#JABOATÃODOSGUARARAPESÉFOCO DR JUDIVAN VIEIRA

EPISÓDIO 12: Os sintomas das ameaças e agressões de alunos aos profissionais de ensino.

Direto de Brasília-DF.

SÉRIE: CASOS ESCABROSOS DE AGRESSÃO DE ALUNOS, PAIS E RESPONSÁVEIS CONTRA PROFESSORES, ORIENTADORES EDUCACIONAIS E DIRETORES DE ESCOLAS).

Neste artigo sinto-me no dever de voltar a ser o Professor de Direito Penal e explicar com um pouco mais de técnica jurídica os fatos que seguirei narrando.

 Como vimos dizendo, estatísticas e estudos apontam que 12,5% dos profissionais de ensino são vítimas de ameaças e agressões físicas e psicológicas na seguinte ordem:

– agressão verbal (44%),

– discriminação (9%),

– bullying (8%),

– furto/roubo (6%),

– agressão física (5%)

No ano de 2019, na cidade paulista de Carapicuíba foi amplamente noticiado pela mídia que sete alunos de uma escola estadual, em concurso de pessoas, arremessaram livros e carteiras sobre uma professora.

No mesmo ano, mesma cidade e mesma escola, uma mãe de aluno tocaiou e agrediu fisicamente uma professora, na saída da aula.

Mas, o que significa esse tal “concurso de pessoas” que mencionei? Para o Direito Penal ocorre o concurso de pessoas quando várias pessoas se reúnem para cometer determinado crime. Essas pessoas devem preencher os seguintes requisitos:

 – pluralidade de agentes e de condutas,

– nexo de causalidade entre as condutas,

– liame subjetivo entre os agentes; e

– identidade de infração penal.

 No caso de Carapicuíba eram 7 os alunos(pluralidade de agentes); cada um dos 7 agia de forma livre e consciente (pluralidade de condutas); o liame subjetivo está no fato de que como sujeitos ou pessoas humanas, todos estavam ligados pela mesma vontade; e por fim todos queriam causar lesão corporal, pois inadmissível que alguém que arremessa uma cadeira sobre outrem não tenha pretensão de causar-lhe uma lesão no corpo e na alma (entenda que o crime de Lesão Corporal também abrange a agressão à paz e integridade moral que cada um de nós deseja e merece ter).

Há muitos estudos para descrever o sofrimento de alunos que são ameaçados ou agredidos, como já indiquei em outros artigos. Todavia, vejo pouca atenção dada ao sofrimento de professores, orientadores educacionais e diretores de escola. O que pretendo com esta série que termina neste mês de abril é trazer o problema ao conhecimento público e expor mais da hipocrisia de nossa sociedade.

Eis alguns dos sintomas mais comuns entre professoras e professores, muitos dos quais têm de viver pedindo licença médica para não perder a lucidez ou morrer:

– Sintomas psicossomáticos: dores de cabeça, tontura, náusea, diarreia, enurese, sudorese, taquicardia, dores musculares, insônia, sono excessivo como mecanismo de fugir da realidade ameaçadora;

 – Estresse: causa da diminuição das defesas imunológicas físicas e psicológicas. É como se o agressor quebrasse as defesas, o “firewall” do profissional do ensino e instalasse um vírus que destrói sua programação de normalidade e alegria. Com essa quebra de resistência cai a defesa imunológica e o professor(a) fica sujeito a mais doenças;

 – Questões de saúde mental: ansiedade, medo de entrar em sala de aula, raiva, irritabilidade, inquietação, cansaço, insegurança, isolamento, impotência, rejeição, tristeza, angústia, baixa autoestima, depressão, pensamentos suicidas, desejo de abandonar a profissão em razão do sofrimento cotidiano ao qual está exposto(a);

 – Prejuízo na socialização: a desilusão com o social leva o indivíduo a gostar da humanidade, mas ter raiva ou odiar o ser humano enquanto indivíduo. Como consequência, isola-se do aluno mantendo presença física, mas distanciamento “espiritual” de sua missão.

 No episódio 11 desta série indagamos: será que por estas razões a mesma OCDE constatou em seu levantamento que no município do Rio de Janeiro um professor é licenciado a cada três horas por doenças ligadas ao estresse?

Objetivando aconselhar de forma PRÁTICA aos profissionais do ensino esclareço que o Código Penal brasileiro ensina que AMEAÇA É CRIME! Eis como está escrito:

 

“Art. 147 – Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.”

 

A pena de detenção de um a seis meses ou multa, é alternativa o que implica dizer que se aplica um ou outro.

Em verdade o criminoso ou criminosa nem sequer ficará detida, porque a Lei dos Juizados Criminais especiais permite acordo penal e o agressor vai responder por uma pena alternativa pagando cesta básica ou prestando serviços à comunidade.

Todavia, aos profissionais do ensino recomendo que REGISTREM BOLETIM DE OCORRÊNCIA sempre que um aluno, pai ou responsável o ameaçar ou lesionar.

O Código Penal brasileiro ensina, também, que LESÃO CORPORAL É CRIME. Eis como está escrito:

“Lesão corporal

        Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

        Pena – detenção, de três meses a um ano.

        Lesão corporal de natureza grave

  • 1º Se resulta:

        I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

        II – perigo de vida;

        III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;

        IV – aceleração de parto:

        Pena – reclusão, de um a cinco anos.

  • 2° Se resulta:

        I – Incapacidade permanente para o trabalho;

        II – enfermidade incurável;

        III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

        IV – deformidade permanente;

        V – aborto:

        Pena – reclusão, de dois a oito anos.”

Portanto, se você for ameaçado ou agredido vá à polícia (delegacia da infância e juventude, protetiva da mulher, etc., e registre boletim de ocorrência, ou vá diretamente ao Ministério Público de sua cidade e relate a ameaça ou agressão seja ela de aluno, pais ou responsáveis.

Chega a ser o cúmulo da hipocrisia pessoas dizerem que “filho é a melhor coisa do mundo”; que, “uma mulher que não pode gerar filhos nunca vai conhecer a verdadeira felicidade”; “que filhos são bênçãos de Deus”, etc.

É um discurso falso ou politicamente correto que não combina com a quantidade de crianças abandonadas, jogadas em cesta de lixo, geradas apenas em nome de uma transa prazerosa ou não, mas irresponsável,  e depois colocada disponível para a  adoção.

É hipócrita, também, que filhos estejam sendo largamente espancados nesta pandemia,  porque os pais não os suportam em casa e nem valorizam os professores que em muitos casos assumem indevidamente o papel de genitores. Afinal, “quem pariu Mateus, que o embale”. É assim que deve ser!

Então, aos PAIS E RESPONSÁVEIS sugiro que aproveitem este momento em que a pandemia exige proximidade com seus filhos e os educar. Educar não é missão de professor(a)! Educar é função de genitores e responsáveis. Assim, aproveite para aconselhar e passar Lições teóricas e, acima de tudo, dê exemplos práticos que façam com que seus filhos não se transformem nos monstros que ameaçam e agridem, inclusive com sua proteção, a professores, orientadores educacionais e diretores de escolas.

Respeite e ensine o respeito por quem cuida intelectualmente de seus filhos, mais que você!

Até breve!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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