Neste delicado momento pelo qual passa a economia mundial, em virtude da segunda onda da pandemia do novo coronavírus, no qual novos fechamentos das atividades não essenciais, o chamado lockdown, tem sido adotados em diversas partes do país, não há como negar que todas as iniciativas para se manter um negócio da moda são bem vistas e válidas, inclusive, as dotadas de inovação.
Segundo o dicionário inovar é palavra oriunda do latim “innovare”, sendo a soma de ”in” (em) mais “novus” que significa “novo” ou “recente”.
Para o escritor Leonardo Vizeu Figueiredo inovação constitui-se em um processo pelo qual os empreendedores exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente.
Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização econômica intergovernamental fundada em 1961 para estimular o progresso econômico e o comércio mundial, composta por 37 países membros, a inovação pode ser interna e externa e classificada em de produto, de processo, de marketing e organizacional.
A inovação de produto é uma introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. A inovação de processo pode ser conceituada como a alteração ou melhoria de um método de produção ou distribuição para a redução de custo ou melhoria de qualidade. As inovações de produto e de processo são consideradas inovações tecnológicas.
A inovação de marketing relaciona-se à abertura ou à reposicionamento de mercados ou produtos voltadas para impulsionar as vendas e as inovações organizacionais são as alterações de métodos de trabalho, organizacionais ou práticas de uma empresa que ocorrem pela busca de melhorias e aumento da lucratividade da empresa.
As medidas de inovação nem sempre requerem grandes investimos um exemplo disso, inclusive, consequência da pandemia, foi a migração da moda para às plataformas digitais, haja vista que os desfiles das coleções têm acontecido com transmissões online, ou seja, sem público.
Outra medida de inovação adotada pelas grandes marcas de moda, e que a moda brasileira também tende a adotar, teve início no Nova York Fashion Week, esteve no Londres Fashion Week, encerrado no último dia 23, e com certeza será adotado no Paris Fashion Week, que se encerrará no dia 9 de março, é a presença delas no Instagram, em videogames, vídeos do TikTok e agora no Clubhouse. A plataforma do TikTok por exemplo criou, inclusive, o #TikTokFashionMonth, uma espécie de semana de moda própria, com transmissões de desfiles e apresentações ao vivo.
Às vezes medidas simples que não exigem inovação são adotadas pelas grandes marcas de moda e tem resultados excelentes como a utilizada pela francesa Hermès, que não pratica liquidações e investe apenas 5% em publicidade, metade do usual de suas concorrentes, tendo sequer departamento de marketing, que aliou fabricação própria, tradição e moda atemporal, qualidades para alguns imbatíveis em momentos de incerteza econômica, o que a fez ter resultados excelentes mesmo durante o estado de calamidade pública determinado pela pandemia do novo coronavírus.
Nesse contexto, nem sempre a indústria da moda conseguirá valer-se de iniciativas inovadoras, mas haverá casos em que medidas simples e arrojadas poderão ser adotadas com intuito de manter e conquistar um consumidor de moda cada vez mais exigente.
A advogada Débora Maciel Tavares nos apresenta outro exemplo dessas medidas no caso da empresa By NV, fundada por Natália Vozza, uma blogueira nascida em Campinas, no Estado de São Paulo, formada em moda, e que diante da pandemia participou de ações sociais, como a doação de tecidos para fazer máscaras, “vaquinha online”, para arrecadar dinheiro para a compra de respiradores para os hospitais, e distribuição de álcool em gel para os consumidores através do seu e-commerce.
A empresa também precisou adotar novas ações para o seu negócio principalmente na parte econômica sendo necessária decisões rápidas como o redirecionamento das mercadorias das lojas dos shoppings centers para sua loja própria de rua, para que as vendas pudessem continuar, além de implementar um novo canal de atendimento a distância via WhatsApp.
Assim, a sua loja de rua tornou-se um centro de distribuição de onde saíam as roupas vendidas pelo WhatsApp e na qual aquelas vendedoras que se sentiam à vontade iam para separarem as mercadorias, que para incentivo e pelo risco foram melhores comissionadas. Contudo, as vendedoras que ficavam de casa vendendo e alternando turnos permanecendo assim 100% home office recebiam de um caixa único da loja podendo todas se ajudarem nas vendas.
De acordo com Débora Maciel Tavares, diferente da Hermès, a By NV possui uma cadeia de 43 fornecedores diretos, fora as multimarcas que vendem as suas roupas, situação que envolve muitas pessoas e muitos fornecedores menores e por isso a marca entendeu que não poderia parar mantendo a cadeia ativa durante o fechamento da primeira onda do coronavírus não travando a produção recebendo 100% da peças, além de tomar novas medidas para a estruturação de criação da nova coleção acreditando assim no seu potencial fato que ensejou a continuidade das vendas, tanto no atacado como no varejo, via e-commerce.
Conclui-se que medidas de inovação nem sempre requerem grandes investimentos às vezes medidas simples, de inovação ou não, podem fazer grande diferença na gestão de uma empresa de moda, ou não.