Hoje em dia, o cenário do educador apresenta cada vez mais desafios que vão além do bem-estar pessoal, da remuneração equilibrada e da satisfação com o ensinar. O desafio da compreensão e da inclusão em sala de aula de crianças e adolescentes que fogem do padrão normativo no ambiente escolar. E essa peleja pode ter relação com as dificuldades de aprendizagem de crianças e alunos que vem se aumentando progressivamente, devido a diversos fatores que, em alguns casos, vão além de suas capacidades de lecionar. “Observamos um aumento na capacidade de conhecimento de crianças e adolescentes na modernidade, que são crianças que apresentam dificuldade de falar corretamente, de leitura fluida ou até mesmo de compreensão assertiva”, destaca o fonoaudiólogo professor Jaime Zorzi, doutor em Educação.
Autor do método de alfabetização “As letras falam” que também desenvolveu uma proposta de ensino para a superação dos erros ortográficos, denominada “Descomplicando a Escrita: atividades práticas para muitas idades e todas as dificuldades”, ele aponta que uma das maiores dificuldades das crianças é entender a lógica e o papel das letras antes de ganhar fluência e que por isso há certas complexidades no processo de compreensão do som – letra e letra – som que é a base da conexão fonológica das crianças na educação infantil. E, com isso, ele causou bastante choque ao expor a maneira como raciocinam assim crianças com esses desafios entre os mais de 300 profissionais que atuam na área da saúde e educação que se reuniram no último sábado, dia 27 de maio, e domingo (28), no Mar Hotel Conventions.
Participando do I Congresso Nacional de Transtorno do Desenvolvimento, com a temática “Um Olhar Multidisciplinar”, organizado pelo Grupo CEAM – Centro Especializado em Apoio Multidisciplinar, teve a oportunidade de compartilhar conhecimento e promover abordagens adequadas no tratamento de transtornos do desenvolvimento e neurobiológicos, como a Dislexia. Desta forma, o especialista integrou o objetivo do evento de ajudar profissionais de várias partes da região do Nordeste a entender e conhecer novas experiências em aprendizagem com essas crianças com os mais diversos transtornos.
E isso é importante em virtude de dados apurados por pesquisadores, como da Universidade Federal de São Paulo, cujos estudos nessa área descobriram padrões genéticos associados a esses transtornos. Não é à toa que, de acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que um bilhão de pessoas no mundo vivam com transtornos e, desse total, 14% são representados por adolescentes, destacando a importância de focar na saúde mental dessa faixa etária. E, no Brasil, pesquisas sobre saúde mental na infância e adolescência têm revelado também problemas emocionais e psicológicos que requerem atenção e apoio adequados, como depressão e ansiedade.
“Por isso, precisamos entender que nem toda criança que lê mal é uma pessoa com dislexia. E ela pode ter outros problemas que não estão relacionados com o diagnóstico preciso da dislexia quando partimos para o processo de dislexia. E é aí está o papel do professor em sala de aula para diferenciar e constatar o comportamento que não segue o padrão, repassar essa preocupação para os pais que devem encaminhar o seu filho para uma avaliação com os profissionais qualificados que chegará ao diagnóstico correto”, comenta a fonoaudióloga Inês Abranches.
Com isso, a especialista que atua entre outras frentes em Avaliação e Intervenção dos Transtornos da Linguagem e Aprendizagem, registra que é fundamental não rotular uma crianças sem o diagnóstico preciso, pois isso pode gerar tratamento que não se enquadra ao cenário real, quando esta crianças está dispersa ou com outras dificuldades ou problemas cujos sinais e sintomas podem em certa perspectiva se confundir com a Dislexia.
Por isso, o programa do congresso contou com a presença de neurocientistas, psicopedagogos, fonoaudiólogos e especialistas em educação especial, que trouxeram abordagens multidisciplinares para o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes. Entre os profissionais estiveram nomes renomados da área como o neurocientista Luiz Antônio Corrêa, doutor em Psicologia pela USAL – Buenos Aires – Argentina; o professor Fabrício Cardoso, Líder do Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos Neuropsicopedagógicos – LIEENP da Faculdade CENSUPEG; o professor Paulo Chereguini, especialista em terapia ABA (Análise Aplicada ao Comportamento) ao TEA; a psicóloga clínica e mestre em Educação, Aída Brito, especialista em Educação Especial e Inclusiva; e o professor Lucelmo Lacerda, doutor em Educação pela PUC-SP e especialista em Educação Especial, Inclusiva e Políticas de Inclusão.