Direto de Brasília-DF.
A Grécia antiga (período que vai do séc. XX até o ano 400 a.C.) não era bem um lugar do qual se pudesse esperar vir tantos legados para o mundo.
De alguma forma essa história faz-me lembrar do diálogo entre alguns discípulos de Jesus, o Cristo, registrado no livro de João. A coisa aconteceu assim: Filipe encontra Natanael e diz-lhe: – Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José! Natanael respondeu-lhe: – Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré? Filipe, então, sem pestanejar retrucou: – Vem e vê!
Por que o aprendiz Natanael se julgou no direito de duvidar que Jesus fosse um cara digno de ser ouvido e seguido? Simplesmente, por causa de sua procedência! Afinal, ele nascera numa aldeia miseravelmente pobre, chamada Nazaré. Algo comparado com as favelas miseravelmente pobres de Caracas, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e outras.
A grande questão para Natanael era a mesma que inúmeras pessoas seguem formulando nos dias de hoje: como esperar algo bom de um nordestino ou um nortista dos “cafundó do judas”? Como crer que uma pessoa simples seja digna de crédito? Como crer que um negro, um indígena ou um LGBTQ seja capaz de ser um “ser humano” e, como tal, digno de respeito?
Quando alguém é ignorante e, lembre-se que ignorância significa, apenas, não saber de alguma coisa, eu não me espanto. Me causa espanto e desprezo quando alguém tem a oportunidade de aprender o certo e em nome de cegueira política, religiosa ou outra cegueira ideológica qualquer(discriminatória e preconceituosa), insiste em se manter fechado à evolução.
Essa semana eu terminei de ver a série The Hot Zone – A história do Ebola, produzida pela National Geographic (baseada em fatos reais) e duas frases me chamaram à atenção. No último episódio o curandeiro da tribo onde houve um dos maiores surtos do vírus no Zaire(antiga República do Congo) na África, pede a um dos cientistas norte americanos que investiga o surto e que se tornara seu amigo, que toque fogo no seu corpo já totalmente infectado pelo Ebola. A razão? O curandeiro é considerado um homem sagrado e após sua morte todos os membros daquela e outras tribos amigas tradicionalmente viriam tocar seu corpo para dele receber o “espírito da virtude”.
Então, o curandeiro diz ao Dr. Carter: – Queime meu corpo para queimar também o vírus e evitarmos que a doença se espalhe e mate aqueles que tocarem em mim.
O Dr. Carter reluta muito diante da questão ética de praticar eutanásia no curandeiro e diz que prefere contar a todos que ele morreu pelo mortal vírus Ebola. Então, o curandeiro diz: – Você acha que as pessoas vão acreditar em você? Nas palavras de um simples e estranho mortal, ao invés de seguir a TRADIÇÃO de sua crença milenar?
Pois é! Eis aí uma frase que diz muito do que sempre foi e continua sendo nosso mundo. As pessoas com suas crenças seculares e até milenares tornam-se cegas para uma outra verdade que não seja a verdade que a tradição de seus antepassados e sacerdotes dos mais diversos credos cristalizaram como diamante em suas mentes. É por isto que religiosos radicais de qualquer credo seguem discriminando; é por isto que os que defendem bandeiras de partidos políticos seguem discriminando quem não partilha de sua ideologia e é por isto que a ignorância transforma-se em arrogância e a arrogância transforma-se em morte e misérias várias…
Essas questões que envolvem discriminação de toda e qualquer espécie são inúmeras vezes paridas no útero da arrogância de pessoas que de alguma forma se julgam “puros”, “santos”, “sem pecado algum”, “nobres”, ou “melhores” que as demais. Por estas e outras razões era difícil crer que daquela Grécia Antiga pudessem vir notícias boas e conhecimentos capazes de revolucionar o mundo, da mesma forma que Natanael olhou para a favela de Nazaré, em Israel, e perguntou aos demais: – Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré?
Nessas horas, felizmente, há algumas pessoas que mantém a mente aberta para novas possibilidades. São estes os que às vezes transformam sua própria vida e a vida de alguns ao seu redor. Algumas pessoas são como aquele cara, o tal de Filipe, que diante da dúvida de Natanael, respondeu sem pestanejar: – Vem e vê!
Quero te convidar a seguir lendo estes artigos e constatar que nessa visitação ao passado da História da Educação e do Ensino há respostas que explicam porque estamos cercados de ignorantes e, pior, de arrogantes que não se permitem transformar nem aceitam a transformação para melhor nas pessoas e no mundo.
Nessa série de artigos você entenderá até mesmo porque temos uma epidemia de Dengue no Brasil e o porquê de nem o Estado nem o Povo se importar com a prevenção, o combate, a repressão e a cura. Só no Distrito Federal, neste ano de 2019, século XXI, os casos já ultrapassam 3.000.
O Estado segue fingindo que nada ocorre e o povo segue negligentemente deitado nos braços da preguiça, ancorado na falta de educação e arrogantemente crendo que a morte pela Dengue é, apenas, “coisa do além” e não fruto de simples poças d`água na qual o mosquito põe suas ovas, ali, pertinho de cada um de nós…
Aquela Grécia à qual refiro como um país do qual não se podia esperar coisa boa era formada por um povo analfabeto, país montanhoso e terra infértil e rude. Como esperar algo bom de um cenário de aparente fracasso?
Responder a essa pergunta é tão difícil quanto responder como certas pessoas praticamente desenganadas pela vida por sofrerem os mais diversos tipos de discriminação em razão de cor, procedência, origem, condição econômica, opção sexual, etc., conseguem sobreviver. Mas, eu te asseguro que você pode ir além, porque eu estive nessa posição um dia. Eu te asseguro que você é capaz, se realmente confundir sua vida com seus próprios sonhos, porque pessoas assim, obstinadas, enxergam as barreiras como mais um obstáculo que será superado.
A Grécia antiga era desprezada e mesmo assim, dela veio o primeiro Iluminismo e a maior revolução do conhecimento que a história da humanidade antiga experimentou e que até hoje, nossos cientistas seguem confirmando ou contradizendo, mas jamais sendo indiferentes a ela.
É sobre essa história de tradição do período Homérico à evolução produzida por filósofos excepcionais na Educação e Ensino na Grécia, que escreverei os próximos episódios desta série de artigos.
Então, como diria Filipe: – Vem e vê!