Direto de Brasília, DF
Vou deixar a biografia, discografia e prêmios para outros veículos de comunicação. Erasmo era músico, poeta, e como tal, gostava de ouvir, contar e recontar histórias que vivia e que a vida lhe inspirava.
Então, na pessoa do compositor e cantor Doctor Judi, fã incondicional desse que foi um dos maiores letristas do mundo(gravou mais de 600 e registrou 643 músicas no ECAD), vou contar algumas histórias que o envolvem, mesmo que jamais tenha sabido delas em vida.
Para começar, sábado passado fui com minha esposa(fã ensandecida de Roberto/Erasmo, daquelas que não admite perder um sequer) assistir ao show de Roberto Carlos em Brasília, e vimos e ouvimos ele cantar a música “Amigo” e oferecê-la a Erasmo. Provavelmente pela última vez com o amigo vivo.
Mas, antes, bem antes, em 2001, quando viajei pela primeira vez à Grécia e por lá me perdi, decidi parar em um bar. Pedi uma bebida que nem sabia o que era, já que o cardápio estava todo escrito em grego e o garçom não falava inglês. Senti uma tremenda “porrada no peito” com o gosto forte de café e muito álcool. Peguei o copo e sentei á mesa que ficava na beira da pista dos carros que iam e vinham sem parar, enquanto degustava pensamentos.
Em um desses momentos em que o corpo cansado se entrega ao leve torpor do álcool e a alma divaga, fui arrebatado pela música “Sentado à beira do caminho”. É isto mesmo! Erasmo Carlos estava tocando ali no barzinho, na terra de Sócrates, Platão, Epicuro e Aristóteles. Chorei…
Essa cena ficou na minha cabeça e tempos depois, quando escrevi meu romance de ficção e espionagem “O Gestor, o Político e o Ladrão”, o personagem principal desaba em lágrimas na narrativa do livro, em que escrevo:
“A saudade do Brasil agrediu seu coração ao mesmo momento em que o sistema de som de um dos barzinhos da Ribeira começou a tocar Erasmo Carlos. A música descrevia aquele momento de sua vida de forma tão real, que parecia trilha sonora especialmente composta para ela. Sua alma se embriagou com cada palavra e se deixou levar na correnteza da poesia que saltava da canção: ‘eu não posso mais ficar aqui a esperar, que um dia de repente você volte para mim. Vejo caminhões e carros a passar por mim, estou sentado à beira de um caminho, que não tem mais fim…”.
São muitas as gerações que o amam. Como músico fui e seguirei sendo seu fã. Vai com Deus, Erasmo.
Doctor Judi e Judivan Vieira