Direto de Brasília-DF.
Não desejo que pense que sou contra religião. Em Latim, religião significa religação(religare) do homem com seu Deus. Ela é um elemento de psicossocialidade que também ajuda a formar o caráter bom ou ruim do ser humano. O que não é aceitável é negar a ciência.
No ano de 204, ainda antes da morte de Clemente seu discípulo Orígenes vai iniciar uma revolução no conceito estrutural do processo educativo, mantendo-o ligado à tradição greco-romana.
A estrutura educacional oferecida por Orígenes, um cristão intelectual, mantém no currículo a Gramática, Retórica, Astronomia, Geometria, Literatura, Aritmética e Filosofia, como preparatório para a Teologia, ou seja, para o estudo das Escrituras bíblicas e evangélicas, cuja completude abrangeria três campos distintos: o espiritual, o histórico e o literário.
O viés do processo educativo e de ensino de Orígenes tem o homem intelectual como um modelo, a igreja como uma escola e Cristo como o paradigma ou exemplo a ser seguido, além de ser a teleologia(o fim) de todo o processo ou o modelo para cada cristão.
Esses pensamentos de Clemente e Orígenes serão bombardeados por outros pensadores, dos quais se destaca Tertuliano (160-220 d. C) que desde a cidade metrópole de Cartago apregoava que ao cristão a fé era suficiente e que a Filosofia não passava de uma rede de contradições e intrigas.
Para Tertuliano, o cristão deveria enviar seus filhos para as escolas helenistas, mas através do culto doméstico e do ensino caseiro evitar a qualquer custo que os filhos dos cristãos assimilassem a cultura helênica.
Assim, o cristão deveria aprender ortografia, o alfabeto, o idioma grego, o latim, a filosofia e tudo o mais que representava “conhecimento secular ou mundano”, sem se deixar “levar” pelos prazeres ou tentações mundanas. Afinal, deveria ter em mente que seus livros textos eram as Escrituras Sagradas e que ela é a revelação final da sabedoria absoluta e final. Estava aí formado o currículo oculto, quase impossível de ser desconstruído.
Aliás, essa relação entre o conhecimento secular e o conhecimento divino, crendo ser este o fim de todas as coisas até hoje é o que se ensina nos templos das Igrejas cristãs, nas mesquitas, em sinagogas e em qualquer sociedade teocrática de crença fundamentalista, ou seja, você está no mundo, mas não é do mundo, mais ou menos como registra o evangelista João ao dizer:
“Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (João 15:19)
Este pensamento de que “estou no mundo”, mas não pertenço a ele, está relacionado com o ensinamento do evangelista João (5:19) de que “O mundo está no maligno” e que este “maligno” é o diabo, satanás.
Assim, na dicotomia de que o diabo é o eterno nêmesis(adversário e inimigo) de Deus, que induz a humanidade ao afastamento do divino por meio do pecado, o que resta é criar uma espécie de “bolha religiosa” na qual os fiéis caminham pelas ruas do Planeta Terra ou em breve pelo Planeta Marte sem se “deixar contaminar” pelas “coisas do mundo”. O entendimento cristão é que o pecado entrou no mundo pela “transgressão de Eva, que em tese teria também corrompido a seu marido, Adão.
O cristianismo absorveu da tradição hebraica o culto no lar como base do processo educativo e de ensino, no qual as famílias doutrinam a seus filhos que este mundo em nada é para comparar com a vida que os aguarda depois da morte, na “Jerusalém celestial” ao lado de Deus, Jesus Cristo e do Espírito Santo (uma santíssima trindade que aproxima o monoteísmo cristão, do politeísmo helênico).
Tempos depois, com o surgimento dos templos, o cristianismo criou o catecismo católico e muitos séculos depois, as eficazes “escolas bíblicas dominicais”. Ambas as escolas templárias possuem viés religioso e desde o princípio foram destinadas aos filhos dos fiéis, até que o dinheiro tornou-se o motor do desenvolvimento mundial e as diversas ordens cristãs resolveram investir pesado na construção de escolas “seculares” privadas, sob o disfarce de entidades sem fins lucrativos para lucrar muito e conquistar outra vitória, influenciar os filhos de membros de outras religiões que nelas matriculem seus filhos.
Ao final, o religioso é educado e ensinado nos cultos domésticos e templários, a se separar do pecado que há no mundo e em toda a sua ciência, de modo que o conhecimento sobre o homem e seu meio ambiente, tornam-se rivais do conhecimento sobre Deus.
Esse currículo oculto traz algumas informações dogmáticas que acompanham o ser humano por toda sua vida, tais como: a demonização do sexo; a cultura do medo de pecar, a segregação entre o santo e o profano, com profundos reflexos nas demais segregações sociais que adotamos; a culpa.
A culpa e o medo constituem a base do processo de educação e ensino religiosos. Neste caminho, é provável que uma multidão siga um psicopata que se diga arrependido, mas se negue totalmente a aceitar o ensino advindo de um cientista.
Essa formatação mental cria consciente e inconscientemente uma cultura que acompanha o religioso, como se fosse um currículo que formata toda a cultura e modo de pensar.
Tal currículo oculto segue fazendo estragos no processo educativo porque a maioria dos professores, orientadores-educacionais e outros profissionais do ensino vestem a roupa de mestres, tutores, pedagogos ou cientistas, mas levam no coração uma mensagem completamente diferente, ou seja, a mensagem religiosa na qual foram doutrinados e, assim terminam por ensinar a “ética de sua religião” enquanto simultaneamente marginalizam a ciência e seu método crítico e lógico.