DR JUDIVAN VIEIRA

EPISÓDIO 6: ONU e UNESCO só comentam violência contra alunos porque a ignoram contra profissionais do ensino ou, porque não creem que quem agride possui capacidade de escolher não agredir?(SÉRIE: CASOS ESCABROSOS DE AGRESSÃO DE ALUNOS, PAIS E RESPONSÁVEIS CONTRA PROFESSORES, ORIENTADORES EDUCACIONAIS E DIRETORES DE ESCOLAS)

Direto de Aracaju, Sergipe.

Preste atenção! O relatório “Violência escolar e ‘bullying’: relatório sobre a situação mundial” disponibilizado em 2019 na rede mundial de computadores foi elaborado pela UNESCO e pelo Instituto de Prevenção à Violência Escolar da “Universidade de Mulheres Ewha” para o “Simpósio Internacional sobre Violência Escolar e Bullying: Das Evidências à Ação, realizado de 17 a 19 de janeiro de 2017, em Seul, República da Coreia”, somente faz menção à violência contra alunos e nada menciona sobre ameaças e agressões que sofrem os profissionais do ensino.

O prefácio do Relatório diz que seu objetivo consiste em fornecer um panorama dos dados mais recentes disponíveis sobre a natureza, a abrangência e o impacto da violência escolar e do “bullying”, bem como sobre as iniciativas que abordam o problema.

Ao ler o documento busquei algum capítulo que remetesse à violência contra professores, orientadores educacionais e demais profissionais do ensino e não encontrei. As referências são aos alunos do ensino fundamental e médio que sofrem violência física ou psíquica praticada pelos próprios colegas de escola.

Mas, o que dizer dos alunos que arremessam cadeira em seus mestres?

E dos alunos que ateiam fogo no cabelo de professoras? Como agir com alunos que ameaçam ou cometem lesão corporal em seus professores(as), orientadores educacionais e diretores escolares?

E como tratar pais e/ou responsáveis que mesmo diante da irresponsabilidade de seus filhos mimados e negligentes dirigem-se às escolas para ameaçar ou agredir professores, orientadores educacionais e diretores? Onde estão os levantamentos estatísticos que relatam tais fatos?

O escritor Marcio Tadeu Bettega Bergo, em seu livro “Explicando a Guerra” cita estudiosos do tema que sustentam que as guerras nascem dos desafios e enfrentamentos em que pessoas têm de disputar espaço com outras em razão de invejas, amizades e alianças em um permanente jogo com perdedores e ganhadores.

Dentre as muitas teorias geopolíticas que cita sobre as guerras e com as quais desejo fazer analogia estão:

1 – Teoria dos Limes (de Jean-Christophe Rufin) baseada na invasão da fome e do fanatismo religioso;

2 – Teoria das Casas Monetárias (de Jacques Perruchon de Brochard), baseada na divisão do mundo entre as moedas mais fortes (dólar, Euro, etc);

3 – Teoria da Incerteza ou da Turbulência (de Pierre Lellouche) baseada nas incertezas criadas no início do século XX pela revolução Bolqueviche, e agora pelas incertezas bélicas impostas pela abertura “capitalista” da China. Essas incertezas causam desordem e turbulências que as Nações não conseguem controlar; e

4 – Choque de Civilizações (de Samuel P. Hutington) em que os povos são separados em razão de suas identidades culturais e religiosas, sendo estas as maiores causas de conflitos. (livro citado, p. 56-59)

Citei estas quatro teorias para que você pode perceba que a guerra (ato maior de violência entre seres humanos) nasce de questões vinculadas à fome, fanatismo, pobreza, riqueza, sede de poder, incertezas sobre o futuro, desordens estruturais, falta de respeito pelas diferenças culturais e religiosas.

Explicando:

A teoria 1 baseia-se na invasão da fome e do fanatismo religioso. É notório que a miséria social e econômico, assim como a intolerância religiosa torna as pessoas mais rancorosas. Não há como negar que tal “rancor” pode servir de gatilho para o desenvolvimento de condutas violentas em alunos desde as primeiras séries escolares. Instala-se a “guerra”;

A teoria 2 baseia-se em quem tem mais poder econômico. As diferenças de poder aquisitivo causam revoltas e acirram disputas por atenção e espaço, de modo a determinar quem é dominador e quem é dominado. Para não se deixar dominar ou para se vingar da situação alunos desenvolvem atitudes agressivas contra as demais pessoas, inclusive contra os profissionais do ensino culpando-os pelos males pessoais, haja vista que, em tese, professores representam a mensagem estatal de que a escola é uma agência de desenvolvimento e inclusão social. Como esta promessa demora ou geralmente nem sequer é cumprida, na cabeça dos alunos os professores e demais profissionais do ensino tornam-se “culpados” pelo insucesso individual. Instala-se a “guerra”;

A teoria 3 (das incertezas) está vinculada à anterior. Como as transformações sociais e econômicas prometidas pelo Sistema Estatal não se fazem sentir de imediato em uma sociedade que exige urgência na terceirização das soluções que deseja, a revolta de um aluno associa-se à de outro e em meio ao “efeito multidão” agressores sentem-se protegidos uns pelos outros. Uns assumem o papel de vingadores do próprio fracasso agredindo quem nada tem a ver diretamente com isto e outros associam-se aos agressores por sentirem-se atraídos pela natural violência humana. Instala-se a “guerra”;

Por fim, a teoria 4 “Choque de Civilizações (de Samuel P. Hutington) em que os povos são separados em razão de suas identidades culturais e religiosas, sendo estas as maiores causas de conflitos”. Aqui, faz-se necessário lembrar que os alunos identificam desde os primeiros anos escolares as diferenças sociais e econômicas, e os menos favorecidos, em regra, tendem a reagir física e psicologicamente contra o que não consideram “justo”, pois a apregoada justiça distributiva do Estado, que promete o mínimo de dignidade para cada pessoa e família não se realiza. Instala-se a “guerra”.

É aceitável que absolvamos sumariamente os agressores nas quatro situações que citei por analogia, como vimos fazendo há décadas?

É justo que aceitemos que alunos oriundos de famílias “destruídas” e caóticas, já “são o que tinham de ser” e que instalem o caos na escola, na vida dos colegas e de todos os profissionais do ensino, ou devemos entender que ações e omissões nascem do livre arbítrio de cada um e que em caso de prejuízos físicos e psicológicos a terceiros, pais e alunos devem ser responsabilizados para que possamos resgatar a cultura de respeito pelos mestres?

Por fim, quem ganha e quem perde nessa “guerra” que alunos e pais irresponsáveis travam contra profissionais de ensino há décadas?

Continua…

(Fotos de arquivo pessoal. Uma das visitas à sede da ONU, em NYC-EUA)

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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