Direto de Brasília, DF
Originalmente, na Grécia antiga, “Política” nasceu com o conceito de ser “Ciência ou Arte de governo”.
Mas, governo de quê e de quem? Primeiro é preciso entender que não haveria política sem aglomerações de pessoas. Você pode falar de autopolítica ou autogoverno, mas não é este o sentido empregado pelos fundadores e sistematizadores da Política, como “ciência ou arte de governo”.
Aristóteles, em sua clássica e famosíssima obra “As Políticas”, que há séculos quase ninguém lê, diz que o ser humano é um “animal cívico”, ou seja, ele foi talhado para viver em cidades, juntamente com outros seres humanos.
É aqui que o conceito de Política como “ciência ou arte de governo” se dirige à “polis”, ou cidade, a que Aristóteles conceitua como “um conjunto de cidadãos”. Ora, sendo a cidade um conjunto de cidadãos, a Política torna-se uma ciência ou arte para governo dos cidadãos na sua cidade e em todos os demais ambientes que se somam à equação do viver em sociedade.
Aristóteles diz que “Não só há mais beleza no governo do Estado do que no governo de si mesmo, mas (…) tendo o homem sido feito para a vida social, a Política é, relativamente à Ética, uma ciência mestra, ciência arquitetônica.”
Todavia, quem lê meu livro. “O dilema da lealdade dividida entre Nação e Estado e as doutrinas sociais que governam o mundo” consegue identificar que toda a “pureza” sonhada para a Política como governo do povo e da “polis” foi contaminada pelos vícios humanos de forma tal, que surgiram até mesmo escolas e palestrantes como os Sofistas e Sofistas Eristas, que treinavam quem desejasse conquistar cargos políticos, com intuito de “se dar bem”.
Tudo era feito com extrema maestria pelos Sofistas, classe de professores que inculcava valores materiais e o utilitarismo perverso na cabeça dos alunos, de modo que o fim de todo o treinamento era conquistar o cargo político para governar para si e para protegidos.
Neste sentido, se Aristóteles havia pensado a Política como ciência ou arte em que o governante servia o povo, os Sofistas a “reprogramaram” como a ciência ou arte em que os governantes se servem do povo para autobenefício e de seu partido. Foi esta ciência e arte que se espalhou pelo mundo até os dias de hoje, em que governantes se servem do povo ao invés de servir ao povo, como originariamente se pensou que seria a Política.
Para embelezar o conceito do termo “político” alguém pode conceituá-lo como “estadista” ou como “homem público”, já que lida com a “Coisa Pública” como dizia Sócrates. A sua vez, Platão conceituou “político” como “a pessoa filiada a um partido político”. O fato é que todas essas definições e conceitos o colocam na posição de quem governa sobre um determinado povo e o vincula à figura existencial de uma cidade-estado e, evolutivamente, como membro do Poder Executivo e Legislativo dos modernos Estados Democráticos de Direito.
Um político não foi nem jamais será um artesão como um engenheiro, um agricultor ou um pedreiro. Ele nada constrói com as próprias mãos, porque a política também pode ser conceituada como “arte abstrata que vive de discursos formais, nos quais predominam promessas futuras e incertas”. Afinal, o que um político constrói? Se de um lado é possível dizer que ocupa cargos e mandatos públicos para fazer planejamento estatal, o faz mal e quando algum desses planos de governo funciona, em parte é porque quem os executa são funcionários públicos técnicos.
Apesar de lidar somente com o abstrato o fascínio pela Política está no fato de que é pelo exercício de seu poder que são criadas Casas de Moedas e Bancos Centrais dos diversos países; é no exercício da Política que se administra o recebimento de tributos e demais contribuições financeiras que o povo paga; é por seu exercício que se estabelecem regras de funcionamento do Setor Privado, que se autoriza o nascimento de ONGs (Organizações Não Governamentais), em que algumas funcionam como se fossem uma espécie de “algorítimo” dirigido à histeria social.
A Política, ao final, proporciona ao político poder, fama e dinheiro, elementos capazes de perpetuar a ele, seus familiares e protegidos numa vida de riquezas e dignidade sócio-econômica completamente diferente daquela que o comum do povo leva. Em um cenário destes, ser político seduz não pela missão de servir ao povo, mas pelo desejo de se servir do povo e dos recursos do Estado.
Eis o porquê de quase todo político querer controlar a Mídia em suas múltiplas versões. É com ajuda dela que cria seus “algorítimos” de controle e de proteção própria, inclusive da histeria coletiva que dirige as massas de eleitores incautos que, para defender sua ideologia, semelhantes a um sociopata passivo-agressivo, atacam quem pensa diferente.
Apesar de parecerem divididos por partidos e bancadas, os políticos são extremamente corporativistas. Nos bastidores impera a Teologia Política em que o Estado é Deus, as Leis são Mandamentos, todos são “irmãos de fé” no propósito de ter poder, fama e dinheiro, e todos ensinam o povo a ser devoto e cultuar uma determinada personalidade, ao redor da qual fabricam mito e idolatria, a ela atribuindo “poderes mágicos e misteriosos”.
Ao final, os políticos podem até ser carismáticos, ou seja, sedutores, mas empáticos jamais o são! Observe que nenhum deles se coloca no lugar do miserável, do pobre e do classe média. Quando você verá político acordando cedo para armar banca na feira, para pegar ônibus ou metrô para trabalhar em fábricas, comércio, etc? Nunca!
Entre os políticos as estratégias são as seguintes:
a) polarizar a sociedade em inúmeras facções e guetos, pois dividindo é que se conquista; criar e disseminar ideologias novas como os tais “lugares de fala”, em que o “humano” se dissipa entre guetos, cores, origens e procedências;
b) marginalizar a inteligência, como meio de evitar riscos de perda do Poder Político. Isto o fazem criando e disseminando a ignorância em massa, já que um povo debilitado em conhecimento e doutrinado com cultura inútil para de ouvir entendimentos de especialistas livres de ideologias “fabricadas”. Um povo assim é presa fácil.
c) a partir de toda a doutrinação citada, a Nação fica “loteada” por facções e candidatos líderes de grupos e guetos “raivosos” que formam uma Nação adoecida pelo rancor e pela raiva.
d) marginalização da inteligência, pois dividido o povo, a missão se completa com a apresentação do “governante mitológico” ou “candidato deus”, elevado a este posto e “purificado” pelo voto da massa que marginaliza a inteligência, independente de ser analfabeta e de quantos diplomas possua.
Talvez esta história não tenha fim, porque este estilo falido de Política Formal e Democracia Formal é o que cabe no já doutrinado consciente popular brasileiro, em que as coisas que parecem, nada são além de ilusão, e, ainda assim, tornaram-se a “estrela que brilha no céu de cada um”.
A única garantia desse processo é que um povo dividido e doutrinado pela raiva é prato cheio para ser dominado por qualquer lado, em que nenhum lado é o lado do povo. Este mesmo povo que, “feliz” com seus “representantes” segue infantilmente confundindo Poder Judiciário com Justiça e muletas ou “auxílios” que deveriam ser paliativos, com desenvolvimento e progresso.
Por tudo que foi dito, posso dizer que a Política e Democracia Formal tem lá suas virtudes, mesmo que sejam malignas, pois se com sua expertise consegue habilmente manipular um povo para que caminhe na corda banda da miséria e pobreza, tendo abaixo o abismo da indignidade social e econômica, e ainda assim esse povo se sente feliz com seus candidatos, então, só me resta perguntar: Política é a arte de quê, mesmo?
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