Finalizado o período de férias escolares, pais e mães podem ter mais dificuldades em controlar tempo de uso
Depois do período de descanso, os alunos das redes particular e pública de ensino retornaram às salas de aulas. Com o tempo mais livre durante as férias, em muitos lares, é comum que o uso de telas tenha aumentado para manter as crianças e os adolescentes entretidos. Mas, com a chegada do segundo semestre, o maior tempo de uso dos tablets, smartphones e televisores pode representar um desafio adicional na retomada da rotina escolar e também alerta sobre a necessidade de dosar a presença digital do público infanto-juvenil para que, além da aprendizagem, a saúde física e psicológica não seja prejudicada pelo excesso de telas.
A psicóloga do Serviço de Orientação Educacional e Psicológica (SOEP) do Colégio GGE, Fabiana Santos, alerta para os riscos da exposição excessiva. “Quando não há o cuidado quanto ao tempo e conteúdo das telas, a criança pode desenvolver dependência, ter o sono afetado, um comportamento mais irritado e um limiar de frustração mais baixo, pois é estimulada a ter recompensas imediatas, não tendo tempo para vivenciar a frustração que é necessária para o amadurecimento emocional”, explica. A especialista chama atenção ainda para os prejuízos fisiológicos, como problemas visuais, auditivos e musculoesqueléticos.
Mas as ameaças à saúde, bem-estar e a segurança das crianças e dos adolescentes com as telas não param por aí. “Existe também o risco de exposição nas redes sociais. Uma criança ou adolescente ainda não tem condições de avaliar as relações que se expõe, sendo alvo fácil para pessoas mal intencionadas. Além disso, as relações pessoais podem ser prejudicadas, uma vez que a criança está perdendo a oportunidade de aprender com brincadeiras com outras crianças, a negociar, a lidar com conflitos, a exercitar e vivenciar a empatia”, acrescenta Fabiana Santos.
A psicóloga esclarece que a interferência das telas nas relações pessoais acontece porque elas limitam a troca afetiva, deixando a criança passiva recebendo informações, não a estimulando a corresponder. “A tela não pode validar suas evoluções, não há um espelho que possa refletir expressões e afetos, que impulsione o corpo ao movimento, assim acabam deixando de lado o ato de brincar ativamente e ser estimulada em seu aperfeiçoamento mental”, defende a psicóloga. O rendimento escolar também pode se tornar deficiente não apenas pela diminuição do tempo e do interesse dedicados aos estudos, mas, também, pelo desenvolvimento de um pensamento acelerado e da busca por uma recompensa imediata ao esforço.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre dois e cinco anos o uso de telas deve ser de, no máximo, uma hora por dia. Entre seis e dez anos, o tempo é de duas horas por dia, no máximo. Entre 11 e 18 anos, o tempo pode ser de duas a três horas por dia, mas nunca “virando a noite”. A orientação é que as telas nunca acompanhem, independente da idade, os horários das refeições e que nem sejam usadas sem a supervisão constante de um adulto. A SBP não recomenda o uso das telas antes dos dois anos, mesmo que de forma passiva. “Entendo este cuidado, considerando que, na fase de 0 a 2 anos, o bebê necessita, primordialmente, de contato presencial com outro ser humano para seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e social. É nesta vivência que a criança desenvolve a linguagem, conhece o mundo e se percebe como ser humano também”, finalizou.