DR JUDIVAN VIEIRA

O PROCESSO DE EDUCAÇÃO E ENSINO NA IDADE MODERNA: A Renascença e sua influência no processo educativo (Parte 1)

Direto de Brasília-DF.

Você consegue imaginar um cenário caótico, apocalíptico? Assim estava a Europa na fase de transição entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna(entre 1450 e 1453). Os marcos históricos não são absolutos mas para a maioria dos historiadores a Idade Média termina na metade do século XV e o final dessa era, foi marcado por uma espécie de escuridão intelectual e social.

Como vimos dizendo nos artigos anteriores, o fim do século XII foi palco de uma “guerra” pelo controle da Universidade de Paris, que era sujeita à autoridade do Bispo de Paris e, em consequência, aos papas que regeram a Igreja e a Política entre 1159 e 1216: Alexandre III, Lúcio III, Urbano III, Gregório VIII, Clemente III, Celestino III, Inocêncio III.

Não bastasse esse quadro em que a fé temia o avanço da ciência e apostava na ignorância intelectual para não perder sua hegemonia, surgiu a peste negra ou peste bubônica, que estima-se haver matado entre 75 a 200 milhões de pessoas em razão da inexistência de antibióticos, que somente viriam a ser descobertos em 1928, por Alexander Fleming. Possível dizer que a simples existência da Penicilina teria salvo quase todo aquele contingente de mortos, fato que, racionalizado, valorizaria a convivência entre ciência e fé.

Salvo em algumas trincheiras de resistência como nas poucas escolas Catedralícias, monásticas e nas universidades, reinava o desprezo pelo processo educativo e de ensino. Associado a este cenário o caos criado pela peste negra criou o cenário perfeito para a consciência ortodoxo-religiosa que cria na vingança divina e no apocalipse derramado em forma de doença, sobre a humanidade.

Assim estava o velho mundo, no qual pessoas morriam de calafrios, dor de cabeça, febre acima de 39ºC, dores variadas no corpo, náuseas e vômitos e convulsões. Para muitos faltavam somente cair rajadas de fogo apocalíptico para exterminar o mundo.

Na mente do clero que dominava o processo educativo e de ensino, o grande conflito residia em abraçar a metafísica platônica e sobretudo neoplatônica, encarando tudo que somos e sabemos à partir das recordações ou reminiscências de nossa alma, ou abraçar o pragmatismo antropocêntrico aristotélico que apostava na capacidade humana de racionalizar a si e ao universo no qual vive. Tivesse a curiosidade e espírito científico de Aristóteles sido valorizado sempre, a probabilidade que a ciência já tivesse dado saltos de desenvolvimento era enorme.

Esse embate, levou a inúmeras batalhas entre a Teologia e a Filosofia, entre o clero e os mestres que ensinavam o humanismo clássico. Mas, neste embate que durou até o fim do Medievo o clero sempre saiu vencedor, e a ciência padeceu ora pelo incêndio de livros, ora pelas fogueiras nos quais cientistas foram queimados.

Como às vezes o que salva o presente e o futuro é o conhecimento do passado, foi redescobrindo os clássicos gregos e latinos, que um novo homem emergiu desse caos profundo.

Foi redescobrindo velhos métodos de ensino e aprendizagem, como os de Marco Fábio Quintiliano, escritor e professor de Oratória do Século I d.C., que sistematizara em definitivo o processo educativo e de ensino romano e adotara como fundamentos a abolição da disciplina por meio de castigos físicos, o encorajamento e a premiação, que o fim da Idade Média trouxe algum alento para o renascer de um novo ser humano e de uma nova civilização.

A Renascença ou Renascimento, como movimento cultural e social traria o ressurgir do humanismo que buscava formar o “homem bom”, o homem moral e eticamente consciente e em seguida o humanismo cívico, que buscava formar o homem “bom cidadão”, tudo isto objetivando criar e desenvolver um modelo de organização sócio-política no qual o homem pudesse voltar a estudar os clássicos e instigar seu espírito científico.

Esse humanismo que valoriza corpo e intelecto humano é a marca da Renascença. Ele tem como um de seus objetivos despertar a consciência histórica do passado como forma de compreensão do presente e projeção de um futuro melhor para a humanidade. É sem dúvida antropocêntrico, porque tem o ser humano como centro do universo e senhor de seu destino e por isto, talvez tenha sido visto como um movimento pagão e ameaçador da fé.

Embates seguiriam sendo travados até o fim da Idade Moderna que começa por volta de 1453 e só termina com as grandes revoluções de Virgínia (1776) e Francesa (1789). Em todo este período se digladiariam ferrenhamente no Ocidente, a Igreja, as escolas e as universidade, sem que nenhuma dessas instituições tenha sido capaz, até hoje, de criar a fórmula concreta para a felicidade e a domesticação final do homem, que continua sendo o lobo de si mesmo.

Esse era o cenário na Idade Medieval. De um lado a Igreja querendo manter o dogma, a imutabilidade da paternidade da criação sedimentada em um Deus onipresente, onipotente e onisciente e de outro lado a ciência com seus livros, textos e cientistas que, por não serem feitos de titânio ou outro super material resistente ao fogo, queimavam fácil nas fogueiras das vaidades e das paixões das forças contrárias ao evolucionismo.

A esse cenário caótico e humanista da Renascença dedicarei alguns artigos, buscando resumidamente a compreensão do papel do processo educativo e de ensino em nossa jornada.

Até breve.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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