Direto de Brasília-DF.
Talvez você se interesse mais pelo Utopianismo se eu te disser que foi essa doutrina social que influenciou Karl Marx a criar e sistematizar o Marxismo, que dá origem ao Socialismo e ao Comunismo.
Utopianismo é a doutrina social que busca uma sociedade perfeita, que preencha todos os ideais humanos de Justiça e bem estar.
Há uma vasta literatura utópica, mas nenhuma tão famosa quanto o livro “Utopia” de Thomas More. O que gerou este movimento no interior de tantos escritores como James Harrington, Saint-Simon, Charles Fourier, Robert Owen, Edward Bellamy e os fez criarem tal doutrina social? O que gerou o desejo desses utópicos foi a injustiça social histórica e a vigente em seu tempo!
Thomas More, por exemplo, publicou seu livro durante o período de transição inglesa entre a idade medieval e o surgimento do mercantilismo. Época em que o lucrativo cultivo de lã fez com que vastas áreas de terras fossem usadas não mais para a agricultura de subsistência, mas para criação de ovelhas. Consequências? Milhares de arrendatários perderam o direito de cultivar a terra e a miséria social se multiplicou.
O que fez o Estado Feudal diante da multiplicação da miséria e da pobreza? Respondeu com prisões e execuções aos milhares de agricultores que não tinham o que comer, nem onde morar. Esse cenário fez Thomas More idealizar uma sociedade formada por pequenas comunidades nas quais os interesses de classes e a cooperação entre todas se amalgamassem, sem a existência de propriedade privada e, portanto, sem a ideia de lucro, uma vez que tudo seria de todos e todos seriam um só.
Perceba que os Utopistas (séc. XVII) foram os primeiros a estudar de forma sistêmica os “interesses classistas”, que no Século XVIII inspiraria Friedrich Engels e deste Karl Marx extrairia ideais preciosas para sistematizar o marxismo.
Outro livro utopista influente foi “A comunidade de Oceana” do politólogo James Harrington, no qual ele propala a reforma agrária como meio de pacificação dos conflitos sociais. Seu ideal era o de uma sociedade de leis e não de homens, com separação de poderes e eleições frequentes, parecido com o modelo que temos hoje, o que me faz crer que seus escritos influenciaram dois grandes pensadores que viriam depois dele, o filósofo francês Montesquieu com o livro “O Espírito das Leis” e o filósofo suíço Jean Jacques Rousseau, que escreve o livro “O Contrato Social”. Estes dois livros, aliás, mudariam a estrutura dos Estados de medieval para o que chamamos hoje de Modernos Estados Democráticos de Direito.
O Utopianismo vai paulatinamente se tornar o que conhecemos como Socialismo, pela visão de compartilhar tudo com todos, reforma agrária e com a visão de que a propriedade privada era a raiz dos males sociais. Alguns utopistas como Saint-Simon chegam a dizer que “cada um deveria produzir de acordo com sua capacidade e ser retribuído da mesma forma que seu mérito individual contribuiu para a produção de qualquer bem”. Este pensamento de Saint-Simon será absorvido pelo comunismo, regime no qual a herança foi abolida por não guardar relação com a meritocracia. Em outras palavras ninguém herdava a riqueza para a qual não havia contribuído com sua formação. Assim, o patrimônio dos mortos eram herança do Estado que, em tese, era o cuidador de todos.
Talvez o utopista de mais larga visão tenha sido Edward Bellamy. Ele apregoou o sistema obrigatório de trabalho dos 21 aos 45 anos e após isto seguia-se à aposentadoria para que o cidadão pudesse se dedicar ao ócio criativo, à cultura e às mulheres deveria ser a assegurado direitos iguais aos dos homens em qualquer área laboral.
Os utopistas falharam por serem excelentes teóricos e sonhadores, porém péssimos realizadores e débeis em perceber que a motivação humana para a acumulação de riqueza e para a propriedade privada sempre foi e será maior que o espírito comunitário que quer dividir tudo com todos.
A ingenuidade dos utopistas foi seu grande “calcanhar de aquiles” ao fazê-los crer numa solidariedade universal capaz de unir todos os homens e fazê-los pensar e agir igualmente em tudo. Eis porque tenho insistido que a chave do desenvolvimento não está na “igualdade”, mas no respeito às diferenças. Eis aqui um motor gerador de criatividade e de progresso.
Pois bem, foi esse olhar ingênuo e a crença numa vida comunitária dentro do princípio do “comunismo” de práticas e ideias que pavimentou a estrada para o marxismo, sobre o qual falaremos no próximo episódio.