Direto de Brasília-DF.
Como dissemos nos artigos anteriores, o mês de agosto é emblemático. Em 9 de agosto comemorarmos o Dia Internacional dos Povos Indígenas, no dia 14, o mundo comemora o fim definitivo da Segunda Guerra Mundial, com a rendição do Japão.
Ainda, no dia 28 de agosto, 1963, ocorria a significativa e retumbante caminhada de Martin Luther King, sobre Washington, liderando mais de 250,000 pessoas, principalmente negros, que protestavam por justiça social, como trabalho, e pelos direitos civis. Os negros que seguiam Luther King, acalentavam o sonho da liberdade. Desejavam serem vistos e tratados como seres humanos. Nada além do óbvio que segregacionistas tolos insistem em não ver!
Também no mês de agosto, aconteceram os Jogos da XVII Olimpíada, em Roma. Foi nestes jogos que o jovem negro, Muhammad Ali, nascido Cassius Clay, em 1942, Lousville-Kentucky, passou de uma simples estrela, ao quilate de “Sol”, ao ganhar a medalha de ouro, no Boxe.
Três dias após voltar como herói para casa, nos EUA, sempre com a medalha no peito, pensando que seu feito abriria portas para que ele e os demais negros fossem tratados como seres humanos, foi com seu irmão mais velho a um restaurante e lá ouviu que não seria servido, porque aquele não era lugar para negros. Nesta época era comum nos EUA, placas indicando que o restaurante ou lanchonete era só para brancos(WHITE ONLY).
Há várias estórias para o caso, mas, o próprio Muhammad Ali conta em sua biografia que foi à principal ponte de sua cidade natal, Lousville (altamente segregária), tirou a medalha do peito e a jogou no rio Ohio. Em entrevistas disse:
“Eu me sentei e pedi um cafezinho e um cachorro-quente. Quando a atendente respondeu que eles não serviam negros, respondi: e eu não como negros, então me traga o café e o cachorro-quente!“
Nos Estados Unidos os negros foram importados da África em condições piores que mercadoria, pois estas eram cuidadas para não perecer. Na história dos negros afro-americanos não falta preconceito, exploração e humilhação. Foi necessária uma guerra civil entre os estados do Norte contra os do Sul, para que o país começasse a dialogar sobre serem os negros humanos, ou não. No Brasil, esse diálogo tardou ainda mais.
A considerar a lógica equivocada de quem defende a representatividade, como ponto principal do “lugar de fala”, somente os negros poderiam ter protestado e lutado pela abolição da escravidão. Ao invés, foi a voz de um branco, Abraham Lincoln, que fez a diferença, desde sua candidatura em 1860, sua eleição e luta antiescravagista, que durou até o fim de seus dias.
O presidente Lincoln quis estar no lugar de fala dos negros, mesmo colocando em xeque seu governo, prestígio, e a própria vida. Seu intuito era defender a humanidade, e não a negritude, porque todas às vezes que tolamente enfatizamos outra condição qualquer, que não o reconhecimento do valor maior, que é o fato de sermos HUMANOS, reforçamos argumentos superficiais que admitem discussões classistas e étnicas, todas dominadas por pessoas e grupos aos quais interessa dividir, para conquistar.
Todo humano merece respeito, eu sou humano, logo, mereço respeito, diria a lógica crítica aristotélica aplicada ao presente caso. Não cabe discutir se sou indígena, “gay”, homem, mulher, negro, pobre. Eis que sou humano! No nascer e no morrer, o que importa mais que isto? Pense! O que importa mais que isto?
O século XXI tem esse grande débito para com a verdade. Precisamos aprender a reconhecer a pequenez e superficialidade de discussões de correntes ideológicas de esquerda, direita e centro político. Aliás, a pandemia da COVID-19, está humilhando a humanidade inteira. Nunca fomos tão humilhados e, por um ser tão pequeno!
Quem foi doutrinado a pensar ideologicamente está selado como cavalo, usa cabresto como burro, e age como jumento, que vai tão-somente para onde a mão de seu dono dirige. Vai para a esquerda, burro! Agora, vai para a direita, burro! Quem comanda nem sequer precisa falar, basta puxar o arreio para um lado ou outro, que o burro segue o comando.
As diferenças devem ser respeitadas porque delas é feito o universo e representam nosso pluralismo estético, mas não podem ser postas como fatores determinantes da liberdade, desenvolvimento, ou qualquer outro direito que deva ser atribuído a um ser humano.
Um ser humano deve ter todo e qualquer direito respeitado, pelo simples fato de ser humano, e não porque é branco, negro, pardo, amarelo, indígena, “gay”, homem, e mulher. O lugar de fala, quando apontado como um direito de uma única pessoa ou minoria, é uma falácia apropriada para ser cultuada por tolos e segregacionistas disfarçados de libertários.
Se sou humano e vejo um humano sofrer, não importa de onde venho, minha religião, a cor da minha pele. Ali, quem sofre é um ser humano merecedor de que eu fale em defesa de sua liberdade, porque isto é fraternidade, solidariedade e empatia. É compaixão de um irmão humano, por outro irmão humano.
Há algo mais profundo que falar em igualdade, quando eu e você defendemos quem sofre. Com tal atitude migramos do discurso vazio e nos colocamos no lugar de fala do oprimido, demonstrando que pensamos e agimos com a consciência de que entendemos que ser humano, é o gênero e que o restante é pluralismo estético existencial.
Eis porque o branco, Abraham Lincoln, em certo ponto, quis se juntar aos negros em defesa de sua humanidade, e não de sua negritude. Ele enxergava muito além da cor da pele, do lugar de origem, da condição social e econômica. Foi assim, que em 1 de janeiro de 1863, cumpriu sua promessa de campanha ao emitir o Ato de Emancipação, que declara livre todos os escravos, inclusive dos estados sulistas, os confederados, cujos ricos ingleses brancos enxergavam negros como animas de tração, de suas riquezas.
Nosso lugar de fala deve ser, sempre, o lugar de humanos que falam contra a injustiça, onde quer que ela ocorra contra qualquer de nossos irmãos humanos que compõem essa aquarela que perfaz nosso pluralismo estético.
Todo ser humano merece respeito. Sou ser humano. Logo, mereço respeito! Essa deve ser a verdade à qual devemos viver abraçados.
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