#ÉPERNAMBUCOEMFOCO

Crônica: O que faremos com os ladrões de tempo?

Direto de Brasília-DF.

Machado de Assis fala por boca de Brás Cubas, que a Morte é a Ministra do Tempo.

Os norte americanos com sua visão pragmático-aristotélica dizem “time is money!” (tempo é dinheiro).

Suponhamos que o tempo nem seja Ministra da Morte, nem seja dinheiro. Suponhamos que ele seja uma commodity existencial. Permita-me explicar que commodity é um termo recente, tornado chique pela modernidade, mas significa, apenas, “um produto que pode ser comprado ou vendido”. Algo como café, água, ouro, açúcar, etc.

O tempo pode ser comprado ou vendido? Nos o encontramos engarrafado nas prateleiras de supermercado? Espera aí… estou comparando o tempo com coisa muito barata e sei que você o tem em maior conta. Então, mudo minha pergunta: Nós o encontramos incrustrado num diamante exposto em vitrine da mais famosa joalheria do mundo, na mais famosa das ruas em que caminham pessoas “podres de rica” e onde, ali na próxima esquina, dorme um mendigo?

O rico e o pobre, o negro, o branco, o indígena, o hétero e o gay, a população ativa e a inativa, por qualquer que seja a razão dessa inatividade, o crente e o ateu, teem em comum, o tempo e, o tempo… ah… como ele pode ser analisado sob pontos de vista diversos…

Por exemplo, podemos dizer que todo ser humano já nasce com o prazo de validade determinado, vencido. Viver mais de 120 anos no Planeta Terra não é regra! Podemos dizer, também, que não vendemos ou trocamos mão de obra por produtos, e sim, por tempo. E sob quantas outras óticas mais podemos analisar o tempo?!?

No mundo agricultural e pastoril o Sol nos controlava. Levantávamos com ele e terminávamos a jornada com o ocaso.

Tomando como marco a revolução industrial passamos a ter um supervisor humano ou mecânico que controla nossa chegada às oito horas da manhã, nosso horário de ida e volta do almoço e a jornada que nos leva a quarenta ou quarenta e quatro horas semanais de trabalho. Ao final, nos pagam pelo tempo que empregamos nossa expertise na produção de obras, prestação de serviços, venda ou compra de produtos e, por aí vai.

Deveríamos todos lembrar cotidianamente que estamos vendendo ou trocando uma commodity (um bem) por outra. De todas as commodities (bens) qual será a mais valiosa para a vida? Pergunta dificil?!? Vou partir do pressuposto que você é saudável e que não está encarcerado por um crime que haja cometido (saúde e liberdade são preciosos) e que no mais, sua grande luta é pela subsistência, ok?!?

Pergunto: quanto vale o tempo para você? Permita-me aprofundar a pergunta e transferi-la a outro para não colocar diretamente o leitor nessa equação que envolve morte. Suponhamos que um Rei, o Rei mais Rei e mais Rico do Mundo estivesse desenganado e em seus últimos dias de vida; imagine que ele descobrisse que um cientista houvesse descoberto a fórmula da saúde para que alguém dispusesse de mais duas décadas de tempo de vida. Quanto de sua riqueza este suposto Rei mais Rei e mais Rico do Mundo, abriria mão para viver mais?

Não tenho como saber o que você respondeu, mas de uma coisa tenho certeza. Todo e cada indivíduo considera seu tempo como algo precioso. Me permita o silogismo. Se todo e qualquer indivíduo considera seu tempo precioso e você é um indivíduo, logo, você considera seu tempo precioso! Certo?!?

Se multiplicarmos seu tempo precioso pelo tempo precioso de cada sete bilhões e tanto de pessoas do mundo, então, é possível que tenhamos sete bilhões e tanto de tempos preciosos no mundo? Ou será que somente o seu tempo é que é precioso e o tempo alheio pouco importa?

Aprendemos a contar o tempo em segundos, minutos, horas, dias, meses e anos. Para sua vida pessoal você considera todas essas particões importantes, mas qual dessas frações dada pelo Tempo às outras pessoas, você considera desprezível? Se está aí dizendo que não considera desprezível o tempo alheio, então, por que você cultua a famigerada, a maldita, a imbecil cultura brasileira do atraso?!?

Santo Agostinho, em seu livro “Confissões” diz que “o tempo não descansa, nem rola ociosamente pelos sentidos” e arremata no Livro XI dizendo que “Com efeito, o passado já não existe e o futuro ainda não existe”.

Ao final, parece que o santo chegou à conclusão que o tempo passa tão rápido que sequer existe, pois diz que sobre o tempo presente que “este voa tão rapidamente do futuro ao passado, que não tem nenhuma duração.

Pessoas que possuem a cultura de chegar atrasadas em compromissos ou de esperar que seus convocados ou convidados cheguem atrasados para demonstrar que são chiques, têm em si algum complexo, alguma síndrome a ser melhor estudada. Sentir-se-ão deusas, tais pessoas? Pensam ser Cronos, o senhor do tempo? Ou serão, nada além de ladrões do tempo alheio?!?

Sempre me questiono sobre a imbecilidade do costume brasileiro do atraso, pois no Brasil para ser considerado chique você deve atrasar seu relógio no mínimo 30 minutos para certos encontros e, em outros casos até 60 minutos (este último vale para festas de casamento e do High Society, por exemplo).

Se você é convidado para uma festa de aniversário, um casamento, um jantar na casa de alguém, um café com uma amiga ou amigo; se você é convocado por um superior hierárquico para uma reunião, se você vai à um culto/missa ou sessão espírita num templo, se você marca uma reunião num sindicato, associação, esteja preparado para que lhe roubem pelo menos 30 minutos do seu tempo.

Se cada minuto tem 60 segundos, esse atraso lhe rouba 1.800 segundos de vida. O que você poderia estar fazendo em mil e oitocentos preciosos segundos de sua vida? Poderia estar trabalhando, poderia estar dormindo, poderia estar ouvindo música, poderia estar comendo um delicioso bolinho de chocolate, poderia estar lendo, poderia estar conversando com amigos, poderia estar assistindo filmes ou séries que você gosta. Preencha as reticências com mais atividades que você gostaria der citar… Vamos, escreva comigo essa crônica…

Quando alguém rouba algo de valor de outra pessoa nossas leis chamam a essa conduta de crime. Como consequência ao crime preveem uma pena e, às vezes, o criminoso paga com seu tempo de liberdade, trocando-o pelo encarceramento.

Mas, o que fazemos com os Ladrões de Tempo. Damos-lhes tapinhas nas costas, cumprimentamos-lhes. Muitos de nós com desejos de estar em outro lugar fazendo o que realmente gostaríamos de fazer de nosso tempo.

Lembre-se que o tempo que você não vendeu ou trocou com alguém, é seu! O que resta de seu tempo é seu, enquanto a Ministra do Tempo, não bater em sua porta. Portanto, exija respeito pelo seu tempo, mas também respeite o tempo alheio!

Se juntos iniciarmos um movimento explícito de protesto e exigirmos respeito pelo nosso tempo; se nós que somos obrigados pelos costumes, pelo “politicamente correto” a permanecer inertes como instrumento de uma orquestra, regidos pela batuta de imbecis que se acham senhores de nosso tempo, nos revoltarmos, então mudaremos essa cultura estúpida do atraso e deixaremos de ser guiados pelo estalo do chicote dos idiotas…

 

Bom Carnaval. Só voltarei a publicar textos na coluna “Foco no Social”, no sábado, dia 9/3. Não perca o próximo artigo: “O Decálogo da Reunião Produtiva”.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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