Direto de Brasília-DF.
O estoicismo é uma doutrina social fundada pelo filósofo Zenão de Cício (335-264 a.C.) que influenciou pensadores do seu tempo, a ética cristã, pensadores como Marcus Tullius Cícero, Lucius Annaeus Seneca, o imperador Marco Aurélio e, por aí vai. Foi esta ética que se caracteriza por uma vida sem perturbações com as coisas terrenas, sem as paixões pelas coisas materiais e fundadas na total liberdade individual concedida ao ser humano por “Deus” e pela Natureza, que inspirou o Anarquismo.
Anarquismo é uma doutrina sócio-política que considera desnecessários e perigosos o Estado, a Democracia e o Capitalismo, razão pela qual rejeita toda e qualquer espécie de hierarquia. Projeta, assim uma sociedade totalmente horizontalizada, entre “sócios” ou seres humanos economicamente iguais, que cooperem entre si.
O novelista e filósofo político inglês William Godwin sistematizou a filosofia anarquista dizendo que o “homem” é criatura totalmente capaz de transformar suas experiências sensoriais em inteligência e conduta moral; que a ele foi dada a liberdade para fazer suas próprias escolhas porque ele é, por natureza, um ser bom, sociável, cooperativo e racional. Será que o ser humano traz como parte de sua essência todas estas características positivas que Godwin enfatiza, ou será que ele está mais para o lobo devorando lobo, que Thomas Hobbes apregoa?
Godwin escreveu que “Aqueles que governam estão sujeitos, até mesmo contra suas melhores intenções a se tornarem arrogantes, egoístas, ciumentos de seus privilégios e esquecidos daqueles a quem representam”. Por estas e outras razões, dizia ele, nenhuma instituição deve governar sobre os seres humanos.
O Anarquismo se solidificou por breve período na Europa em um momento contemporâneo ás ideias socialistas. A diferença é que socialistas e comunistas aceitam hierarquia em vários estamentos, sendo o principal deles no Estado. Aliás, isto fez com que Pierre Proudhon, uma das maiores expressões do Anarquismo mundial, atacasse violentamente o Marxismo.
Proudhon dizia que propriedade privada é roubo, que o Estado é o maior inimigo do homem e que Governos existem como uma espécie de “Chicote” de Deus para açoitar o ser humano e lhe impor flagelo. Observe que em parte concordava com Socialismo e Comunismo, mas divergia veementemente na aceitação de qualquer hierarquia.
Foi Michael Bakunin e Peter Kropotkin que avançaram do Anarquismo como simples doutrina social para a ideia do Anarquismo Comunista, em que a revolução armada seria o meio de os trabalhadores derrubarem o Estado e sua hierarquia, pois este de um jeito ou de outro vai sempre querer se perpetuar no poder. A vitória verdadeira, segundo Bakunin e Kropotkin só viria com a queda total do estado e das classes sociais, pois enquanto os dois existirem a luta jamais cessará, diziam.
Nesse raciocínio bakuni-kropotkiano a tomada do poder seria o estágio anterior da liberdade final, para uma sociedade anarquista sem Estado e dominada somente por Sindicatos e Cooperativas nos quais os conflitos seriam resolvidos por meio de arbitragem.
Observe que todas as doutrinas sociais sobre as quais vimos escrevendo possuem uma fórmula própria para a felicidade, porque a busca pela felicidade é a maior de todas as buscas do ser humano. Mas, esta será uma temporada nova com episódios futuros sobre a qual pretendo desenvolver as ideias filosóficas de Epicuro, Aristóteles e Jeremias Bentham, os considerados “pais” deste capítulo espetaculamente lindo da filosofia.
O capitalismo anula a verdadeira individualidade porque cria uma sociedade interdependente da propriedade privada, diziam Bakunin e Kropotkin. Apesar de convergirem com o Comunismo na ideia da extinção da luta de classe, eis algumas distinções marcantes entre as duas doutrinas sócio-políticas:
1 – O comunismo defende ferrenhamente a existência do Estado;
2 – O Anarquismo condena veementemente a existência do Estado;
3 – O Comunismo vê no Capitalismo a maior de todas as ameaças para uma vida de felicidade comum;
4 – O Anarquismo vê o Estado como a maior de todas as ameaças para uma vida de felicidade comum;
5 – O Comunismo vê na hierarquia o método ideal de controle dos cidadãos;
6 – O Anarquismo rejeita qualquer tipo de controle, inclusive o estatal;
7 – O comunismo faz do Estado e sua opressão hierárquica o ditador de como ser, pensar e fazer;
8 – O Anarquismo rejeita qualquer imposição ao ser, pensar e fazer. Nele o homem deve ser individualmente livre.
Como escritor posso dizer ser bastante difícil encontrar outro escritor que não goste do novelista e autor de romances ficcionais, Lev Nikolayevich Tolstoy. Você já leu ou ouviu falar de algumas de suas obras como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”. Pois saiba que Tolstoy era um celebrado anarquista e que foi fundador do Anarquismo Cristão, uma forma mais suave de anarquismo.
Tolstoy não queria seguir a linha ateísta e por isto pregava uma transformação moral e espiritual do homem como meio de mudança social. Esta ideia, guardadas as devidas proporções entre o gênio dele e minha simples forma de pensar, é a mesma fórmula que venho defendendo para a transformação do Brasil, por meio do projeto educacional Ética Social, que criei, apresentei ao Governo Federal (em concurso promovido pela ENCCLA) e foi rejeitado no ano de 2017.
Leo Tolstoy disseminava por meio de seu Anarquismo Cristão, que tanto o Estado quanto a propriedade privada promoviam disruptura social e que essa disruptura é óbice à felicidade individual.
O Anarquismo teve existência curta e jamais conseguiu se firmar como modelo político. Mas, sobrevive em alguns pensamentos individuais. Por exemplo, se você tem acesso de alguma forma à TV à cabo ou a videos de programas apresentados pelo Discovery Channel ou National Geographic, observe que essa ideia anarquista sobrevive em vários programas que exibem cidadãos norte americanos que abandonaram a vida urbana para viver no meio do mato, desertos, etc., como forma de fugir do caos que o Estado cria.
Conscientes ou não, tais pessoas abraçaram a ideia anárquica de quebrar a hierarquia do Estado e não ter que pagar tributos, se submeter à polícia judiciária ou administrativa, ou a qualquer interferência na liberdade individual. Será esta prática uma tendência, tendo em vista que o Estado moderno tem sistematicamente quebrado o Contrato Social?