Direto de Brasília-DF.
Abrahan Lincoln, presidente norte americano disse em seu discurso no cemitério de Gettysburg que “democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”, também disse que devemos ter paciência com ela e crer, por fim, na justiça suprema do povo.
Muito antes de Lincoln, ainda na Grécia clássica, Aristóteles disse que democracia é, apenas, dos males o menor. Provavelmente, tinha a consciência que esperar perfeição de qualquer sistema criado pelo ser humano é ingenuidade.
Na Grécia, por exemplo, somente os cidadãos nascidos nas Cidades-Estado gozavam de todos os privilégios como eleger e votar nas assembleias. Cidadãos residentes e escravos não passavam de uma grande massa subserviente. Não havia, portanto, a universalidade da igualdade social como princípio basilar da organização social na democracia original.
O professor Louis Wassermann explica que os romanos não eram tão dados ao estudo como os gregos, mas foi na República Romana (período que vai aproximadamente de 509 a.C a 27 d.C, quando se instala o Império) que agregou duas características vitais à democracia criada na Grécia. A primeiro foi a noção de que toda autoridade política deriva da vontade suprema do povo (o que hoje chamamos de Poder Constituinte legitimador) e a segunda característica foi a introdução do princípio da igualdade entre os seres humanos. Este último princípio vai sofrer altos e baixos, até que se sedimenta de vez no século XIX e se torna uma espécie de sub-doutrina da democracia, visto que esta requer liberdade e igualdade entre os cidadãos.
Entre os séculos XIV e o fim do século XVI a igualdade e a liberdade foram reinventadas. Este período entrou para história como Renascentismo ou Renascença. Neste período a influência dogmática do cristianismo católico romano e seu teocentrismo cedeu espaço para a ciência. Foi quando o homem redescobriu o poder de duvidar, exatamente como faziam os gregos antigos. A dúvida fez o homem ocupar o centro de seu universo e ocupar esse espaço de poder, dantes vazio.
O antropocentrismo se tornou um dos motores da democracia moderna, a permitir a expansão da liberdade, da igualdade(em meio a toda desigualdade que o capitalismo propicia) e à percepção da invidividualidade. Até então, o homem existia praticamente sem visão periférica. Olhava para cima, para seu Deus tido como autor e consumador de todas as coisas, enquanto olhava para os lados e via seus semelhantes como criaturas sem grandes possibilidades de realizações que não fossem cultuar seus deuses.
O Renascimento permite ao homem “deixar Deus um pouco de lado” e investigar, duvidar, olhar para os astros e dissociar tal imagem de céu. A astronomia prova que o azul celeste3 não passa de percepção de cor e que o céu pode não estar no espaço cósmico infinito.
Mesmo a religião sendo elemento importante de psicossocialidade, poder se desprender de seu dogmatismo permitiu ao gênio criativo do ser humano criar asas.
Sentindo o perigo de um ser humano mais voltado para a ciência que para o dogma, a Igreja retomou o poder de forma ferrenha entre os séculos XVI e XVIII e a democracia mergulha em uma fase quase criogênica, como se fosse um cadáver congelado para ser ressuscitado somente a partir do século XIX e, ainda, assim, apenas em algumas partes do mundo e, com muita luta contra a interferência de ditadores de direita e de esquerda.
Não há, até hoje, melhor parceira da democracia que o capitalismo. Eles se completam em sua imperfeição! A democracia porque é o governo do povo e o capitalismo porque permite o povo governar a partir de seu gênio criador individual sem a interferência absoluta do Estado.
Continua…