No dia 8 de agosto se comemora o Dia do Pedestre, mas não há muito o que celebrar no Recife. A capital pernambucana, desde 2016, é a terceira cidade onde mais morrem pedestres no trânsito – só perde para São Paulo e Rio de Janeiro. O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, somente no período entre 2016 e 2017 (ano mais recente), 285 óbitos. O dado alerta para a necessidade de um olhar mais atencioso para aquele que é o elemento mais frágil das vias públicas.
“Eu estou até hoje com medo de andar na rua. Olho mil vezes sempre que tem carro”, conta a acompanhante hospitalar Lili Figueiredo, de 48 anos. Ela cuidava de Ivanice Felix de Lima, a cadeirante idosa que foi atropelada, em plena luz do dia, no cruzamento da Avenida Agamenon Magalhães com a Rua do Paissandú, em 13 de junho. “É revoltante ela ter morrido daquela forma. Terrível. Ainda mais saber que foi algo feito por uma autoridade”, desabafa Lili, referindo-se ao subtenente do Exército Paulo Bezerra Cavalcanti Junior – era ele quem dirigia o veículo que atravessou o sinal vermelho e atingiu Ivanice na faixa de pedestres.
A idosa fazia hemodiálise no Recife e estava voltando, na companhia de Lili, para a cidade onde morava: Carpina, na Mata Norte do estado. “Eu fiquei desesperada, em pânico. Se não tivessem me puxado, eu também teria sido morta. O pessoal fazia buzinaço para ele parar e o homem seguiu numa boa, como se nada tivesse acontecido. Se pelo menos tivesse parado, socorrido, mas não”, revolta-se.
“Nesse local onde aconteceu o atropelamento, tinha todos os recursos: faixa de pedestre, ilha de travessia, fiscalização eletrônica. Tinha um volume grande de pessoas atravessando a rua e, mesmo assim, o veículo foi avançando o semáforo. E ainda que não tivesse um sinal, o pedestre tem sempre prioridade”, acrescenta.
Mas Simíramis pondera quanto às soluções. “Deveríamos ter educação para o trânsito obrigatória nas escolas. Estamos vendo que formar o adulto não dá muito resultado. A pessoa sempre sabe quando está cometendo uma infração, mas como não se conscientiza, acaba praticando”, opina Simíramis.
“E não é só o condutor, o pedestre também. Não há noção de fragilidade. Quando a gente é condutor, reclamamos do pedestre. Mas também se vê falta de atenção dos transeuntes, andando no meio da rua, atravessando fora da faixa ou fora de passarela”, pondera.
Lili, acompanhante hospitalar de Ivanice, espera que a legislação fique mais dura para crimes de trânsito. “São vários e vários acidentes e eles só suspendem a carteira. Tinha era que perder, porque isso vai continuar sempre”, aponta, em relação ao fato do subtenente só ter tido a habilitação suspensa. “Que nesse Dia do Pedestre, fique a reflexão para os motoristas tomarem mais cuidado”, pontua.
Fonte: Diário de Pernambuco
Foto: Bruna Costa/Esp. DP