#ÉPERNAMBUCOEMFOCO

CAPÍTULO 25: O DILEMA DA LEALDADE DIVIDIDA ENTRE NAÇÃO E ESTADO. Episódio de hoje: Utopianismo, o movimento que vai influenciar Karl Marx!

Direto de Brasília-DF.

Talvez você se interesse mais pelo Utopianismo se eu te disser que foi essa doutrina social que influenciou Karl Marx a criar e sistematizar o  Marxismo, que dá origem ao Socialismo e ao Comunismo.

Utopianismo é a doutrina social que busca uma sociedade perfeita, que preencha todos os ideais humanos de Justiça e bem estar.

Há uma vasta literatura utópica, mas nenhuma tão famosa quanto o livro “Utopia” de Thomas More. O que gerou este movimento no interior de tantos escritores como James Harrington, Saint-Simon, Charles Fourier, Robert Owen, Edward Bellamy e os fez criarem tal doutrina social? O que gerou o desejo desses utópicos foi a injustiça social histórica e a vigente em seu tempo!

Thomas More, por exemplo, publicou seu livro durante o período de transição inglesa entre a idade medieval e o surgimento do mercantilismo. Época em que o lucrativo cultivo de lã fez com que vastas áreas de terras fossem usadas não mais para a agricultura de subsistência, mas para criação de ovelhas. Consequências? Milhares de arrendatários perderam o direito de cultivar a terra e a miséria social se multiplicou.

O que fez o Estado Feudal diante da multiplicação da miséria e da pobreza? Respondeu com prisões e execuções aos milhares de agricultores que não tinham o que comer, nem onde morar. Esse cenário fez Thomas More idealizar uma sociedade formada por pequenas comunidades nas quais os interesses de classes e a cooperação entre todas se amalgamassem, sem a existência de propriedade privada e, portanto, sem a ideia de lucro, uma vez que tudo seria de todos e todos seriam um só.

Perceba que os Utopistas (séc. XVII) foram os primeiros a estudar de forma sistêmica os “interesses classistas”, que no Século XVIII inspiraria Friedrich Engels e deste Karl Marx extrairia ideais preciosas para sistematizar o marxismo.

Outro livro utopista influente foi “A comunidade de Oceana” do politólogo James Harrington, no qual ele propala a reforma agrária como meio de pacificação dos conflitos sociais. Seu ideal era o de uma sociedade de leis e não de homens, com separação de poderes e eleições frequentes, parecido com o modelo que temos hoje, o que me faz crer que seus escritos influenciaram dois grandes pensadores que viriam depois dele, o filósofo francês Montesquieu com o livro “O Espírito das Leis” e o filósofo suíço Jean Jacques Rousseau, que escreve o livro “O Contrato Social”. Estes dois livros, aliás, mudariam a estrutura dos Estados de medieval para o que chamamos hoje de Modernos Estados Democráticos de Direito. 

O Utopianismo vai paulatinamente se tornar o que conhecemos como Socialismo, pela visão de compartilhar tudo com todos, reforma agrária e com a visão de que a propriedade privada era a raiz dos males sociais. Alguns utopistas como Saint-Simon chegam a dizer que “cada um deveria produzir de acordo com sua capacidade e ser retribuído da mesma forma que seu mérito individual contribuiu para a produção de qualquer bem”. Este pensamento de Saint-Simon será absorvido pelo comunismo, regime no qual a herança foi abolida por não guardar relação com a meritocracia. Em outras palavras ninguém herdava a riqueza para a qual não havia  contribuído com sua formação. Assim, o patrimônio dos mortos eram herança do Estado que, em tese, era o cuidador de todos.

Talvez o utopista de mais larga visão tenha sido Edward Bellamy. Ele apregoou o sistema obrigatório de trabalho dos 21 aos 45 anos e após isto seguia-se à aposentadoria para que o cidadão pudesse se dedicar ao ócio criativo, à cultura e às mulheres deveria ser a assegurado direitos iguais aos dos homens em qualquer área laboral.

Os utopistas falharam por serem excelentes teóricos e sonhadores, porém péssimos realizadores e débeis em perceber que a motivação humana para a acumulação de riqueza e para a propriedade privada sempre foi e será maior que o espírito comunitário que quer dividir tudo com todos.

A ingenuidade dos utopistas foi seu grande “calcanhar de aquiles” ao fazê-los crer numa solidariedade universal capaz de unir todos os homens e fazê-los pensar e agir igualmente em tudo. Eis porque tenho insistido que a chave do desenvolvimento não está na “igualdade”, mas no respeito às diferenças. Eis aqui um motor gerador de criatividade e de progresso.

Pois bem, foi esse olhar ingênuo e a crença numa vida comunitária dentro do princípio do “comunismo” de práticas e ideias que pavimentou a estrada para o marxismo, sobre o qual falaremos no próximo episódio.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *