Judivan Vieira: Em sua avaliação a dinâmica do ensino na socioeducação, ou seja, seu funcionamento em relação aos agentes de ensino e aos alunos é melhor adaptável à aula presencial ou on-line?
R: Com certeza a adaptação é melhor no presencial. No início de agosto deste ano os professores que já haviam recebido a vacina e tinham condições de voltar para sala de aula foram convocados a retornar com a regência presencial e com nosso retorno ouvimos vários relatos dos próprios socioeducandos de que no ensino remoto tinham dificuldades em assimilar os conteúdos, e que preferem aulas com a presença do professor(a).
Judivan Vieira: Como professora da socioeducação prefere o sistema presencial, on-line, ou o misto. Explique o porquê de sua preferência.
R: Prefiro presencial. Um grande percentual dos socioeducandos são discentes(alunos) em distorção em série e idade. A evasão da escola, a reprovação ou interrupção dos estudos em razão do cometimento de ato infracional, no tempo em que estudou, causa essa distorção. Presencialmente consigo identificar melhor as dificuldades no processo de ensino de cada um.
Algo que observei no ensino remoto é que o retorno das tarefas e atividades avaliativas, não têm a mesma qualidade do presencial.
Judivan Vieira: Considerando que a pandemia colocou em destaque o ensino a distância (EAD), acredita que tal sistema é eficaz na socioeducação, e em que medida?
R: Eficaz? Não! Porém, não deve ser desconsiderado em situações emergenciais como a que vivemos.
Judivan Vieira: Pessoalmente acredita que o método de ensino “livresco” baseado no “decoreba” com matérias curriculares atuais é eficaz, ou seja, produz os resultados desejados? Transforma vidas, ou essa questão de transformação de vidas está mais a cargo de quem recebe os ensinamentos?
R: Acredito que pessoas tem seu processo de cognição único. Uns aprendem melhor ouvindo, outros lendo, outros lendo e fazendo. Processos de memorização (decoreba) não podem ser considerados obsoletos na construção de um aprendizado. Pessoalmente, creio que que o ‘decoreba’ em matérias curriculares não ‘transforma’ vidas, mas, ainda assim, tal método de aprendizagem pode resultar em melhorias para os socioeducandos.
Acredito que a transformação de vida ocorre com o exercício do raciocínio crítico e reflexivo, aliados a práticas diferenciadas na vida de qualquer pessoa. Alunos da socioeducação não fogem dessa regra.
É importante ter em mente que o papel do Estado é fundamental na ressocialização de cada aluno infrator, como busca a socioeducação. Porém, conhecimentos objetivos que não contam com uma firme vontade pessoal não operam transformação de vida, pois como ensina o dito popular, “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Judivan Vieira: Se pudesse, incluiria quais disciplinas no currículo nacional e retiraria quais disciplinas atualmente existentes?
R: Incluiria disciplinas como: Ética e cidadania, Direitos Humanos, Educação financeira e Primeiros Socorros. Não retiraria nenhuma disciplina.
Judivan Vieira: Alunos da socioeducação não podem ter acesso a aparelhos tecnológicos por questões de segurança do Estado. Acha que existe um método ou providência que seria mais eficaz para a ressocialização e entrada deles no Mercado de Trabalho, ou a questão é decidida mais por eles mesmos ao aceitar ou rejeitar o que já se faz em seu favor?
R: Dentro da unidade de internação onde trabalho há parcerias com instituições como o SENAI, que oferta cursos profissionalizantes a aqueles que tem interesse. Pode parecer utópico, mas acho que se houvesse um programa em acompanhamento, que fosse responsável em garantir assistência de trabalho e empregabilidade a TODOS os egressos, independente de quererem ou não, as chances desses jovens voltar ao mundo do crime diminuiriam consideravelmente, e a ressocialização se faria mais eficaz.
Obrigado!
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