DR PAULA MEYER

A CRISE ENERGÉTICA NO BRASIL- VERDADES E MITOS – O USO DA FONTE DE BIOMASSA

 

Paula Meyer Soares

Laura Vieira Maia de Sousa

Em 2021, prevê-se que o Brasil enfrentará uma das crises hídricas mais ferrenhas dos últimos 93 anos. E para tanto, justifica-se a elevação da tarifa de energia haja visto que boa parte da geração de eletricidade advém da fonte hídrica.

Diante de tal cenário, uma das primeiras lições que aprendemos no curso de geografia é de que o Brasil é um país de dimensões intercontinentais, com uma das bacias hidrográficas mais extensas do mundo e que em nosso território guardamos 6 biomas: o cerrado, a caatinga, a floresta amazônica, a mata atlântica, pampa e pantanal. Essa diversidade ambiental está circunscrita em 8.510.345,538 km² estende-se para a avaliação do potencial energético brasileiro.

A crise energética decorrente da baixa vazão dos rios e a concentração em uma dada fonte que, de tempos em tempos exaure-se, pois é cíclica a perenidade dos rios, nos revela o lado ‘capenga’ do planejamento energético brasileiro.

Desde a fundação, digamos assim, do Setor Elétrico Brasileiro, assentado em berço esplêndido e à mercê da fonte hídrica, justifica-se a atual vulnerabilidade para o atendimento garantido da carga do sistema.

Diante desse cenário, o estímulo ao uso de outras fontes de energia surgiu lá atrás com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o PROINFA. Durante o período de 2018 a 2019, as fontes solar e eólica expandiram-se 92% e 155%, respectivamente. Ainda assim, ficamos na dependência da fonte hídrica.

Temos também a biomassa, importante fonte de energia, proveniente de resíduos de origem animal ou vegetal que podem ser convertidos em biocombustíveis. São exemplos de biomassa: resíduos urbanos, lixo, restos de florestas, biocombustíveis, carvão vegetal, etc. Atualmente, a geração de eletricidade decorrente do uso desses insumos é de 8,8%. Dos 9.453 empreendimentos, 584 são empreendimentos à biomassa, capazes de gerar o equivalente a 15.704.950,45 kW.

Em um país de extensão territorial, pergunto-me: por que o Brasil não projetou a constituição de sua matriz energética assentada no uso desses insumos que são abrangentes e abundantes no país?

Resposta: primeiro por sermos um país de extensão territorial e a distribuição desses insumos ocorrer de forma variada. Segundo, a logística desses insumos é dispendiosa para as localidades onde estão sediadas as usinas térmicas a biomassa.

O bagaço de cana-de-açúcar constitui o principal insumo utilizado para a geração de eletricidade e a maior parte das usinas térmicas que o utiliza está situada na região sudeste, mais especificamente no estado de São Paulo.

A saída para que se possa evitar futuros solavancos no setor elétrico decorrentes da oscilação hídrica seria o Brasil pensar seriamente em colocar sob a prancheta a possibilidade de expandir de forma mais veemente as usinas à biomassa no futuro. A expansão dessas, com certeza, traria maior segurança energética ao país. Ademais, renda para as regiões longínquas situadas mais distantes dos principais centros consumidores.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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