Direto de Montreal, Canadá
Quando o premiê da província do Quebec, François Legault, preocupado com a disseminação da variante Ômicron, disse em 30 de dezembro de 2021: “Nossos especialistas nos dizem que existe o risco de não sermos capazes de tratar todos aqueles que precisam nas próximas semanas” foi o código para endurecer, ainda mais, as regras em favor do distanciamento social.
Foi assim que o governo proibiu jantares e reuniões fora de casa, reduzindo o número de participantes para 6 pessoas de dois endereços e até 20 em varandas abertas, de até três endereços diferentes.
Como meio coercitivo o governo da província do Quebec impôs medidas mais restritivas que o de outras províncias, como Ontário (onde fica a cidade de Toronto e as Cataratas do Niágara). Foi assim que em Quebec ficou determinado toque de recolher entre 22h e 5h da madrugada, além de multas pesadas que variam de US$ 1.000 a US$ 6.000 para quem desobedecer (o que em reais varia entre 5 e mais de 33 mil).
Na manhã do dia 10 de janeiro acordamos quando o sono acabou. Li no “Diário de Notícias”, de Lisboa, que “É o vírus que manda, não somos nós” e que “Sinais de alarme multiplicam-se pela Europa”; que o setor econômico prevê mais de 17 mil perdas de postos de trabalho por consequência das falências esperadas de restaurantes, bares e discotecas em Portugal; que os EUA lideram novamente os casos de morte por Covid-19 e que Chipre está detectando a variante “Deltacron”, fusão da Delta com Ômicron.
Segui procurando notícias boas e notando serem raras, até perceber estar olhando pelas janelas abertas de três dias passados. Dei um “F5” e vi que o New York Times noticia que pela primeira vez um coração de porco geneticamente modificado foi transplantado para um homem, e com sucesso. Uauuu! Definitivamente, oficializamos o “espírito de porco” e parece que a coisa não é ruim como por milênios andamos insinuando.
Notícias assim mostram que temos que seguir a vida sem nos render. É vencer ou vencer, inclusive essa maldita pandemia e as malditas medidas dos malditos políticos que por todo o mundo, insistem em fabricar malditas dificuldades para vender soluções estúpidas e procrastinadoras para resolver o simples.
No Brasil de 2022, ano eleitoral para a presidência da república, pode se preparar para testemunhar a estupidez de candidatos, a estupidez de cabos eleitorais e discípulos brigando até com a “cega Maria” para provar que o esquerdista, direitista ou centrista de sua preferência será o próximo salvador da Nação.
É neste contexto que temos vivido, aqui no Canadá, essa tremenda e deliciosa experiência de inverno extremo em tempos de exceção imposta pela pandemia de Covid-19 e suas variantes, que, de fato, não é um tempo muito favorável para viagens ao exterior. Mas viver é preciso, sob pena de deixarmos todo o controle para o vírus! Convenhamos, não dá, né?!?
Então, já quase na hora do adeus, após 40 dias na província de Quebec, divididos entre Montreal e Quebec-City, ora hospedados em casa de minha filha, ora em “Airbnb”, ora em hotel, e faltando somente dois dias para voltar ao Brasil voltamos às ruas da cidade para dar os últimos “likes”.
Saímos em direção à BanQ, a bem frequentada biblioteca da cidade (coisa rara nesse mundo de tanta gente avessa à leitura) para devolver o livro que tomei emprestado.
Na porta o aviso de que a partir de janeiro fechará mais cedo (às 19h) até que a pandemia permita. Por segurança gravei um vídeo enquanto colocava os livros no guichê de devolução. Em seguida pusemos no “Google Maps” o nome da companhia de celular com a qual contratamos o plano para os dias de viagem. Era hora de pagar os débitos e cancelar as “linhas” para não sair do Canadá com o nome “sujo”.
Demos mais de 13 mil passos pelas ruas, já que também fomos agendar o exame de Covid-19(o mais simples custa 56 dólares canadenses por pessoa), para apresentar às autoridades brasileiras, no regresso que já batia em nossa porta.
A última atividade, já no início da tarde, foi buscar um lugar para almoçar. Andando pelas ruas não há como não sentir um pouco de compaixão de algumas pessoas e também de empresários. Há muitos mendigos e sem-teto suplicando por 1 dólar para comprar uma bebida ou comida. É possível, também, ver inúmeras vitrines e portas de restaurantes com o aviso de “fermé” (fechado) ou de liberação somente para comprar e comer na rua ou em casa.
Eu, doido pra me debruçar sobre a comida à mesa do restaurante e usar a lei do Carcará, lá do meu sertão nordestino, ou seja, o “pega mata e come”, tinha que em todo o tempo ler nas vitrines, a “misera” de um tal de “TAKE OUT”, daqui, “TAKE OUT”, dali, ou seja, “retirar e levar” pra comer fora, já que nos restaurantes e bares está proibido.
Me revesti mentalmente do gibão-de-couro, a armadura impenetrável do nordestino que enfrenta os moinhos de vento da Caatinga, e soltei um “que se dane, esse tal de TAKE OUT”! Lily sorriu para o personagem nordestino e disse: – Ambrósio! Sorrimos juntos…
Para proteger os “coro” do frio de 18, já à espera dos 23 com sensação de 36 graus negativos, do dia seguinte, começamos a buscar um restaurante em que pudéssemos sentar à mesa e almoçar.
Entramos no shopping center por nome “Complexe Desjardins” na Rue Saint-Catherine e por uns minutos desfrutamos do aquecimento. No inverno extremo é um tal de esquenta e esfria, esquenta e esfria, que não sei como a carne da gente não apodrece feito a carne dos nossos outros animais coirmãos, que agente come.
Vimos que um consumidor ao sentar por breves segundos em um banco atraiu dois seguranças que o repreenderam, ou seja, é comprar e “vazar”. Fui a um dos restaurantes do tal “TAKE OUT”, enfrentei a fila de distanciamento social, comprei duas marmitas e fomos para a rua buscar abrigo para tentar comer a comida antes que o frio se antecipasse e devorasse seu calor.
Felizmente e por tantas vezes que viajei e até estudei por alguns meses em Nova Iorque, apreendi esse aspecto bacana da sociedade deles que, não está nem aí para viver de aparências. A “casca” que se dane! O lema por lá parece ser algo que há um bom tempo eu e Lily adotamos, ou seja: estamos em campanha pela vida. Você cuida da sua que eu cuido da minha.
Foi assim que em plena praça pública nos deliciamos com nossas marmitas. Um grupo de turistas aproximou-se com suas sacolas e quando nos viram comendo com a cara para o sol, quase como um “Sheriff” do velho oeste, sacaram suas marmitas e se debruçaram sobre elas, com a mesma gana que o zodíaco diz que taurinos se debruçam sobre comida.
Agora, até que o frio nos chame outra vez, é viver os últimos dois dias e seguir a bússola do J QUEST: “Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou…”