Direto de Brasília-DF.
Um currículo pode ser definido como: documento com dados pessoais, formação escolar, experiência profissional, idiomas que o autor domina, cursos realizados durante a vida, com o objetivo de amparar acesso ao mercado de trabalho, pretensão a um emprego, ou vaga em agências de educação e ensino.
Esse é o currículo explícito, visível e obrigatório que ao entrar na idade produtiva temos que fazer para pleitearmos uma vaga de emprego, por exemplo.
Então, o que é o currículo oculto? Para o escritor Tomaz Tadeu da Sila, “O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial, explicito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes”. (Silva, 2010, p. 78)
Currículo Oculto é uma ferramenta que contribui na construção do currículo real, norteando temas adversos que não estão inclusos formalmente no planejamento do professor. Essas são variáveis sobre as quais os profissionais do ensino não têm controle, porque a informação que o aluno recebe da família, em regra, está gravado em seu cérebro como sendo a verdade das verdades. Aquela verdade filtrante, à qual as demais devem se submeter e por ela ser racionalizada. Essa verdade é uma espécie de prumo, padrão, esquadro, ou seja, as demais devem estar em equilíbrio com ela, como condição de aceitação ou rejeição.
Tal prumo, esquadro, ou padrão é formado por condicionamento econômico, político, religioso. Importa lembrar que a situação econômica da família se relaciona imediatamente com sua condição social: em que área mora, a quais instrumentos de desenvolvimento tem acesso, com quem os membros da família se relacionam e, sobretudo, as oportunidades que dispõe para suceder bem na vida acadêmica e econômica.
O condicionamento político diz respeito às convicções e ideologias que predominam no convívio familiar. Isto implica em uma criação ideologizada segundo princípios capitalistas, socialistas, comunistas, cooperativista, etc. Filhos que nascem em famílias ideologizadas politicamente costumam seguir as ideologias defendidas por seus responsáveis. Podem ser mais fundamentalistas ou mais liberais e incluir em seu modo de vida discussões sobre gênero, meio ambiente, direitos e liberdades civis.
O condicionamento religioso, por óbvio, não existe em famílias ateias, mas nas demais é o mais rigoroso e difícil de ser superado porque uma divindade não aceita concorrência e, quando aceita, ela domina uma área da vida do fiel, em que a regra é que nenhuma outra pessoa ou deus pode influir.
Todos esses condicionamentos são recebidos na família e esta é a primeira escola de cada aluno. A segunda e poderosa escola é a sociedade. A rua, o rádio, a TV, o cinema, e hoje e para o futuro, mais que qualquer outra, a Internet e suas redes sociais.
A terceira escola a educar e ensinar cada nova geração de alunos é o Estado. Criação fictícia, porém materializada em seu currículo oficial adotado por cada uma de suas agências de ensino, tais como escolas, colégios, faculdades, universidades, instituto, etc.
Quando o aluno chega nas escolas traz consigo toda uma carga de informação que forma as trilhas e setores de seu cérebro. Essas informações raramente combinam com as informações que receberá em sala de aula. Leva um tempo para que seu cérebro aprenda a separar a informação e exemplos que absorve em sua família, das informações científicas que o Estado espera que absorva em sala de aula. As informações e exemplos obtidos em casa escrevem o currículo oculto de cada um.
Esse currículo às vezes é reescrito e muitas vezes desconstruído ao longo da vida, mas algumas informações permanecem arraigadas e acompanham a vida daquele aluno que um dia há de se tornar professor, orientador educacional, diretor de escola, juiz, advogado, engenheiro, etc.
Assim, algumas pessoas e profissionais criam compartimentos secretos nos quais guardam convicções que nem a ciência pode rompê-las. Que informações são essas? Dogmas e tabus, crenças das quais não se separa! Sempre que está entre uma ou outra situação em que ciência e sua crença parecem conflitar lança mão desta não só para se guiar, como para guiar às demais pessoas.
É assim que professores, orientadores educacionais, diretores de escola, políticos, governantes e outros, ao assumir o papel de “mestres” terminam por guiar seus orientandos com o currículo oculto que trazem consigo. Nesse currículo oculto não há a dúvida da ciência, só as certezas e absolutismos dos dogmas e tabus. É devastador o resultado. Afinal, a ciência depende exclusivamente da dúvida, pois não se aprende respondendo, mas perguntando.
Qual o resultado a médio e longo prazo para a sociedade quando os agentes do ensino aniquilam ou contrariam secretamente a ciência, em razão de seu currículo oculto?
O resultado a médio e longo prazo é o que vemos em nosso mundo. Miséria, pobreza, subdesenvolvimento, escravidão, preconceitos mil, tudo ancorado na falta de respeito pelas diferenças. É insano não perceber que de diferenças são feitos nossos multiversos…