A partir da próxima quinta-feira (8), oito empresas habilitadas poderão propor valores para a criação de um projeto executivo de infraestrutura urbana e parque público na área do antigo Aeroclube de Pernambuco, localizado no Pina, Zona Sul do Recife. A área foi fechada em março de 2013 em função da construção da Via Mangue. O Aeroclube foi transferido para Paulista, na RMR.
O destino dos 20 hectares que abrangem o terreno ocioso é parte de uma disputa entre as classes média e pobre da Cidade, de acordo com a doutora em Geografia e Ordenamento Territorial pela Sorbonne Nouvelle, em Paris, Danielle Rocha. “A luta para que habitacionais sejam construídos naquele local é antiga, vinda principalmente de moradores do Pina, do Bode e de Brasília Teimosa”, analisa.
Por outro lado, a classe média reivindica um parque. Solicitação que, claramente, não dirime as necessidades da população sem teto, apesar de guiar o Recife na direção do conceito de cidade compartilhada. “Quem está nas palafitas, sem dúvida, prefere os habitacionais. Quem tem onde morar, quer o parque. De qualquer maneira, o espaço é suficientemente grande para abranger as duas demandas”, julga.
Só depois de captados os recursos financeiros para o projeto é que ele será planejado, de fato. Os vieses ambientais e habitacionais estão garantidos, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Infraestrutura do Recife. Por meio dela, a Prefeitura explica que só é possível pensar no trabalho concreto depois de saber exatamente quanto poderá ser gasto. Garante ainda que o projeto passará pela questão da sustentabilidade e prestação de serviços para a Cidade”, assim como contemplará o problema da habitação social.
O vereador do Recife Wanderson Florêncio, que há mais de um ano trabalha pela criação de um parque verde na Zona Sul, aposta em mais de sete hectares voltados para o parque. Segundo ele, o próprio prefeito do Recife, Geraldo Julio, lhe fez essa promessa. Florêncio também acredita que não há nenhum problema numa ocupação mista, com parque e habitação integrando o terreno total.
“Essa é a última oportunidade de termos um parque verde na Zona Sul. Um espaço enorme pertencente à Prefeitura é a chance de fazermos algo planejado. Porque normalmente os empreendimentos surgem sem um preparo”, analisa o político. “É possível, de acordo com diversos especialistas, ligar o parque à praia e criarmos um grande cinturão verde.”
Um projeto de ocupação mista agrada também quem luta por moradia social na Capital. Mas é imprescindível que as comunidades do entorno do terreno sejam ouvidas, segundo os líderes dos movimentos.
“O auxílio-moradia do Recife está inchado, não é de hoje que eles dizem. O problema precisa ser resolvido. Debates com a comunidade, não apenas um ou outro líder, precisa ser feito. Afinal, quando o projeto – mesmo que contemplando a área habitacional – estiver pronto, quem serão os beneficiários?”, questionou a advogada do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Maria José do Amaral. O déficit habitacional da cidade é de cerca de 300 mil recifenses.
Fonte: Folha PE
Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco