Direto de Brasília-DF.
Nesta série de entrevistas abordaremos os prós e contras das aulas presenciais e on-line, impostas pela pandemia do Coronavírus/Covid-19, sob a perspectiva dos diretores de escolas públicas.
Hoje entrevistamos Aretuza Pires Maciel vice diretora do CEF-JK, Planaltina-DF que atende de educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental no diurno e 1ª a 8ª etapa da Educação de Jovens e Adultos no noturno.
Judivan Vieira: Há quanto tempo atua como vice diretora? Quantos alunos e turnos há na escola em que atende?
Eu estou na vice direção da escola há 6 anos. Hoje atendemos 92 alunos no 2º período da educação Infantil, 644 alunos no Ensino Fundamental diurno e 149 alunos na Educação de jovens e adultos no noturno.
Judivan Vieira: A pandemia do Coronavírus/Covid-19 foi identificada em outubro de 2019. Quando de fato ela começou a afetar as atividades de sua escola e quais os efeitos que impôs ao seu dia-a-dia, em relação à escola, professores, orientadores educacionais, e alunos?
A partir de 12 de março de 2020 as aulas foram suspensas. Retomamos as atividades, de forma remota (não presencial) no mês de junho de 2020.
Judivan Vieira: Após quase dois anos de pandemia você já consegue identificar prós e contras dos dois sistemas de aula, o presencial e o on-line?
Os pontos positivos do ensino presencial são: a interação mais próxima do professor com o aluno, a socialização e troca de aprendizagens entre os alunos, a facilidade do professor em identificar e intervir nas dificuldades que surgirem. É mais fácil chamar a atenção das crianças para si e para a sua aula, presencialmente. Crianças se distraem facilmente, e o ambiente pode contribuir para aumentar essa distração. Percebi que durante o ensino não presencial tivemos um baixo rendimento na aprendizagem.
Os pontos negativos do Ensino presencial, em se tratando do retorno em meio a pandemia, são, certamente, o aumento do risco de contaminação de profissionais, alunos e familiares. Além das questões financeiras das famílias com transporte, vestimentas, materiais escolares etc., que o ensino presencial exige muito mais. Também incluo a logística da família em cumprir os horários da escola. O horário rígido da aula no ensino presencial acarreta perda de conteúdo para o aluno que em determinado dia letivo não comparecer à escola, o que não acontece nas aulas e atividades ofertadas nas plataformas digitais.
A meu ver, as principais dificuldades no ensino não presencial foram o aumento nas desigualdades de acesso as aprendizagens, visto que boa parte dos alunos da minha comunidade não tiveram acesso à internet de qualidade, a um aparelho de celular ou computador e as vezes até a um ambiente adequado aos estudos. Não são todas as crianças que têm família com conhecimento ou disponibilidade de tempo para dar o suporte que precisam.
Judivan Vieira: Em sua avaliação a dinâmica da escola, ou seja, seu funcionamento em relação aos agentes de ensino e aos alunos é melhor adaptável à aula presencial ou on-line?
A escola funciona melhor no presencial.
Judivan Vieira: Como diretor prefere o sistema presencial, on-line, ou o misto. Explique o porquê de sua preferência.
Em se falando de continuação da educação pós pandemia, eu acho que seria interessante um sistema misto de ensino. Mas todos juntos. Todos no presencial uma parte do dia, e todos com atividades complementares on-line, em outra parte do dia. Desde que todos tivessem acesso à tecnologia para as atividades on-line.
Judivan Vieira: Considerando que a pandemia colocou em destaque o ensino a distância (EAD), acredita que esse sistema é eficaz para todos os níveis de aprendizagem e em que medida?
Não Considero o Ensino a distancia adequado para a minha clientela, alunos de educação Infantil e em fase de alfabetização precisam interagir presencialmente com o professor e com outras criança da sua idade.
Judivan Vieira: Pessoalmente acredita que o método de ensino “livresco” e baseado no “decoreba” com matérias curriculares atuais é eficaz, ou seja, produz os resultados desejados?
Não acredito que métodos baseados somente em atividades impressas e memorização de conteúdos sejam eficazes. Mas também não acredito que desconsiderar toda atividade de memorização seja o melhor. Pessoas aprendem de formas diferentes. Quanto mais recursos e métodos forem disponibilizados aos alunos, melhor.
Judivan Vieira: Se pudesse, você incluiria quais disciplinas no currículo nacional e retiraria quais disciplinas atualmente existentes?
Eu acrescentaria disciplinas como inteligência emocional, direito, educação financeira, uso das tecnologias.
Judivan Vieira: Qual sua maior recomendação para os pais e também para os alunos, considerando as diferenças geracionais (geração X, Y, Z, etc.), em relação ao período escolar de preparação para o Mercado de Trabalho?
Não fiquem presos aos conteúdos e aprendizados escolares. É preciso ir além. Estudar mais, pesquisar mais. Se aprofundar nos assuntos de seus interesses.
Obrigado!
No próximo domingo, nova entrevista. Não perca! Divulgue, compartilhe, comente.