Direto de Brasília-DF.
Como vimos dizendo, com o estabelecimento do sistema de merecimento (século XVI a nossos dias), os Estados democráticos de direito instituíram a competição como meio e a produtividade como merecimento, tanto no mercado de trabalho quanto no acadêmico.
A necessidade de trabalhadores com conhecimentos práticos e profissionalizantes reacendeu e acelerou o interesse em criar escolas por toda a Europa da Idade Moderna. Por óbvio, o que surgia no Velho Mundo espalhava-se como “lei” para os demais continentes conquistados ou expropriados. Essas escolas que surgiam tinham por objetivo ENSINAR disciplinas profissionalizantes e outras que estimulassem o pensamento cívico para a vida em sociedade.
Educação, o ser humano recebia e recebe no seio de sua família, ao caminhar em meio à natureza, no convívio social com outras pessoas, no exercício do olfato que permite identificar, classificar e selecionar os odores que cada estação exala desde o delicioso cheiro das rosas, ao pútrido fedor do cocô que corria à altura de dez centímetros ou mais, pelas ruas das cidades europeias antigas. Isto constatei, por exemplo, na visita que fiz às cidades de Hercolano e Pompeia, ao sul da Itália.
É espantoso como até hoje, em pleno século XXI, esgoto ainda é considerado política de luxo para a maioria dos países.
Por exemplo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com sua Pesquisa Nacional de Saneamento Básico-PNSB/2017, divulgou que 39,7% dos municípios brasileiros (mais de 2000 municípios dos 5.570) não possuem esgoto. Disse também:
– que não existia esgoto em 52,7% das cidades brasileiras;
– que a cobertura do esgotamento sanitário por rede passara de 55,2% (3.069 municípios) em 2008 para 60,3% (3.359) em 2017. Um dado miseravelmente assustador para o século XXI;
– que no Sudeste a rede de esgoto atendia a 96,5% das cidades, enquanto no Norte do Brasil(Amazonas, Pará, etc.) esse percentual era de apenas 16,2%. Por óbvio que aqui devemos considerar que a região Norte possui densidade demográfica pequena, com cidades distantes e em meio a rios e florestas, mas ainda assim não justifica tamanho descaso;
– que na região Nordeste o serviço de esgotamento sanitário estava presente em 52,7% dos municípios, 44,6% no Sul e 43% no Centro-Oeste.
A educação recebida no seio da família associada ao ensino recebido nas escolas, ainda é a solução para corrigirmos a maior parte das mazelas que nós mesmos criamos no planeta e no meio em que vivemos.
Sermos educados desde criança a respeitar a hierarquia natural que escalona quem manda e quem obedece cria ordem, senso de disciplina e ajuda a controlar a tendência às múltiplas guerras pelo poder, que travamos em nosso cotidiano, seja nas famílias, igrejas, salas de aula, ambientes de trabalho, etc.
Comparando a sociedade com uma família de lobos digo que “os lobinhos precisam se submeter, para que haja paz e ordem na alcateia”. Precisam ser educados a jogar lixo em seu devido lugar, a agirem de forma ética mesmo nascendo em famílias e vivendo em uma sociedade na qual prevalece o trambique e a corrupção como traços culturais. Afinal, cultura é mutável!
Não tenho a menor dúvida que a educação e o ensino são duas das ferramentas mais úteis para construção do caráter de um povo. A educação que as famílias proporcionam da década de oitenta do século passado até hoje está a passos largos humanizando coisas e coisificando humanos. Não ignoro, todavia, que cada década e século se constrói sobre as cinzas de seu anterior. Se para o bem ou para o mal é a cultura de cada um desses períodos, isto é a história quem diz. Olhando de hoje ao passado histórico é possível ver avanços e retrocessos acentuados.
O ensino, a sua vez, meramente livresco e ideologizado não passa de cumprimento de disciplinas curriculares (algumas obsoletas), e de esforços para fechamento de anos letivos com o mínimo de reprovação possível, inclusive de quem quase nada sabe, como se a forma fosse capaz de substituir o conteúdo.
É nesse círculo do faz de conta que alunos medíocres saem “aprovados” das escolas, para de imediato serem reprovados pela vida e tornarem-se vendedores de laranja, pinha, garrafas de água nos semáforos das cidades e alguns para engrossar o rescaldo social marginal das penitenciárias que não param de se multiplicar, como se estivéssemos criando uma sociedade paralela, alimentadas por pensamentos deterministas que alijam do processo o livre arbítrio e sempre transferem a culpa das ações e omissões individuais para um terceiro.
É nesse cenário que filhos medíocres tornam-se alunos medíocres, pais e mães medíocres, governantes medíocres, médicos e advogados medíocres, deputados e senadores medíocres, presidentes medíocres, juízes e ministros de tribunais, medíocres. Todos amalgamados em uma sociedade medíocre que despreza tanto a educação quanto o ensino e na qual ética e respeito pelas diferenças só existem no discurso. Todos querem o poder pelo poder. A Nação, o povo… que se dane!
Uma sociedade assim gera pais e mães/responsáveis, que acreditam que devem municiar com a razão a filhos, até mesmo quando jogam cadeiras nos professores, tocam fogo no cabelo de professoras ou descarregam o tambor do ódio que trazem em suas mochilas ou em seus corações amargurados e sem rumo.
É assim que seguimos o interminável círculo qual cão que corre atrás da salsicha amarrada no próprio rabo sem jamais alcançar seu intento.
Afinal, quem é vencedor em uma guerra dessas? Que sociedade estamos perpetuando? E, porque nos importamos tão pouco com isto?
Continua…
(Foto de arquivo pessoal. Uma das visitas à sede da ONU, em NYC-EUA)