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CAPÍTULO 35: O DILEMA DA LEALDADE DIVIDIDA ENTRE NAÇÃO E ESTADO. Episódio de hoje: Single Tax e a doutrina da Reforma Agrária!

Direto de Brasília-DF.

O movimento do Single Tax ou tributação do valor da terra, ou ainda, da reforma agrária, pretendeu, em sua origem, a socialização da propriedade rural e cobrança de um valor justo de cada proprietário. 

Quando o  ser humano ainda era nômade, ninguém se preocupava com propriedade privada. Mas, quando se tornou sedentário e desejou fixar residência em determinado “pedaço” de terra, esse pensamento somado ao de seus vizinhos, provavelmente fez nascer a necessidade da cercas e delimitações nos terrenos que ocupavam, para a prática da agricultura e pecuária de subsistência.

O mundo feudal durou milênios e esteve nesse período governado pelos senhores ou “barões” da terra. Quanto mais posse de terras, mais riqueza e poder. Títulos imobiliários foram as maiores fontes de riqueza de Impérios, Monarquias e da Igreja Católica e em consequência, passaram a ver como inimigos a qualquer autor de programa político que pretendesse diminuir a abrangência de suas posses.

Aos proprietários de terras, cultivadas ou não, cabia o direito ao uso, gozo, posse e domínio sobre elas, inclusive, arrendá-las a quem desejasse. Os arrendamentos, sempre favoráveis aos arrendadores, não liberavam mais de 1/3 ao arrendante, que ao final arcava com tantas despesas que mal extraia o suficiente para si e família, daquilo que produzia.

Na medida em que o mundo se urbanizava e as pessoas eram atraídas para as cidades, a “mecânica” social muda e o sustento da crescente população passa a depender mais da produção no campo. Os fazendeiros e donos de terra sentiram sua importância, mas ao mesmo tempo o desprezo por parte dos governos centrais. Afinal, arar a terra, compra as sementes, cultivar, colher e distribuir requeria despesas que recaíam somente sobre o arrendatário, o camponês pobre.

O tempo passou, mas a balança do tempo continuou pendente sempre em favor do dono da terra. A Revolução Industrial veio e a mecanização do campo trouxe ainda mais despesas na medida em que a tração humana foi substituída pela tração animal e, posteriormente, a mecânica. A linha da demanda por alimentos jamais entrou na descendente.

O centro gravitacional de doutrinas sociais que pretendiam reformar o mundo, ora estava na França ora na Inglaterra. Foi nesta que no século XVIII, Thomas Spence e no século seguinte, John Stuart Mill protestaram contra a apropriação das rendas dos campesinos. Afinal, não eram eles que “alimentavam as cidades”?!? Porque sofriam tanto com a opressão dos Reis, do Clero e demais governantes?

Henry George, ao escrever o livro “Progresso e Pobreza”, dedicou sua vida a lutar pela  reforma agrária. O cerne de sua tese era que “a verdade da qual não pode haver escapatória é que não pode haver apenas um título para uma posse exclusiva do solo, e que a propriedade privada em terra é um erro tão ousado como o da escravidão”.

Henry explicava que no surgimento do Império Romano a terra era centrada em suas  necessidades e que após sua queda a posse da terra voltou ao uso comum dos cidadãos e, era assim que devia ser. A terra deveria estar no uso comum dos cidadãos e não em mãos de uma minoria dominante, apenas.

O cerne do problema para Henry George estava nos valores do coletivo e do individual. Ele disse: “Aqui estão dois princípios simples. Ambos são auto-explicativos. 1) Que todos os homens têm direitos iguais ao uso e desfrute dos elementos fornecidos pela Natureza. 2) Que cada homem tem um direito exclusivo ao desfrute do que é produzido pelo seu próprio trabalho “.

Tenha-se em mente que a política de reforma agrária ou do imposto único sobre a propriedade privada nada tinha a ver com Socialismo de qualquer espéce. De acordo com o cientista político Louis Wasserman (em seu livro Modern Political Philosophies) Henry George advogava que havia cinco vantagens na adoção desta política. Ei-las:

“1 – O imposto único seria recolhido de forma fácil e direta, através da utilização de agências e métodos já estabelecidos;

2 – O imposto único não poderia ser transferido para outro indivíduo ou produtos;

3 – Que o imposto único seria certo em sua incidência, pois a terra não pode ser escondida, nem seu valor controvertido;

4 – Que o imposto único proporcionaria receitas adequadas para todos os fins normais; e

5 – Que o imposto único satisfaria a demanda democrática ou a igualdade de oportunidades, uma vez que é um imposto sobre a herança comum em que todos comandam uma parte igual”.

O movimento do Single Tax ou imposto único acompanhado de reforma agrária conseguiu eco em várias partes do mundo, ainda que sempre de forma acanhada. A tributação única ou imposto único é, ainda mais raro em termos de aplicação mundial. 

Modernamente o professor da Universidade de Heidelberg Paul Kirchhof é um dos que seguem defendendo o Imposto Único. Alega que com ele se torna muito mais fácil combater a evasão e as fraudes fiscais, evitando a proliferação insana de alíquotas e regras que fabricam, muitas vezes, estruturas tributárias complexas e de custo elevado para o setor público e privado.

No Brasil, por exemplo, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) estimava que somente entre 1988 e 2004, foram editadas 219.796 normas tributárias, entre leis, decretos, MPs, etc. Nessa mesma época o “Fórum Econômico Mundial” classificou o sistema tributário brasileiro como o mais ineficiente entre 117 países consultados.

O Brasil é o país das promessas, da “conversa vazia”! Por aqui seguimos sempre nos indagando: Sonega-se porque há muito tributo ou porque há muito tributo sonega-se?

Nossa tradição na política tributária nos estereotipa com a fábula do cachorro que corre atrás do próprio rabo.  Criamos um emaranhado de alíquotas e tributos em que o setor privado seguirá sonegando devido à miserável e estúpida carga tributária imposta pelo Estado e, o Estado a sua vez, seguirá criando tributos ou aumentando alíquotas para arrecadar mais, alegando a grande incidência de sonegação.

Sempre que me pergunta se o Brasil tem solução insisto em dizer que o que falta para resolvermos nossas questões é vontade política e bom senso. Um Imposto único facilitaria a vida de todos e de fato seria uma arma eficaz no combate à evasão e à corrupção com dinheiros públicos. Mas, de fato, quem de verdade quer isto, neste Brasil em que a cultura de corrupção agrada a “gregos e troianos”?

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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