Autor: Elly Brayner
Salve-me!
Sem feto não há mãe,
Sem filho não há pai.
Sem feito não há amor.
São fatos, e eu feto.
Sendo desfeito pelo desconforto de não ver a vida vir.
Querem acabar com a vida antes da vida nascer.
Me instalam e me espremem.
E eu exprimi daqui de dentro um grito de medo, um eco de dor e o nojo de uns que vivem fora da bolha.
Enquanto eu, borbulho
Quem me fez de fato feto?
Salve-me!!!
Porque esse feito?
Sou feto, descrente, ateu da vida,
Dê-me um tempo além de meses aqui.
Dê-me o direito de crer e de querer ver frente a frente os meus ampultadores.
Dê-me o direito de ouvir acusações e só depois, me levem a tortura.
Me multilem, se caso ficar provado meu crime!
Mas, dê-me o direito de defesa!
Quem me fez feto?
Salve-me !!!
Agulhas e perfurações perturbam meu sono
Deixe-me fujir daqui pra algum outro lugar…
Um cestinho a navegar ou até os braços de um tigre feroz
Salve-me!!!
Deixe-me comemorar o dia dos pais com vocês
E se eu não tiver pai?
Deixem pelo menos eu ser pai.
Leve-me aos rios,
talvez eu tenha a sorte de encontrar um herói,
Alguém que não me traia, que não me entregue as leis torturantes.
Eu não sou uma patologia,
só sou feto.
Como eu vim parar aqui?
– Não sei, Não lembro!
Não sei se por amor, dor ou crueldade,
Só sei que existo e sou feto,
Fato presente,
Eu sou o futuro.
Na bolha em que borbulho, qualquer um já borbulhou
E conseguiram sair daqui,
até os meus torturadores.
Então!
Deixe-me ir.
Deixem-me atravessar a fronteira da ingratidão
E poder dar pelo menos os primeiros passos
Até um dia poder dizer ” PaPa”
Não aborte a ideia de me ver falar
Deixe-me ir de fato.
Sou o sangue que flui nas veias que me leva.
Sou revestido pela fortaleza de quem me trouxe até aqui,
Sou feto.
Preciso de uma saída, antes que eu sangre.
Estou com medo, o que vão fazer comigo?
Socorro,salve-me!!!
Aínda borbulho
Sou fluxo na margem da loucura humana
Salve-me!
Não aborte o seu direito de me ver,
Não aborte o meu direito de ver o tempo me matar.
Salve-me!!!