Funarte – Concedido pelo Ministério da Cultura do Brasil/Funarte, 1996 – Para o texto A Ópera Do Sol – Uma Odisséia Nordestina No Sertão Pernambucano – Ópera-Repente.

Prêmio Nacional Elpídio Câmara- Categoria Teatro do Concurso Literário Cidade do Recife – Versão 1997 – Para o texto A Ópera Do Sol – Uma Odisséia Nordestina no Sertão Pernambucano Ópera-Repente. 

Menção Honrosa: Categoria Teatro, para o texto As Mungangas De Zeca Apolinário na Terra do Vulcão Encarnado, no Concurso Literário Cidade do Recife, Versão 1998.

Menção Honrosa: Categoria Teatro, para o texto Arrecife Do Silêncio, no Concurso Literário Cidade do Recife, Versão 2002.

Menção Honrosa: Categoria Teatro, para o texto Estrepolias De Pedro Malasarte, Concurso Literário Cidade do Recife, Versão/02.

Menção Honrosa: Categoria Teatro, para o texto O Canto Dos Vinhedos, no Concurso Literário Cidade do Recife, Versão 2004.

Prêmio Mais Cultura de Literatura De Cordel 2010 – Edição Patativa de Assaré/Ministério da Cultura do Brasil, Contemplando a 2ª Edição da Obra A Ópera do Sol – Uma Odisseia Nordestina no Sertão Pernambucano – Ópera-Repente.

Fotos de; CLAUDIO GOMES

Jadson d'Pádua

A oposição é necessária para avaliar a gestão, mas é importante distinguir entre oposição legítima e politicagem, que busca causar problemas e confundir a população. É preciso ficar atento para não cair nesse jogo manipulador.

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