A História da Educação e do Ensino. Episódio de hoje: O Ensino, a educação e o ser humano primitivo (Parte 3).

A História da Educação e do Ensino. Episódio de hoje: O Ensino, a educação e o ser humano primitivo (Parte 3).

Direto de Brasília-DF.

A vida no Estado Democrático de Direito moderno não admite individualidade que extrapole o princípio do interesse coletivo.

Quase toda informação tem um propósito definido por parte de seu emissor. Compreender essa informação e saber decifrar seus sinais é o que faz com que alguns seres humanos tenham mais ou menos acesso a determinadas classes sociais e econômicas, a níveis altos ou baixos de reconhecimento, mérito no Mercado de Trabalho e a toda a engrenagem que sustenta a vida em sociedade.

Eis porque a tradição educativa na antiguidade divergia da tradição de ensino em cada região do mundo. O processo disruptivo entre educação e ensino foi sendo engendrado de forma lenta pela história, para acentuar-se após o estabelecimento do Moderno Estado Constitucional e Democrático de Direito, em meados do século XVIII.

A educação reside em todos os lugares e pessoas que entendem que a vida em sociedade pressupõe direitos e deveres. Ela permeia todo processo racional e racionalizador da existência.

O ensino reside na transmissão do conhecimento percebido, descoberto pelos sentidos, absorvido pela experiência e sempre se dirigiu a três fins específicos: alimentar o cérebro, orientar a conduta social e esculpir caráter. Os grandes mestres têm ou devem ter isto em consta e, os bons alunos também. Professores medíocres e alunos medíocres não serão chamados pelo universo a um patamar diferente enquanto não se abrirem à voz da humildade socrática do “só sei que nada sei, de tudo que sei”.

O conhecimento sistêmico, a sua vez, passou a ser fruto do trabalho intelectual de filósofos, de historiadores e mestres que decidiram unir partes, pedaços de “conhecimento” observados ou testados, em um todo. Crível em meio sentir é o mestre que sabe e ensina que  todo “todo” é sempre parte de outro “todo” no universo, porque o conhecimento é uma estrada sem fim e que este fato não pode ser usado como desculpa para não seguir aprendendo, porque com a mesma humildade intelectual que o levou a dizer “só sei que nada sei”, Sócrates explicou seu incessante desejo de aprender, dizendo “só sei que nada sei, DE TUDO QUE SEI”.

Tenha-se em mente que educação é um processo; que aprendizagem é um processo; que ensino é um processo e que um processo é o resultado de uma série de procedimentos. Tenha-se em mente que uma definição possível do vocábulo “sistema” é um conjunto de partes que interagem num todo e que esse mesmo “todo” não deixa de ser uma parte de outro todo.

Recordo que quando escrevi meu primeiro livro de Direito fui ao então presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no qual eu trabalhava como nível médio concursado, e o pedi para fazer a apresentação de meu livro. O presidente do TRF 1ª Região gentilmente aceitou prefaciar meu livro e em um dos parágrafos disse: “quem só sabe Direito nada sabe”. Assim que li a frase me bateu uma leve tristeza. Afinal, eu lutara tanto para aprender um pouco da Ciência do Direito e agora, vinha alguém dizer que que eu nada sabia.

Na minha arrogância pensei em rasgar aquele prefácio, mas dei uma chance à humildade e me pus a pensar no que ele poderia estar querendo me dizer. Em poucos dias descobri que nele morava a sabedoria e em mim a ignorância. De fato, se quem sabe “tudo” sobre alguma coisa neste universo de infinito conhecimento, quem só sabe e, mal, uma área do conhecimento, nada ou quase nada sabe. Senti orgulho de ter sido aconselhado naquele prefácio a seguir aprendendo e deixei o livro navegar com ele.

Importa que saibamos que o conhecimento está disponível na terra, no céu e no mar; que ele pode nos ser doado ou que podemos revelá-lo qual arqueólogo que escava verdades históricas.

Importa saber que a Escola de todos os graus de ensino, quer pelo “Jardim” de Epicuro, a “Academia” de Platão ou o “Liceu” de Aristóteles, ou ainda, por quaisquer das formas que hoje conhecemos, nasceu com o fim de sistematizar o conhecimento adquirido e devolvê-lo ao alunos que por ela passam para que dela saiam cidadãos e seres humanos, em tese, melhores.

Foi assim também para o ser humano primitivo, porque com uso da razão jamais foi tão primitivo que não tenha tido o desejo de ter, ser e fazer. É nessa linha de raciocínio, acredito eu, que a História registra o surgimento de três tipos de Escolas no Egito Antigo, por volta do ano 3.000 a.C.:  a escola do Templo, a escola da Corte; a escola Provincial.

Para que tenhamos uma breve noção desse processo das tradições educativa e do ensino é que venho escrevendo, em episódios diversos, esta série sobre a HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO. Lamentavelmente, quando se fala em História as pessoas tendem a uma visão PASSIVA do passado. O passado já foi, está morto… dizem. Mas, não é bem assim!

Há verdades históricas que devem ser extraídas para o presente e que podem ser definidoras do futuro de uma pessoa ou de uma Nação. A análise histórica deve ser ativa, porque nela encontramos o processo de formação de ideias, de formação das Instituições e da própria sociedade. O que pode ser mais vivo que isto?!?

Voltar ao passado com uma atitude ativa de quem busca verdades é entender o presente e pavimentar estradas seguras para o futuro.

O escritor Thomas Giles diz que a sociedade pré-clássica e clássica grega sempre se perguntava: “o processo educativo é essencialmente conservação do passado, ou essencialmente um processo de criatividade? Devemos promover formação humanística ou formação técnica?”

Eu, particularmente, me pergunto se as duas visões descortinadas por Giles são antagônicas e sempre chego à mesma conclusão. Elas são complementares! Uma formação humanista sem a formação técnica é ingênua e a formação técnica sem a humanista é coisificadora do humano. 

No próximo artigo abordaremos em resumo a tradição cultural que influenciou a tradição educacional do ser humano primitivo, porque nos primórdios do tempo não haviam Escolas. O conhecimento era adquirido de forma autodidática, pela tradição e transmitido de pai para filho.

Até breve!

Judivan Vieira

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil. Judivan J. Vieira Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA Palestrante/Speaker/Conferenciante

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