Direto do Rio de Janeiro-RJ.
Guerra entre o clero e as universidades
Como já escrevemos em artigos anteriores sobre o surgimento da Universidade de Paris, focaremos na luta por seu controle.
O ensino até então estava dominado pelas ideias metafísicas de Platão, tão defendidas por Santo Agostinho. Para ambos a existência do universo e do homem é fruto de lembranças, reminiscências de vidas passadas, de um mundo espiritual no qual as ideias se formavam e aos poucos eram gotejadas no consciente.
Na Grécia antiga tais divagações de Platão foram causas para que Aristóteles, seu discípulo, se afastasse e fundasse sua escola (o Liceu), na qual buscava entronizar o homem como senhor de seu destino e de seu próprio universo. Platão era um sábio de ideias transformadoras da realidade, mas também de muita superstição metafísica.
Aristóteles, como vimos dizendo em artigos anteriores, era prático e antropocêntrico. Entendia que a vida está aqui na Terra para ser vivida e que ela e tudo que lhe rodeia deve ser alvo de investigação científica para que seja compreendido. Aristóteles via no homem a fonte e a solução dos problemas humanos. Estas ideias fariam dele, por muitos séculos, um herege para o papado da Santa Igreja.
Sobretudo as corporações de mestres, mas também, as “nações” de alunos da Universidade de Paris desejavam exercer o direito de voltar a estudar e ensinar a Filosofia Natural de Aristóteles e, como esta questionava a metafísica espiritual de Platão e Agostinho, o fim do século XII viu o início de uma verdadeira “guerra” pelo controle da Universidade de Paris, que era sujeita à autoridade do bispo da cidade e, em consequência, aos papas que regeram a Igreja e a Política entre 1159 e 1216: Alexandre III, Lúcio III, Urbano III, Gregório VIII, Clemente III, Celestino III, Inocêncio III, todos
Nessa efervescência de disputas pelo poder, o medo do clero era que fossem encontradas explicações aristotélicas, ou seja, explicações racionais e naturais para surgimento do universo. Algo assim constituía uma ameaça à verdade do dogma religioso sustentado exclusivamente pela fé.
A luta pelo controle das universidades é ferrenha e se arrasta até hoje, mas durante todo o período medieval a disputa ocorria entre a Igreja e o Estado secular. Havia papas que apoiavam o pensamento universal ou secular de certas universidades, quando estas, distantes de Roma lhes pareciam úteis para combater a classe política de Estados que ameaçavam a influência papal. A universidade de Paris foi útil a essas disputas.
No século XIII, em 1210, por exemplo, o bispo de Paris condenou as obras de Aristóteles por meio de um Edito ou Decreto, determinando que seus livros sobre filosofia natural não podiam ser lidos nem em público nem em particular e que quem o fizesse seria excomungado da Igreja, o que significava, também, condenação ao fogo do inferno.
Ocorre que em Paris já se travava uma verdadeira batalha entre as faculdades de Teologia e de Artes, como desenvolveremos no próximo artigo.
Continua…