Direto de Brasília-DF.
Continuação: Isócrates versus Platão, e o que a Aristocracia e a Democracia têm à ver com educação e ensino
O Processo educativo no entender de Platão
Platão e Isócrates eram contemporâneos e amigos, mas não discípulos do mesmo mestre nem tampouco apreciadores do mesmo regime democrático de governo.
Platão defendia a aristocracia (ainda que fosse a aristocracia dos filósofos e não a que normalmente conhecemos), enquanto Isócrates defendia a democracia, quer como sistema político quer para o processo educativo. Como evitar dizer que há flores com espinhos?…
Platão queria a educação e ensino voltados para uma classe específica e, por incrível que pareça, o sofista Isócrates desejava a educação e o ensino universalizados, nos moldes que hoje os possuímos. Sim! Como negar que as estrelas têm suas “pontas”? Porventura, quem não possui defeitos? E, será o fato de alguém possuir defeitos razão para que dele se desprezem as virtudes? Pois é assim com Platão! Definitivamente, em alguns aspectos, ele está muito além de seus defeitos herdados e construídos…
Então, quais eram as principais divergências entre Isócrates e Platão? Vou listar três divergências fundamentais:
Isócrates – Escola sofista:
1 – Era sofista! Ainda se enquadrava como o tipo de mestre que adota como método “esconder a verdade” e põe a ênfase no discurso perfeito, que envolve seu interlocutor;
2 – Para ele a formação política e jurídica deveria objetivar formar o homem especificamente para a vida pública
3 – A mais alta forma de Educação, é formar o aluno em Retórica e Oratória. As demais disciplinas e a ciência não era compreendida como meios de desenvolvimento da humanidade.
Platão – Escola filosófica lógico-crítica:
1 – O processo educativo deve visar a procura da sabedoria e da verdade como valores absolutos. Verdade, aqui, não significa apenas antítese de mentira ou falácia, mas a essência das coisas e dos seres;
2 – A mais alta forma de educação é formar o aluno em Dialética para que aprenda a buscar o “bem”, como a causa primeira de todas as coisas. A Retórica deve ser excluída do processo educativo porque ela “embota” a razão e é superficial;
3 – O aluno deve seguir o método Socrático de aprendizagem de classificação dos termos e da atribuição de conceitos a eles, tudo á luz da “verdade”, ou seja, da descoberta da essência das coisas e dos seres.
Há outras características que poderíamos listar e que por hora não o faremos. Fato é que em Platão, o processo educativo (também confundido com processo de ensino, em certos momentos) será sempre a busca pelo estado ideal da pessoa, do Estado e da vida. Platão herda de seu mestre Sócrates, a mesma falha em compreender que o ideal inexiste e fundamenta seu método no “estado de perfeição” que jamais existiu ou existirá. Todavia, dá uma contribuição esplêndida ao processo educativo mundial ao voltar seu processo educativo dialético para a análise crítica e lógica do aprendizado. Crítica por duvidar sempre e lógico porque a compreensão deve ser sistêmica, contextual.
Em seu livro “A República”, Platão nos dá lições lapidares sobre como pensa o processo educativo. Diz que este deve evoluir do simples para o complexo, da mesma forma que a Natureza o faz na seguinte ordem: o homem deve atentar para seu APETITE para as coisas, depois para o ESPÍRITO na compreensão de todas as coisas e por fim para a RAZÃO, medida última de compreensão de todas as coisas. Resumindo, os três cérebros do método platônico são:
- Apetites do corpo;
- Espírito; e
- Razão.
Foi assim que o mestre Platão firmou seu método de ensino e aprendizagem, na disciplina do corpo e do caráter humano. Após o aluno aprender ginástica deveria aprender Música, para a formação de seu espírito, e caráter. Por fim, aprenderia Matemática, tudo de forma livre, sem coerção da família ou do Estado. O homem deve ser livre para aprender ou não, dizia Platão e, além disto estabeleceu uma linha de tempo de seu processo educativo, que posso resumir assim:
- Aos 17 ou 18 anos: o aluno receberia treinamento físico e militar por dois anos;
- Aos 20 anos iniciaria seus estudos em matemática, pelo período de dez anos e esta etapa seria preparatória para o estudo da Dialética; e
- Aos 30 anos começaria o estudo da Dialética, com duração de 5 anos, para que aos 35 anos o aluno tivesse condição de COMEÇAR a entender a verdade dos argumentos, nas coisas inanimadas (sem alma), nos argumentos das pessoas e na própria vida.
Dialética existe para o estudo especulativo da vida, dizia Platão, seguindo os ensinamentos de Sócrates, seu mestre. Dizia, ainda, que a finalidade do processo educativo seria ativar, impulsionar ou acelerar as lembranças ou reminiscências que a alma humana possuía de sua existência espiritual.
Como já dissemos, a evolução mostrou que há equívocos em sua forma de pensar, mas ler um mestre que erra em alguns aspectos continua sendo mil vezes mais útil e prazeroso que ler um tolo que se julga mestre. Afinal, como diz Baruch de Spinoza “é mais fácil um sábio aprender com um tolo que um tolo aprender com um sábio”. Qual é sua fonte de aprendizagem? Em quem você se espelha? Se você parou para pensar e descobriu que você não bebe em fonte alguma e nem se espelha em ninguém, é possível que o navio de sua vida esteja parecido com o Titanic pouco antes de bater no iceberg…
TRÊS DICAS:
1 – Não esqueça que cada episódio está ligado ao anterior. Se desejar, busque os artigos anteriores nesta coluna do Pernambuco em Foco.
2 – Extraia cópia destes artigos e divulgue em sua escola. Afixe nos murais, sugira a seus professores discutirem e aperfeiçoarem seu conteúdo em sala de aula, compartilhe em suas mídias sociais, porque quem semeia educação e ensino, junto com quem ama aprender, formam um time de vencedores.
3 – Se você não é aluno nem profissional da educação, mas crê que a ela pode, juntamente com o ensino, promover o desenvolvimento da Nação, ajude a compartilhar esta série por suas mídias sociais.
Um grande abraço, obrigado e… Até breve!