Direto de Madri-ES.
A linha de tempo na qual nasce e se solidifica a identidade, o processo educativo e de ensino do povo hebraico
Para compreender melhor a tradição do processo de educação e ensino hebraico você deve ter em mente o monoteísmo-teocrático do povo hebraico(o mesmo ocorre com o islamismo), ou seja, a crença e o governo absoluto de um só Deus sobre um povo, que lhe pertence e a ele somente deve adorar e servir.
Tal conhecimento deve levar o leitor a entender que em um processo de conhecimento com tais características, não há cérebros que possuem uma ideia, mas uma ideia que possui o consciente e o inconsciente coletivo do povo.
Deve saber, também, que ao passo que a tradição grega imigra da tradição para a especulação crítico-filosófica, com romanos que seguem a mesma linha de conhecimento, ainda que buscando convergir o conhecimento para a aplicação prática, o povo hebraico dirige todo seu processo de conhecimento sobre a origem do ser humano e o funcionamento Cosmo com fundamento em uma “revelação” divina. Nesta relação de conhecimento, Deus é a força independente de toda dependência, o motivo determinante de tudo, a causa de todas as causas.
Em uma Nação com visão científico-especulativa é possível aceitar a religião como um dos elementos formadores da cultura independente do regime político ser ou não democrático. Todavia, em uma sociedade monoteísta é necessário quem a estuda entender que a religião é continente da qual cultura passa a ser corolário ou subproduto que a ela deve moldar-se à “revelação” divina.
Originariamente os hebreus eram formados por 12 tribos nômades, servindo a um Deus exigente e único. Jeová ou Javé jamais aceitou concorrência de outro deus, como acontecia nas sociedades politeístas (egípcios antigos, assírios, caldeus, greco e romanos, por exemplo). Também não aceitava qualquer representação antropomórfica sua (fosse com corpo de homem e cabeça de animal ou qualquer outra figura). Com Javé é assim, ou você crê sem vê ou não pode dizer que tem fé.
Ele é a causa primeira, o Supremo Bem, ou como diria Aristóteles, o “Motor aristotélico do universo”, quem sabe até o tal “Deus desconhecido”, citado no livro bíblico dos Atos dos Apóstolos (17:23).
Fato é que se um reino dividido contra si mesmo não pode prosperar, as 12 tribos se desentendiam constantemente na disputa pelo poder e pela maior ou menor liberalidade com a qual “serviam” a seu Deus. Um Deus que de início regia somente as tribos e que aos poucos tornou-se universal.
Não bastou as divergências nem o sofrimento que levou ao Êxodo do Egito, por volta do ano 1.448 a.C., pois as 12 tribos seguiam desunidas, tão desunidas quanto é a sociedade brasileira em que uma parte do povo está sempre torcendo para que o novo governo, seja ele qual for, não dê certo e assim possam reassumir o poder pelo poder e jamais pelo bem da Nação, como expliquei na série anterior de artigos que escrevi nesta Coluna.
As divergências religiosas e políticas entre as 12 tribos em relação à aceitação da mistura com os caldeus, assírios, babilônicos, Medos, Persas, siro-fenícios, chamados de cananitas e suas seis tribos ou Nações: heteus, jebuseus, fereseus, heveus, girgaseus e amorreus, não tardaria por “rachar” a unidade e a força política e econômica do povo hebraico.
Por volta do ano 930 a.C., os hebreus do Reino do Sul com capital e Jerusalem e formado por duas tribos (Judá e Benjamim) fizeram uma coalizão com os assírios para derrotar o Reino do Norte (com capital na cidade de Samaria).
Enquanto as dez tribos de norte foram aos poucos se misturando com outros povos, a reforma religiosa do Século VII a.C., (por volta do ano 700) faz triunfar para as Tribos de Judá e Benjamim a aliança final entre o monoteísmo e a identidade da Nação.
O Reino do sul extraía da Torá, sua lei e costumes. A educação e ensino de cada integrante daquela sociedade seguia um currículo pré-determinado e imutável, pois estabelecido pela causa das causas, o criador de todas as coisas. Moisés, havia sido apenas o portador das regras a serem adotadas universalmente para a formação “Caráter Nacional”.
Com esse direcionamento religioso, o Reino do Sul optou por definir um processo educativo e de ensino fundamentalista, ligado aos ensinamentos dos profetas, que eram tidos como verdadeiros patriotas, nacionalistas e devotados à TORÁ (os 5 primeiros livros da bíblia chamado pelos cristãos de Pentateuco) e assim estruturou seu processo até sucumbir ante os exércitos do Império Babilônico comandado por Nabucodonosor e seu general Nebuzaradã, cuja duração estendeu de 609 à 584 a.C.
A escravidão babilônica provocou crise de identidade e perguntas que qualquer escravo cedo ou tarde há de fazer: O que Sou? Quem sou? Afinal, é fato que uma das consequências da escravidão é a coisificação do “humano”.
Se de um lado o cativeiro babilônico levou à negação da fé em alguns, fez com que outros percebessem a necessidade de se reorganizar e de reestruturar o processo educativo e de ensino. É nesse período que o Reino do Sul, sem um templo para cultuar seu Deus decide ir além da educação e ensino somente por meio do culto nos lares ou culto doméstico e cria a Sinagoga, como uma escola com um corpo de mestres e de alunos.
Independente do retorno do povo hebraico à Jerusalem e reconstrução do templo que ocorreria décadas após o cativeiro babilônico(relatado no livro de Neemias), as sinagogas seguiriam como Escolas para treinamento de líderes, enquanto o templo ficaria como lugar de culto. Entre um e outro, as Sinagogas ou escolas se mostraram perenes como instrumentos do processo de educação e ensino, porque o Templo seria destruído no ano 70 d.C e o povo da diáspora seria espalhado pelo mundo, restando as sinagogas para dar seguimento em seu processo de educação e ensino, como seguiremos relatando nos próximos artigos.
Continua…