Direto de Brasília-DF.
A vida está extremamente corrida para muita gente, e talvez um pouco mais para os profissionais da educação e ensino, nesta nova realidade que impõe urgente adaptação às plataformas remotas, tudo para servir às famílias, aos alunos, à sociedade, e ao Brasil, enquanto Estado Democrático de Direito.
Hoje, tenho o prazer de apresentar a entrevista com a protagonista da série DIÁRIO DE BORDO, Kennya Aparecida Teles Fernandes, Orientadora Educacional e psicanalista.
Orientadoras e orientadores educacionais são profissionais que costumam passar despercebidos na dinâmica educacional e de ensino travada entre famílias, alunos, sociedade, e Estado. Mas, não se enganem porque o papel deles é extremamente importante, já que intermedeiam os mais diversos tipos de conflitos, para que os alunos realizem seu mister de aprendizes equilibrados, física e emocionalmente.
Obrigado Kennya Fernandes, Gevani Silva, Shophia Bittencourt, Andreia Bombom, e Katia Silva, , por disponibilizarem um pouco de seu precioso tempo e trabalho, e cooperar voluntariamente com esta proposta, que espero contribua para reflexões de hoje, e das páginas da história que no futuro investigarão esta passado pandêmico da COVID-19, e o “reset” forçoso que deu em nossas vidas e no processo de educação e ensino, neste limiar de Século XXI.
A educação e o ensino transformam pessoas e países. Mas, certamente, só faz isto com quem se permite educar e se deixa ensinar. Nesta senda, a vida se encarrega de premiar os diligentes tanto quanto de castigar os negligentes.
Com vocês, a Orientadora Educacional e psicanalista KENNYA FERNANDES, em sua gentil entrevista:
Judivan Vieira: Como você se descreve?
Kennya Fernandes: Sou Kennya Aparecida Teles Fernandes. Comecei minha carreira no magistério há 28 anos, lecionando na Rede Particular por 8 anos e depois exercendo o cargo de Orientadora Educacional, profissão que exerço há 20 anos na escola pública da Secretaria de Estado de Educação do Distrito federal.
Sou Orientadora Educacional no Centro de Ensino Fundamental 10 de Taguatinga- DF, há 16 anos. Tenho formação em Pedagogia – Orientação Educacional, Psicanálise Clínica, Especialização em Psicopedagogia clínica e institucional, e atualmente estou cursando a Pós-graduação em Neurociências Comportamental e Cognitiva e, portanto, sou agente diretamente envolvida no processo de educação e ensino.
JV: Descreva seu “novo normal”, ou nova realidade como orientadora educaional, a partir do RESET, que a pandemia deu no processo de educação e ensino, obrigando mudança das aulas presenciais para virtuais, por plataformas remotas?
KF: Para falar desse “novo normal” é importante iniciar com o conceito anterior de “o comum”, que é, de fato, “como um”, aquilo que eu me identifico no outro e vice versa, pessoas vivendo os mesmos hábitos, levando ao conceito de normalidade que nos garante, de certa forma, a nossa sobrevivência e proteção.
Quando esses dois instintos ficam ameaçados, já não consideramos como algo normal. E foi assim que percebi e descrevi um mundo “fora do comum”, em que muitas pessoas negavam esse novo normal como mecanismo de defesa do ego e ao mesmo tempo, sendo inseridas e obrigadas a viverem uma realidade confusa, desafiadora, se adaptando, à força, aos novos padrões de comportamento e pensamento, como se fosse um “kit de sobrevivência”. Reforçando essa busca de sobrevivência e proteção e nos adaptando a essas mudanças, entraremos num novo padrão de normalidade.
JV: Como classifica a importância da Orientação Educacional para a formação de caráter dos alunos?
KF: O caráter é composto por um conjunto de ações e hábitos de uma pessoa, incluindo
atitudes e valores, em resposta a diversas situações e eventos na vida dessa pessoa.
Partindo desse pressuposto a Orientação Educacional tem sua imensa importância na formação de caráter dos alunos, quando ela atende suas necessidades desenvolvendo a consciência crítica, ouvindo-os sem julgamentos e entendendo as fases do desenvolvimento de cada faixa etária bem como as diversas realidades familiares e suas demandas.
Compreendendo essa dinâmica, o Orientador Educacional desenvolve seus diversos papéis, propiciando debates, oficinas, palestras, sessões coletivas individuais ou em grupos, eventos e momentos reflexivos sobre temas relevantes para a formação dos processos de construção de conhecimento e saberes do aluno, alicerçando sua atuação como elo entre a família e os professores, participando da construção coletiva que favorece o desenvolvimento pedagógico da escola e do aluno.
JV: Como está percebendo a realidade dos alunos e famílias, em relação ao RESET que a pandemia deu no processo de educação e ensino?
KF: A pandemia mudou a realidade das famílias e da escola. Gerou muitos desafios a
serem superados e outros aos quais tivemos de ser adaptados. Porém percebo uma realidade muito difícil, dolorosa e ao mesmo tempo renovadora, transformadora.
São muitas realidades que vão de famílias passando necessidades básicas que não têm computador, internet, aparelho celular, vivem de recursos mínimos para sobreviverem, e quando possuem algum celular, compartilham esse único para diversos filhos acompanharem algumas aulas virtuais quando possível e realizarem as atividades à noite ou somente nos finais de semana.
Existem aquelas realidades que os pais dependem do transporte público, correndo risco de contraírem a doença para buscarem atividades impressas para os filhos realizarem em casa e devolverem para as correções. Percebemos pais e mães preocupados e se sentindo irritados para ajudarem os filhos nos deveres de casa; outros, buscando se reinventar, estudam novamente para auxiliá-los nesse desafio.
Também percebemos famílias desenvolvendo trabalhos para ocupar o tempo, aumentar a renda familiar, desenvolver novas habilidades, artesanatos, costura, pintura, cursos, profissões novas, etc. Enfim realidades, diversas que cada família busca realizar para que o processo de ensino e aprendizagem continue com o mínimo de afetação da realidade de seus filhos.
JV: Dentre os alunos orientandos, notou se houve quem deixasse de estudar porque a família não possui meios de fornecer Internet ou qualquer outra forma eletrônica de acompanhamento das aulas virtuais?
KF: Alguns alunos sim. No CEF 10 foi feito um trabalho de força tarefa. A equipe diretiva, Orientação Educacional, coordenação, secretaria escolar, apoio; todos esses segmentos trabalharam massivamente para que a maioria dos alunos fossem inseridos na plataforma da escola virtual, inclusive foi feito campanha para doação de tablets e celulares aos alunos carentes. Àqueles que não tiveram acesso, devido à falta desses meios, estão estudando via atividades impressas e utilização do livro didático. Há alunos que não mantivemos contato, pois não foram encontrados devido à falta de informações de endereços e telefones atualizados do responsável.
JV: Quando analisa os alunos, que ideia faz sobre a diferença e importância, entre os que se dedicam mais e os que levam o ensino fundamental e médio na brincadeira, em relação ao futuro no Mercado de Trabalho?
KF: É certo que o aluno que se dedica aos estudos com disciplina e determinação, tem maiores chances de ingressar no mercado de trabalho com maior acessibilidade. Porém, esse papel, também cabe aos pais e à família pelo incentivo e acompanhamento desse aluno e no cumprimento e na realização das atividades escolares.
Sabemos que o Mercado de Trabalho, devido a essa nova realidade, passa por um processo de mudança. A ideia de mudança traz, de forma subjacente insegurança e instabilidade, e será muito exigente na seleção de novos profissionais. Essa alteração na educação e no compromisso de estudo dos alunos provocará mudanças significativas e consequentemente, teremos muitas sequelas no que diz respeito à qualidade dos futuros profissionais.
JV: Se você pudesse escrever uma mensagem para si mesma e guardar em uma cápsula do tempo para abrir daqui a 10 anos, quais seriam os três desejos para melhoria do processo de educação e ensino, que em 2030 gostaria de ver realizados?
KF: Kennya, você é agente de mudança que auxilia as pessoas a encontrarem o caminho para o autoconhecimento, passando por grandes transformações e recomeçando suas histórias de vida!
O mundo mudou e os seguintes desejos serão concretizados:
1-Valorização do Profissional da Educação no que se refere à melhoria de salário, Jornada de trabalho, capacitação e formação de novos educadores, aposentadoria. Maior reconhecimento da profissão e sua importância por parte de todas as esferas da sociedade.
2-Desenvolvimento de competências e habilidades socioemocionais através da Formação continuada dos professores, inserção de disciplinas obrigatórias sobre inteligência Emocional, Ética social, Desenvolvimento Humano, Tecnologia e Educação, Psicologia Positiva, Educação Financeira, para todos os agentes ativos da educação, começando pela Equipe gestora, todos os funcionários da escola, a finalizar nos alunos.
3- Inserção da Tecnologia na Sala de aula, fornecendo um ambiente escolar adequado para uma aprendizagem e desenvolvimento de novas habilidades; oferecendo aos profissionais da educação e aos alunos todos os recursos, aparelhos eletrônicos e ferramentas tecnológicas de alta ponta, necessárias para uma educação de excelência e formação de jovens qualificados e inseridos, com elevada estatística, no mercado de trabalho.
JV: Como se sentiu ao ser convidada para participar da série DIÁRIO DE BORDO?
KF: Me senti honrada, valorizada, lisonjeada e extremamente responsável por representar os meus colegas Orientadores Educacionais que estão se desdobrando, se reinventando e se empenhando com muito esforço e dedicação para exercerem da melhor forma possível seu trabalho e sua missão nesse processo de mudança e renovação da educação.
JV: Como foi seu processo de observação para compor seu DIÁRIO DE BORDO?
KF: O DIÁRIO DE BORDO foi elaborado e construído a partir da minha prática como Orientadora Educacional no dia a dia da escola em teletrabalho, nas anotações dos relatórios e no planejamento das ações da equipe do SOE (Serviço de Orientação Educacional), com a equipe gestora, coordenação intermediária, ações estas, promovidas para os professores, alunos, Grupo de Orientação Educacional.
Esse processo também foi construído através da observação dos elementos externos do processo educacional e registro das reflexões e percepções dos acontecimentos do cotidiano.
Foi feito a partir da minha participação e de outros colegas, professores, alunos nas Lives de formação, a partir da presença e atuação dos professores e alunos na plataforma da sala virtual, observando a dinâmica das aulas, o compromisso e a falta dele nos alunos, os problemas de queda da internet. Foi construído observando o processo educacional contínuo de todas as partes envolvidas de maneira mais próxima possível da realidade nova, e desafiadora vivida por todos.
JV: Que resultados deseja alcançar com os relatos de seu DIÁRIO DE BORDO?
KF: Que todos os leitores e pessoas tomem conhecimento do verdadeiro desafio que é para a escola testar e aplicar esse processo de ensino e aprendizagem novo, que foi necessário um movimento de grandes mudanças psíquicas e comportamentais de todos os envolvidos, principalmente dos maiores agentes de conhecimento, os professores.
Que a Orientação Educacional seja uma profissão melhor reconhecida por todos os setores escolares, não somente por sua atuação no desenvolvimento emocional e pedagógico do aluno, do professor, mas por sua de extrema relevância para a melhoria desse processo de ensino e aprendizagem através da suas promoções e ações.
Que resulte, após os meus relatos nesse DIÁRIO DE BORDO, uma atitude de respeito por parte das autoridades governamentais e de toda a sociedade pela EDUCAÇÃO E ENSINO; que possam dar maior credibilidade e valorização ao profissional que exerce sua missão com amor, não com falácias e discursos vazios, mas com ações coerentes e justas para a melhoria e aumento da qualidade de ensino em todas as instâncias.
JV: Que mensagem quer deixar para os alunos, principalmente de escolas públicas, que se vêm obrigados a se adaptar a esta nova realidade imposta pela pandemia do Coronavírus?
KF: Que vocês, alunos, descubram o seu propósito de vida e sejam firmes, determinados e focados até alcançarem o que desejam, não percam o desejo! E se ainda não o encontraram, criem um! Busquem e reflitam internamente algo que seja seu maior motivo para a ação.
Nossa vida é como um DIÁRIO, todos os dias escrevemos numa página em branco algo que nos acontece ou aconteceu. Entenda que em meio a tantas dificuldades e problemas, existe sempre uma solução, encontre aquilo que faz você não desistir.
Todos nós temos “Altos e baixos”, se hoje não foi bom, tudo bem, amanhã pode ser melhor, você tem um poder de escolher como irá escrever a próxima página, se anteceda com atitudes boas, positivas e determinadas e assim, você poderá escrever uma nova página, bem diferente da página anterior.
Que seu objetivo tenha congruência com suas habilidades e talento, para que você alcance com alegria, percebendo que esse processo fantástico da vida, a aprendizagem e o conhecimento são os verdadeiros aliados para o sucesso na vida.
JV: Faça um convite para que as pessoas acompanhem a série DIÁRIO DE BORDO
KF: Quero agradecer a todas as pessoas que leram essa matéria e disponibilizaram de seu tempo para prestigiar e obter informações sobre essa nova realidade nos bastidores da vida de cada pessoa convidada, vendo através da sua lente as percepções, posições e vivências diferentes no contexto educacional, nesse tempo de pandemia.
Por isso, convido-os a continuar acompanhando essa série curiosa, que vem com muitas novidades e cheia de surpresas, com histórias de vidas emocionantes vividas por pessoas comuns nesse novo normal que representam milhares de pessoas, e que através das suas experiências podem contribuir para o engrandecimento das vivências de cada um que ler e acompanhar a série DIÁRIO DE BORDO.