DR PAULA MEYER

A MALDIÇÃO DOS MINERAIS E O FUTURO DA ATIVIDADE PETROLÍFERA NO MUNDO – PARTE II

Seguimos com a série de artigos que tratam sobre a “maldição dos minerais” que é fartamente tratada na obra de Michael Ross intitulada como “Maldição do Petróleo: como a riqueza petrolífera molda o desenvolvimento das nações”.

Muito interessante retirar do pedestal a ideia de que a atividade petrolífera traz riqueza, prosperidade as nações que exploram essa atividade. Mas antes é importante contextualizar de forma pontual dentro de um contexto histórico essa “maldade”.

A atividade petrolífera data do final do século passado, ou seja, final do século XIX.  Até então as forças motrizes energéticas eram oriundas da lenha, carvão e outros recursos que não fossem o petróleo. Com a descoberta do petróleo e a sua adaptação à indústria em vários segmentos além da sua utilização no segmento de transportes a notoriedade do petróleo ganha força e fama.

E tão logo as nações pioneiras – Estados Unidos, alguns países da Europa, México – saíram a frente nessa corrida do ouro negro. Conjuntamente, o poderio de empresas estrangeiras tomaram lugar na seara internacional. Esse avanço de poder no entanto foi barrado nos anos 50-70 pelos estados nacionais que se apoderaram do direito em explorar a atividade petrolífera. Essa onda nacionalista está intimamente relacionada a ideia de que a riqueza do solo e subsolos nacionais deve pertencer ao Estado assim como o direito de exploração. Ademais, seria uma forma de enfraquecer ou minar o poder de barganha das empresas estrangeiras . Na época o Grupo das Sete Irmãs, importante grupo de empresas estrangeiras norte-americanas, era quem mais dominava os redutos europeus e alguns na Ásia e África com a infiltração de suas empresas na exploração e produção de petróleo.

Essa onda nacionalista por sua vez forneceu munição para a criação de grupos nacionalistas isoladamente como foi o caso da Organização de Países Produtores e Exportadores, conhecido como OPEP em 1960. O contexto político à época era na verdade a construção de blocos nacionalistas, grupos de produtores locais afim de deter a qualquer custo o poder em dominar áreas de produção e de exploração de petróleo e gás.

Percebemos claramente a guerra política em torno dessa atividade cujos desmembramentos são sentidos até os dias atuais. Apesar da ampla formação de vários blocos de países locais, a maldição dos recursos minerais ocorre pois a atividade petrolífera  não transborda de forma significativa para os demais setores da economia.

Esse efeito transbordante ou multiplicador fraco em toda a economia é conhecido recebeu o nome de “doença holandesa”. Essa “doença” decorre justamente pelo fato de que o esforço direcionado a setores de baixo valor agregado e exportação pulsante para esses produtos mina de certa forma o transbordamento para outras atividades. E o resultados é o processo de desindustrialização. A especialização digamos assim em setores exportadores de commodities enfraquece as atividades dos outros setores da economia cujo valor dos produtos é de maior valor agregado.

Bresser Pereira atribui a essa tendência a “falha de mercado” e  ao fato de estar intimamente associada a abundância de recursos naturais e a sua produção a um baixo custo. No médio prazo, a valorização do câmbio reduzirá a margem de lucro dos exportadores, e isso acabará prejudicando a atividade econômica. Por outro lado, quando ocorre um boom de commodities, muitas vezes as receitas em moeda estrangeira vão para atividades pouco produtivas ou de consumo imediato. No entanto, as commodities são marcadas por ciclos e, quando eles entram em declínio, esse consumo imediato e menos qualificado é o que mais sofre.

Em suma, o vemos aqui os malefícios da face de um país ser detentor em abundância dos recursos naturais e mais uma vez a “maldição do petróleo” se confirma. Veremos nos próximos artigos, as outras “maldades” listadas pelo autor Ross.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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