Direto de Brasília-DF.
Brás Cubas, o “Dom Quixote” de Machado de Assis diz “Viva, pois a história, a volúvel história que dá para tudo; e, tornando à ideia fixa, direi que é ela a que faz os varões fortes e os doidos; a ideia móbil, vaga ou furta-cor é a que faz os Cláudios”.
Cada uma das doutrinas sociais aqui apresentadas possui pontos fortes e fracos, loucuras e virtudes. O que não se pode negar, em qualquer momento, é que a ideia tenha sido móbil, vaga ou furta-cor, nem tampouco que seus autores tenham sido claudicantes. Eles as defenderam com toda sua crença e sua alma. Nenhum deles cria em coisa que nem edifica nem destrói, porque todos pretendiam, no mínimo, uma reforma, na situação vigente e todos pretendiam, ao meu ver, uma sociedade mais justa. Não ponho desconfiança nos fins, mas nos meios pretendidos…
Por meio dos artigos anteriores desta série você já sabe que havia muita tensão entre governo, empregadores e empregados na Europa do Século XVIII e XIX. Sabe, também, que do marxismo brotou o socialismo, o comunismo; que o Sindicalismo misturava fundamentos do Comunismo e do Anarquismo.
Nessa linha de raciocínio, creio que você se recorda que as doutrinas sociais estavam todas se digladiando para encontrar seu lugar na política e na construção de uma nova sociedade na qual houvesse justiça. Cada uma delas com algumas pequenas diferenças umas das outras e todas querendo um novo mundo para um novo homem.
Para entender o Socialismo de Liga ou de Grêmio, que iniciou no início do Século XX na Inglaterra, sugiro que você pense nas grandes Ligas de Futebol. Por exemplo,
Premier League inglesa, Serie A italiana, Bundesliga alemã, Série A do Brasil. Você já notou que elas congregam centenas de trabalhadores/ Que os clubes giram uma economia maior que a economia de muitos países do mundo?
Os clubes de futebol pagam salários, contratam serviços vários, dispõem de plano de saúde para seus filiados, direitos trabalhistas etc.
É um exemplo parecido com o funcionamento do Socialismo de Liga ou Grêmio, cujo lema é pouco diferente do Socialismo, do Socialismo Cristão ou do Socialismo Fabiano. Afinal, pregam que os meios de produção capitalistas devem ser transferidos para a propriedade comum de todos os trabalhadores.
O Socialismo de Liga ou Grêmio pregava uma espécie de retorno ao sistema medieval em que cada grupo de artesãos, por sua independência própria, geraria riqueza suficiente para a auto sustentação do grupo.
A ideia era abolir o sistema de salários e criar um sistema industrial auto governável pelas Ligas de trabalhadores, de modo que o somatório de todos os grupos girassem a roda da economia do País, juntamente com os esforços de outras Instituições sociais, inclusive do Estado.
O Socialismo de Grêmio defendia a harmonização das demandas e direitos individuais com o coletivismo da produção industrial e comercial. Em cada indústria haveria representantes das Ligas/Grêmios e seriam essas lideranças que em conjunto tomariam as decisões sobre a industrialização do país e, por conseguinte, da economia nacional.
O Socialismo de Liga ensinava que cada pequeno grupo (como se fosse um time de futebol) teria sua administração própria e no final todos os pequenos grupos comporiam o Socialismo de Liga que produziria o crescimento industrial para o desenvolvimento nacional.
Pode-se dizer que o “Sindicalismo”, na medida em que acreditava e aceitava a possibilidade de uma transição do Capitalismo ao Socialismo por meios legais e não pela revolução a ser impulsionada pela força das armas.
O maior idealista do Socialismo de Grêmio foi G. D. H. Cole, que em 1915 criou a Liga Nacional de Grêmios. Bertran Russel na Inglaterra e John Dewey nos EUA, foram dois filósofos proeminentes, anticomunistas, mas influenciados pelo Socialismo de Grêmio, que se extinguiu em 1925.
Note que grande parte das doutrinas sociais começam como um movimento e terminam como um monumento. O Capitalismo, ao invés, segue se fortalecendo. Por que? Talvez porque seja de todas as doutrinas a mais flexível e, por isto, esteja mais em consonância com a evolução. Afinal, pessoas ou estruturas que não evoluem não acompanham a marcha existencial. Em razão disto são deixadas pela vida, no passado e, se o Mercado é tão vivo quanto os economistas querem fazer parecer, não há razão para ele, o Mercado, absorver o que a própria vida descarta…