DR JUDIVAN VIEIRA

LUGAR DE FALA: POSSO, OU NÃO, FALAR? (PARTE 5)

Direto de Brasília-DF.

A consciência não pode ser privatizada por terceiros. O que alguém pensa, como fruto do raciocínio lógico e crítico pode ser opinião ou ciência, e ambos estão amparados pelo direito ou liberdade de expressão, bastando para livre veiculação que a manifestação não seja ofensiva aos costumes e à lei.

Há homens que temem somar à causa feminista por medo do discurso raivoso de algumas mulheres, que por se julgarem detentoras exclusivas do lugar de fala contra o machismo, usam a violência verbal como método de defesa e ataque.

Não tenho dúvida que às vezes medidas extremas são necessárias para agir em legítima defesa de si e de alguma causa. Mas, a beligerância constante mata amigos e inimigos debaixo do mesmo fogo. Lutar sozinhas contra homens machistas empoderados há milênios, não é inteligente.

Algumas mulheres e homens usam a teoria do lugar de fala, com a pretensão de criar “reserva de domínio” para si ou para suas instituições. Essa prática guetifica, ou seja, cria muros dentro dos quais o discurso, por mais eloquente que seja, é como manequim de vitrine. É humano só na aparência.

A mudança de cultura exige que o convencimento seja multitudinário, ou seja, só mudando a mentalidade geral, com todos convencendo a todos e todos se deixando convencer de determinada verdade, é que paradigmas novos substituem os antigos, e costumes novos tomam o lugar de tradições antigas e nocivas.

Afinal, falamos tanto em evolução, mas parece que alguns campos da vida queremos que sejam intocáveis. Será que é por isto que na região do Rajastão, Índia, ainda hoje os pais estão amparados por lei para matar as filhas, logo no nascimento? Constatou que é mulher, é imprestável e pode matar! Que cultura! O triste é ver tanta gente louvando tais costumes e tradições como o supra sumo da evolução espiritual.

Lugar de fala, lugar de nascimento, lugar de origem, são todos delimitadores físicos ou psíquicos que enfeixam, encerram, de alguma forma. É certo que toda e qualquer pessoa possui um lugar de origem e um lugar de nascimento. Onde você nasceu é uma pergunta presente em documentos que nos qualificam civilmente. De onde você procede pode ser motivo de muita discriminação.

O Estado através de seus órgãos e também o setor privado, por seus cadastros de crédito, querem saber a cidade e o estado de onde viemos. Essa divisão geopolítica ajuda nos censos que são feitos para controle social, há milênios. Por volta do século XV antes de Cristo, já havia registro de censos demográficos.

Lugar de origem ou procedência tem seu lado chique e seu lado humilhante. Por exemplo, quem aprecia vinho sabe que são controlados pelo lugar de origem. Importa ao apreciador ler o rótulo e ver se é francês e, se, na França, é um “Bordeaux”, como importa saber se é de origem italiana, portuguesa, etc.

 

Por outro lado, quando se trata de pessoas, no Brasil, se você é nordestino é discriminado por alguns tolos da região sudeste, tanto quanto se você é sulista nos Estados Unidos, termina por ser taxado sempre de “caipira”, por quem mora em Nova Iorque ou em Los Angeles. Às vezes o lugar de procedência de uma pessoa atua como as estrelas que Hitler mandava afixar no peito dos judeus.

 

Estar aberto ao conhecimento pode dilatar nossa percepção individual. Quanto, o somatório dessas percepções individuais pode contribuir para melhorar nosso derredor? Devemos valorizar mais a estratificação, a guetificação ou a universalização do conhecimento e de nossa humanidade?

 

Se decidirmos valorizar mais a “guetificação”, então, melhor parar de criticar Hitler e aceitar que tinha razão, em seu lugar de fala pela “raça superior”; melhor aceitar como benéfica a estratificação norte-americana, que separa a sociedade em brancos, negros e latinos, cada um dentro de seu “gueto”, com permissão para transitar, mas com a liberdade que os muros sociais estabelecem e que todos fingem não ver a linha divisória que os separa.

 

Certa vez eu passava por um parque, em Londres e vi um palanque no qual estava escrito “Speaking Corner”, que é não passa de outra forma de “lugar de fala”. Perguntei a um Londrino que por ali passava e respondeu que aquele era um lugar de fala para qualquer pessoa que tivesse uma mensagem importante a ser transmitida.

 

Eis porque entendo que o seu e o meu lugar de fala deve ser a defesa do humano, e, se fala com conhecimento do tema, então, não se intimide com quem quer que pretenda ter reserva de domínio. Quem assim age pode inclusive ter dezenas de diplomas, mas, como diz o dicionário da Real Academia Espanhola, “é um burro carregado de letras”.

 

Você tem uma mensagem importante a ser transmitida em prol da humanidade, então fale!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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