Há um ditado no mundo da moda de que as “roupas não são apenas roupas, mas sim veículos de expressão” e isso ficou muito claro na posse do presidente americano Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris que ocorreu na última quarta-feira (20).
O presidente Joe Biden e Doug Emhoff, marido de Kamala Harris, escolheram peças do estilista americano Ralph Lauren, um dos designs de moda ícone do século XX, para comparecerem ao evento.
A vice-presidente Kamala Harris optou por um conjunto de casaco e vestido roxos, do jovem estilista Christopher John Rogers, que já vestiu Rihanna, Cardi B e a ex-primeira-dama Michelle Obama, e um colar de pérolas desenhado pelo design de joias porto-riquenho Wilfredo Rosado.
Lilian Pacce, jornalista brasileira, ao descrever a roupa da vice-presidente Kamala Harris nos esclarece que “as pérolas são um símbolo da irmandade à qual Kamala pertence, a Alpha Kappa Alpha, e a cor violeta (ao lado do branco) remete às sufragistas que lutaram pelo direito ao voto da mulher no começo do século passado”.
A primeira dama Jill Biden optou por um conjunto “blue green” ou azul petróleo da design americana Alexandra O’Neill, fundadora da marca Markarian, para muitos resgatando o sentimento de esperança sufragista. Alexandra O’Neill costuma vestir artistas famosos de Hollywood como Kate Hudson, Constance Wu, Felicity Jones, Kerry Washington, Laura Dern, Priyanka Chopra e Thandie Newton.
Posteriormente em outra solenidade, Jill Biden usou um casaco marfim e vestido com flores bordadas combinando, desenhado pela uruguaia Gabriela Hearst, que oferecia um significado especial, de acordo com um comunicado à imprensa, haja vista que as flores foram bordadas no vestido simbolizando todos os estados e territórios dos Estados Unidos levando cada flor 04 horas para ser bordada.
Isso sem contar outras personalidades que compareceram à solenidade como Michelle Obama, ex-primeira-dama, que vestiu sobretudo, blusa de gola alta, calças largas e um cinto com fivela de ouro, do jovem design americano Sergio Hudson, Lady Gaga que optou por um look vermelho desenhado por Daniel Roseberry, com direito a um broche de pomba dourada, Jennifer Lopez que surgiu toda de branco, cor vista como uma homenagem ao traje típico das sufragistas, optando por peças da Chanel, e a jovem poeta Amanda Gorman que usou blusa branca, saia preta e sobretudo amarelo além de um headband vermelho da Prada, para ler seu poema na posse.
Não é novidade o uso político que essas personalidades fizeram de suas roupas constituindo-se esse uso no chamado fashion diplomacy ou diplomacia fashion conceito que segundo especialistas ganhou força e importância na metade do século 20 quando o quadro geopolítico mundial mudou em virtude do pós-guerra passando a ser influenciado pela globalização dos costumes.
Ainda segundo os especialistas a partir desse período os grandes líderes mundiais adotaram a diplomacia fashion para transmitir mensagens por meio das peças de roupas sem precisarem emitir sequer uma única palavra.
Muitos destacam ainda que a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1925-2013) talvez tenha sido a mulher que instaurou a ideia da diplomacia fashion como ferramenta de poder em nossa história.
Destaco a diplomacia fashion ou a função política das roupas apenas para chamar a atenção para a importância da proteção das marcas de moda, haja vista que o design de uma joia ou de uma bolsa por exemplo podem ser protegidos pela nossa legislação desde que cumpram os requisitos legais existentes.
E esse registro torna-se importante porque só quem o realiza, ou seja, só quem registra sua criação de moda no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) usufrui da proteção conferida pela lei podendo afastar o uso por outra pessoa que não tenha realizado o mesmo procedimento.
Contudo, as diversas inovações tecnológicas tem feito com que as criações da indústria da moda exijam cada vez mais e mais proteção ficando por vezes ultrapassada aquela conferida pelo registro de marca, de desenho industrial ou de patente, pois essas inovações às vezes envolvem diversos outros aspectos como o uso por uma criação da moda de uma simples cor, por exemplo, protegida pelo direito americano ou estadunidense, como decidido no caso do solado vermelho dos sapatos da marca Christian Louboutin, e não amparada por nossa lei.
Diante das inovações tecnológicas já experimentadas e das que muito provavelmente ainda surgirão, em virtude do momento em que a sociedade está vivendo por causa da pandemia do coronavírus, as normas que protegem as criações da indústria da moda com certeza precisarão serem revistas para tornarem-se mais eficazes, haja vista que isso constitui-se em fato extremamente importante para garantir o fomento do setor, a segurança jurídica dos criadores, a concorrência mais saudável possibilitando assim a inserção de mais empresas brasileiras no cenário mundial da moda segmento esse extremamente internacionalizado.