Hoje, venho aqui falar da minha experiência recentemente com esse vírus que tem abalado e parado o mundo, o coronavírus.
Por: Shirle Andrade
Eu acompanhava nas redes sociais, nos noticiários a proliferação dele, a gravidade, seus efeitos e danos causados num todo.
Vinha cumprindo o isolamento, trabalhando home office, me privando de encontrar amigos e família, saindo apenas o necessário, também fazia piadas e brincadeiras nas minhas redes sociais, entre amigos.
Porém, como a maioria das pessoas, achava que isso estava bem distante de mim, tanto que na véspera do feriado da sexta feira santa, saí para mercado e feira livre aqui em Recife, tomando cuidado de usar álcool em gel, mas, sem fazer uso da máscara, dois dias depois, comecei a ter dor de cabeça a noite, mas não imaginei que pudesse está infectada, no outro dia acordei com tremores, sentindo tontura, no decorrer do dia sentindo um ardor leve na garganta, em seguida uma tosse seca já acompanhada de um cansaço, veio no outro dia febre,dor nos olhos, no corpo, barriga, perda total de paladar e olfato, falta de ar, dor ao respirar, enfim, 60 horas após o primeiro sintoma fui hospitalizada com quadro de infecção respiratória.
Quando a médica me falou que eu não voltaria para casa, que iria me transferir de ambulância para um hospital, pedindo para informar ao meu filho que me aguardava do lado de fora e sem ter contato com ele, nossa! confesso que não acreditei, ali, eu já estava isolada da minha família, segui só, contato apenas por telefone.
No hospital, além de não poder ter alguém da família comigo, não receber visitas, também eu não sabia quem eram os médicos, enfermeiros, pois, todos usavam equipamentos, só era possível ver os olhos, mas, todos trabalhando com uma dedicação, um carinho, uma entrega e cuidado admirável.
Eu senti na pele os efeitos desse vírus, mesmo depois da alta hospitalar, segui tratamento em casa por mais uns 20 dias, não foram dias fáceis, sentia muito cansaço, por três vezes quase voltei ao hospital, depois disso ainda me sentia impossibilitada de fazer atividade física e sensibilidade na mudança de clima até final da semana passada.
Foi muito gratificante e confortante o apoio, o carinho e a solidariedade de amigos, família, vizinhos e até desconhecidos, obtive muito aprendizado. Agradeço cada mensagem, cada oração, isso é muito confortante, senti que apesar de isolada não estava só.
A verdade é que só sabe quem passa ou quem tem um familiar ou amigo próximo nessa situação,mas, infelizmente é que muita gente tem ignorado a gravidade, porque se criou um mito de que só é grave em pessoas acima de 60 anos ou portador de alguma doença, mas, na verdade essas pessoas tem um risco maior, porém todos somos vulneráveis e sim com gravidade podendo ser fatal, isso é realidade.
Muitas pessoas tem tido um comportamento egoísta e até irresponsável, o que é lamentável, porque tem sintomas suspeitos, mas, que por serem leves, não estão tendo o devido cuidado, porém, esse vírus tem sido imprevisível, se comporta de forma diferente em cada pessoa.
Esse vírus pode matar qualquer pessoa. Uma das coisas que me chamou a atenção nesse momento, foram as diversas mensagens e ligações que recebi e tenho recebido me perguntando que medicamentos fiz uso, tanto quando estive hospitalizada, como em casa, me pedindo nomes, porém, não tenho dado essas informações, primeiro, porque as medicações usadas no hospital, tem que ser feita no hospital; segundo, que cada pessoa tem um quadro diferente e com isso um tratamento diferente; terceiro que se automedicar é perigoso.
Me perguntam se fiz uso de hidroxocloroquina ou cloroquina, não fiz, fiz uso de medicamentos mais fortes, como falei, cada paciente tem um tratamento específico de acordo com o estágio da doença diagnosticado pelo médico. Esse vírus é perigoso, além de atacar o pulmão, pode atacar o sistema nervoso central, rins e até o coração, bem como causar trombose segundo médicos especialistas.
Me assusta saber que muitas pessoas tem morrido em casa sem se quer ter ido ao médico. Estamos sim vivenciando uma guerra em todo planeta, sem armas, onde o maior inimigo é invisível e tem causado um grande estrago e inúmeras perdas, onde as maiores perdas são vidas, que são vistas por muitos apenas como números, mas, que deixam de ser números e passam a ser identidades quando chega até você ou sua família. Aproveito aqui para parabenizar todos os profissionais da saúde, que não tem sido fácil para eles esse momento.
Faço aqui um apelo: levem a sério, se cuidem, cuidem dos demais, tomem todo cuidado, e, não tomem remédios por conta própria, esse vírus é traiçoeiro. Já me questionaram o porque de não ter tratado logo nos primeiros sintomas, não houve tempo, porque em mim o vírus já chegou com todos os sintomas agindo rápido.
Hoje, piadas em redes sociais com o vírus, com a quarentena, com o isolamento social para mim perderam a graça, entendo a importância do distanciamento social. A economia pode se salvar, ressuscitar, porém vidas, uma vez perdida, é irreparável.
Gratidão a Deus por tudo!
Por: Shirle Andrade