Sidelcy Ludovico

Pierre Cardin e a democratização da moda

Faleceu na última terça-feira (29), o famoso designer de moda Pietro Costante Cardini, mais conhecido como Pierre Cardin, nascido em 1922, em San Biagio di Callalta, Itália, distante 35 minutos de Veneza.

De uma família de origem humilde, composta por agricultores que emigraram para França, Pierre Cardin era considerado o último nome da moda do século XX ainda vivo e precursor de muitas ideias inovadoras e revolucionárias, motivo de escândalo em sua época, por causa de coisas hoje consideradas simples como as silhuetas direitas e desenhos circulares, formas esculturais, uso de novos tecidos, cores vivas, peles falsas, meias coloridas, botas de cano alto etc.

Possuía orgulho de sua condição humilde e de sua trajetória, de filho de migrantes italianos pobres e com sete irmãos para um mundo de luxo e riqueza declarando, em 2017, em uma exposição sobre a imigração italiana, intitulada Ciao Italia!, realizada no Museu da Imigração, em Paris, França, que ‘se tivesse de recomeçar, voltaria a fazê-lo com muito entusiasmo.’

Pierre Cardin foi um dos primeiros a vislumbrar a importância da moda para a economia e para o sustento das famílias mais humildes e democratizou-a ou popularizou-a criando o prêt-à-porter.

Se diferenciava dos outros designs porque anteviu a morte da alta-costura e, por isso, desenhava pensando em todo o tipo de consumidor, tanto a duquesa de Windsor como as pessoas das outras classes sociais.

Mas o que é alta costura? O que é prêt-à-porter? A denominação alta-costura é uma criação francesa que só pode ser concedida ou retirada por falhas em cumprir regulamentos necessários e por uma comissão designada e nomeada pelo Ministério da Indústria da França. Isso mesmo! Na França até hoje o Estado regulamenta a indústria da moda.

Por isso o local onde situa-se o ateliê de alta-costura deve corresponder a um padrão arquitetônico pré-determinado contendo uma loja no térreo e uma sala para atendimento personalizado dos clientes.

Além disso, para os modelos serem considerados de alta-costura exige-se que as marcas criem peças que serão produzidas apenas sob encomenda em ateliê que tenha ao menos 15 funcionários e 20 trabalhadores técnicos em período integral.

Todas coleções criadas pelas marcas de alta costura devem ter pelos menos 25 modelos originais, incluindo, peças para uso durante o dia e durante à noite, serem apresentados ao público, aos clientes e a imprensa, no calendário da semana de moda de alta-costura, que ocorre geralmente em janeiro e julho, e cada marca deve ter ao menos um perfume.

Ademais, para uma marca poder participar de uma semana de moda há uma série de exigências, estabelecidas pela Federação de Alta-Costura e Moda da França, fundada em 1868, criada com a finalidade de estimular e preservar os padrões da cultura e da moda francesa, a serem cumpridas.

Isso porque a Federação de Alta-Costura e Moda da França preside as semanas de moda feminina e masculina de alta costura e de prêt-à-porter ou moda pronta para vestir ou ready to wear.

O prêt-à-porter foi criado por Pierre Cardin, em 1959, em virtude da crise do pós-guerra, o que o levou a ter a ideia de fazer uma coleção para a Printemps, uma loja de departamentos de Paris, França, na qual a clientela poderia entrar, escolher a peça e levar para casa.

Assim a diferença entre a alta costura e o prêt-à-porter resume-se basicamente que no primeiro estilo as roupas são criadas exclusivamente para clientes específicos e as peças devem cair como uma luva no seu consumidor e raramente precisa-se fazer ajuste já no segundo estilo as roupas são modificadas para se adaptarem ao corpo do cliente.

Essa iniciativa inovadora de Pierre Cardin contrariou o Sindicato de Criadores de Moda, também conhecido como Chambre Syndicale, que o expulsou acusando-o de vulgarizar a alta-costura e tirar valor do luxo. Contudo, dez anos mais tarde ele voltou ao Chambre Syndicale e se tornou o seu presidente. 

Todavia, apesar de ter criado o prêt-à-porter Pierre Cardin não foi o seu grande promotor, o que em nada tira o seu mérito e brilhantismo, mas sim Yves St. Laurent, um outro grande nome da história da alta costura.

Para alguns o prêt-à-porter fez com que a alta costura morresse, visto que ganhou força no século XX tornando a alta costura um espaço conceitual usado pelas marcas de luxo apenas para mostrarem sua tradição e competências em áreas específicas da moda.

Isso porque a resposta positiva dos consumidores ao prêt-à-porter provocou uma grande revolução no mundo fashion e redefiniu para sempre a indústria da moda, haja vista que as grandes marcas passaram a desenvolver coleções em grande escala caminhando assim de mãos dadas com a indústria têxtil e com as lojas de departamento.

Entretanto, para outros o prêt-à-porter veio na verdade preencher uma lacuna que havia entre a classe média e os grandes estilistas permanecendo a alta costura viva ao longo da história e por meio de estilistas famosos que continuam atendendo de forma particular e exclusiva a alguns clientes mais afortunados sempre que são requisitados.

Pierre Cardin também foi o precursor da moda masculina ao criar uma coleção em 1960 e um dos primeiros design a pensar no conceito de moda unissex.

Além de design de moda era um homem de negócios e construiu um grande império no mundo da moda com mais de 850 licenças de produtos, 500 fábricas e 200 mil pessoas que empregava, direta ou indiretamente, em todo o mundo.

Perde a moda um gênio que a democratizou e popularizou mudando para sempre o seu destino.

 

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Imperatriz das Imperatrizes

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