DR PAULA MEYER

DECISÃO DO COPOM E A SUA JUSTIFICATIVA ECONÔMICA E POLÍTICA

Ontem o Comitê de Política Monetária publicou a taxa SELIC que irá vigorar nos próximos dias. Então a decisão foi de 12,75% em 2023.

Tal decisão surpreendeu o mercado cuja expectativa era de um corte de 0,75p.p e não 0,5 p.p. Até o final de 2023, a revisão dos analistas de mercado é de que tenhamos 1,0p.p de corte.

Dentro dessa expectativa futura de um corte ameno nos juros, a “rinha” entre Campos Neto , presidente do Banco Central e Presidente Lula deve ensejar novos capítulos  com um tom mais duro afinal de contas a economia precisa crescer ainda em 2023.

A expectativa de uma queda mais amena dos juros no Brasil está diretamente atrelada ao ritmo dos gastos públicos. enquanto o atual ministro da Fazenda tenta convencer o mercado que fecharemos 2023 com déficit zero o rombo de R$ 170 bi segue só aumentando. Estamos há 103 dias do final do ano.

Por que a gastança pode interferir no ritmo de corte de juros? É simples: o governo precisa emitir os títulos públicos com juros atraentes e se não oferece algo atraente o comprador migra para outros papeis. O título prefixado 2026 Tesouro Direto pré-fixado com vencimento em 2026 está rendendo 10,30%.

Apesar do largo compromisso social do atual Governo com a população de baixa renda é importante equilibrar o desejo de fazer algo e a efetivação deste.

Desequilíbrios fiscais tornam-se empecilhos para o crescimento econômico de um país. emitir moeda afim de honrar com os compromissos eleva a inflação e não é a solução. Emitir títulos públicos para se autofinanciar é o caminho mas enfrenta uma concorrência de vários outros ativos no mercado como poupança, CDB, RDB, debêntures, ações etc.

O Brasil é um país de dimensão continental e enfrenta desafios em todas as áreas: econômica, social, ambiental e política. Cada canto desse país encontramos um novo Brasil, o Brasil da Suíça com uma renda média elevada de quase US$ 90 mil ano e do outro lado renda média de Uganda US$ 883 ano.

Esses contrastes sociais devem ter o Estado como o amparo principal. E somente por meio de programas sociais é que esse contraste poderá ser reduzido. Por outro lado é importante que haja a escolha de prioridades de gastos públicos, estratégias e ações que culminem na melhoria de vida dessa população.

No passado a taxa SELIC foi demonizada pois o Presidente do Banco Central brasileiro não entendia a agenda do atual Governo mas caro leitor a decisão da SELIC é meramente técnica. O próprio Presidente do BACEN veio a público inúmeras vezes explicar os núcleos de inflação (serviços, indústria, agricultura) e suas tendências futuras no que tange a elevação dos preços.

Politizar a decisão de uma taxa que dá o tom para todas as taxas de mercado é um risco enorme. É importante manter a tecnicidade.

Ontem os Estados Unidos também decidiram a sua “SELIC” e o resultado é de que haja até o final do ano mais elevações por lá. Isso pode significar uma migração de recursos para aquela praça. Esse episódio também faz com que a nossa SELIC caia mais lentamente pois precisamos nos apresentar como atrativos ao mercado internacional.

Em suma caro leitor vamos aguardar calmamente o desenrolar dos próximos episódios que a nossa inflação fique contida e que tenhamos um 2023 com boas novas e que 2024 venha com novos ares de abundância, esperança e realizações. Deixemos a nossa SELIC em paz e que o residente do Banco Central possa fazer seu trabalho com critérios, escolhas ponderadas e acertadas.

 

 

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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