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CAPÍTULO 39: O DILEMA DA LEALDADE DIVIDIDA ENTRE NAÇÃO E ESTADO. Episódio de hoje: Como surgiu o Fascismo Japonês.

Direto de Brasília-DF.

O Fascismo japonês estava identificado com o italiano e o alemão por algumas características semelhantes, tais como:

1 – A mesma dependência irracional de mitos e lendas que afirmam haver uma raça superior;

2 – O mesmo impulso imperial de domínio militar;

3 – A adoção de um Estado totalitário e assistencialista, que controla tudo;

4 – A existência humana concebida como parte de um rebanho e não de forma individual e com consciência crítica;

5 – A predominância de um socialismo, mais pendente ao Capitalismo de Estado.

Para a civilização ocidental parece difícil imaginar um Japão religiosamente fervoroso. Mas, a verdade é que desde sua fundação por volta de 27 séculos atrás, e até hoje, não há como compreender um mínimo da cultura japonesa sem entender um mínimo das crenças que formam sua psiquê (seu ser interior). Três crenças principais dominam o Japão: Shinto, Kodo, Bushido.

Shinto é a mais antiga das religiões ou crenças, que estabelece culto a uma grande variedade de divindades locais, na crença que estejam incrustradas em pedras, árvores, montanhas e em outros locais que sacralizam. Assim, não é de se estranhar, por exemplo, que a nova geração case com um holograma representado por uma boneca de pano, pois, para um Shintoísta qualquer coisa pode ser digna de possuir alma. Robôs, inclusive.

Shinto prega reverência ao Imperador, à família e às forças armadas e tem na obediência a essas “autoridades” seu código maior. A lealdade cega e a obediência inquestionável é virtude associada a uma suposta vocação ou “missão religiosa” de haver sido “chamado, separado, ungido” pelos deuses para esse servir ao Estado, na figura de seu Imperador.

O Kodo, por sua vez, é melhor entendido se pensarmos que ele foi uma espécie de “seita” derivada do Shinto. Kodo significa “o caminho do Imperador” e foi desenvolvido pelo General do Exército Imperial, Sadao Araki, com o fim de justificar o pensamento expansionista imperial japonês. 

A história demonstra que quando um povo une sua crença religiosa a um espírito belicoso e expansionista, (como fez o Cristianismo no passado e como faz, hoje, o Islamismo, por exemplo), a tendência é a cegueira coletiva e o expansionismo territorial imperialista , sem qualquer respeito para com quem pensa diferente.

O Kodo foi desenvolvido, portanto, como movimento “espiritual” legitimador do plano político-militar chamado “Grande Esfera de Co-Prosperidade da Asia Oriental”, uma vez que o Japão vinha de incontáveis guerras territoriais, culminando com outra invasão da  China, em 1937. Seu plano era fazer da Ásia o lugar de habitação da sua raça, “a raça superior”, com a mesma equivalência que tinha o Arianismo para os Alemães.

O Bushido é o código moral de conduta dos Samurais. Não é escrito, senão somente na “tábua do coração” de cada um deles, no qual a obediência à autoridade e as virtudes de guerreiro (virtudes militares) estão acima da própria vida. Isto explica, por exemplo o ritual HARA-KIRI. “Hara” (abaixo do umbigo) e “kiru/kiri” (corte), ritual suicida com morte lenta e dolorosa para demostrar coragem, honra, autocontrole e forte determinação.

Supostamente, com tais demonstrações o guerreiro abdica de sua vida pela honra de morrer gloriosamente sem entregar-se aos inimigos. 

Os pilotos suicidas, chamados Kamikazes (palavra que significa vento divino) eram conhecidos oficialmente como Tokubetsu Kōgekitai, que sem o animismo religioso Kodo e Bushido, queria dizer, apenas, “Unidade Especial de Ataque”. Eles praticaram o ritual Hara-kiri  na Segunda Grande Guerra Mundial, apenas com outra versão, ao se lançarem com seus aviões sobre os “inimigos”.

Esses rituais Kamikazes, se assemelham ao pensamento de Brás Cubas, personagem central de um dos livros de Machado de Assis, quando diz: “Eu agradeço ainda agora, do fundo do meu sepulcro…”.

Antes da Segunda Grande Guerra Mundial o governo japonês estava fundamentado em três instituições “sagradas”: A Casa Imperial, o Primeiro Ministro e o Exército. Após a derrota sobraram a Casa Imperial e o Primeiro Ministro.

Os quatro grandes dentre os Aliados que venceram a guerra (União Soviética, os Estados Unidos, o Império Britânico e a China) forçaram o Japão e acabar com suas forças armadas, restando no povo um espírito abatido e introvertido como as lavas do vulcão do Monte Aso, na parte central da ilha de Kyushu…

 

Não perca na próxima quarta-feira o season finale!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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