Direto de Brasília, DF
Hoje encerro a série “HISTÓRIAS DE QUEM NÃO DESISTE”, uma das que mais me causa prazer realizar durante meus 17 anos de colunista, já que desde 2006 assino colunas, como nas extintas revistas ‘Informação Tributária”(2007), “Informação Trabalhista”(2009) para as quais escrevia na área do Direito como Procurador Federal, e em cultura, com a coluna “Zoada” para a revista “Nós Fora dos Eixos” na qual meu Alter Ego compositor e cantor DOCTOR JUDI, escrevia sobre música. Para esta última, como escritor, também fazia matérias especiais como correspondente em minhas viagens internacionais, a exemplo da matéria que fiz na cidade de Probstdorf, Áustria, com o sacerdote progressista Helmut Schüller, uma das vozes católicas mais influentes e dissonantes desde Martinho Lutero.
Para realizar a série “HISTÓRIAS DE QUEM NÃO DESISTE” planejei com objetivos e metas. Coloquei no papel o que desejo dizer, que tipo de mensagem e a quem transmitir. Determinado que a missão era falar de trajetórias de luta e êxitos, a fim de falar com os leitores que estão na luta para vencer na vida e às vezes se sentem desanimados, passei a garimpar pessoas cuja trajetória é inspiradora, e em seguida as contatei para a entrevista.
Contatado o time de entrevistados dei início à série em 5 de março e termino hoje em 7 de junho. Foram desportistas, professores, um dos melhores teólogos do Brasil, uma psicanalista e também orientadora educacional, um ex-morador de rua, um vendedor de cachorro-quente que se formou em Direito e também se tornou advogado, pessoas da Holanda e da Argentina vivendo e sucedendo bem no Chile, uma jornalista, escritora e tradutora do Haiti que também é Francesa e vive nas cercanias de Paris, um Chef de Cozinha que viajou pelo mundo e hoje vive com seu companheiro em Washington D.C., que está prestes a montar seu restaurante, um brasileiro e professor de inglês em New York-EUA, cujo currículo acadêmico e de vida é maravilhoso. Todos com uma história de quem não desiste ante as adversidades da vida. Todos enfrentaram situações difíceis tendo em comum a obstinação, a inquebrantável determinação para vencer.
Hoje, no encerramento desta série, sei que irá gostar da trajetória de ERICK GUTIERREZ, o brasileiro que vive em Portugal e que passou por tantos revezes até se tornar o fundador do EURO DICAS, o maior site do mundo sobre dicas para brasileiros que querem viver legalmente na Europa, e que gentilmente me atendeu e concedeu a entrevista que segue.
Senhoras e senhores, com vocês Erick Gutierrez:
Judivan Vieira: Fale um pouco sobre você.
Eric Gutierrez: Meu nome é Erick Gutierrez, tenho atualmente 32 anos, sou neto de portugueses e espanhóis que vieram procurar uma vida melhor no Brasil, mas ainda sou de uma geração que quando nasceu, o objetivo ainda não se havia cumprido. Nasci e cresci na periferia de São Paulo, em São Mateus, onde fiquei até os 10 anos de idade, depois minha família mudou para Zona Norte de São Paulo, onde me criei até ir morar na Europa.
Posso dizer que até os 10 anos éramos pobres, com pouco acesso, rua de terra batida. Depois dos 10 anos, através do trabalho, meu pai pode nos dar uma condição melhor, e daí em diante considero que tive uma vida de classe média.
JV: Que atividades profissionais desempenha?
EG: Durante o ensino médio tive a oportunidade de fazer um curso técnico em informática, onde o foco era aprender a base das ciências da computação e aprender a programar, então aos 15 anos comecei a programar e fazer estágio na área. Depois cursei sistemas de informação pela Faculdade Impacta, em São Paulo, mas não concluí porque achei que o curso não me agregava, por ter tido uma base boa.
Mas minha vida profissional foi passar por diversas áreas de tecnologia e posteriormente do marketing digital, o que me deu uma base para o que faço hoje. Há 7 anos me dedico a empreender em tecnologia/marketing digital, procuro problemas grandes que possa solucionar de maneira simples com uso da tecnologia.
JV: Como nasceu a ideia de imigrar do Brasil e qual era sua principal meta a atingir neste empreitada pessoal?
EG: Aos 21 anos, ainda na faculdade, e na época como gestor de ecommerce em uma editora em São Paulo, comecei a me frustrar com a rotina da cidade, sentia que não tinha tempo, não tinha qualidade de vida, tinha receio da violência crescente também, então comecei a imaginar como seria a vida na Europa, e começou a nascer um sonho de morar fora do Brasil.
Amadureci por quase um ano essa ideia, e depois monte um plano que durou 9 meses, entre tirar cidadania (por ser descendente de portugueses), juntar dinheiro, escolher o país/cidade e etc, brinco que foi a gestação do sonho de morar fora.
Aos 23 anos, eu não tinha nenhuma meta a não ser viver fora, o objetivo era ir embora e conseguir ficar o maior tempo possível, aprender novos idiomas e culturas, mas estava aberto a tudo.
JV: Qual foi seu primeiro destino fora do Brasil e como foi sua adaptação pessoal e profissional?
EG: Meu primeiro destino foi a Irlanda, especificamente a cidade de Limerick. Irlanda porque iria com minha namorada, que hoje é minha esposa, e ela não tinha cidadania, precisava ser um país que aceitasse um imigrante brasileiro para estudar e trabalhar.
Normalmente as pessoas vão para Dublin, por ser a maior cidade, mas o dinheiro curto e o excesso de brasileiros (queríamos focar na língua inglesa), nos fez optar por Limerick.
A adaptação pessoal foi fácil para mim, mas não para minha esposa. O clima ruim, a distância cultural e etc., pesou bastante psicologicamente. Para mim a questão maior foi a parte profissional, que sempre foi algo muito importante para mim. Aos 23 saio do Brasil como gestor de ecommerce, e lá na Irlanda não conseguia trabalho nem para lavar pratos, isso mexeu bastante comigo.
Felizmente, depois de cerca de 1 ano na Irlanda, mudamos para Portugal devido a uma oportunidade de trabalho, e lá conseguimos nos adaptar em todos os sentidos possíveis.
JV: Além de sua obstinação pessoal para vencer, que pessoa ou pessoas mais te inspiraram para perseguir a realização de seus objetivos e metas?
EG: Sem dúvida meu pai, eu cresci em uma época que não tinha acesso fácil à internet, então era mais difícil ter referências, mas meu pai sempre foi um exemplo de organização e perseverança.
Era office boy, com 3 filhos aos 21 anos, e mesmo assim conseguiu juntar dinheiro para ir morar em Londres e conseguir nos dar uma situação financeira melhor, retornou para o Brasil e hoje é especialista em recuperar empresas que estão falindo.
Ele conseguiu me mostrar que mesmo sem os melhores recursos, com organização e muito trabalho é de fato possível ascender.
JV: Como surgiu a ideia de criar o site EURO DICAS?
EG: A ideia inicial partiu da minha esposa, que queria ter um blog para compartilhar a nossa jornada, ela sempre foi da área da comunicação e queria ajudar as demais pessoas com a nossa experiência. No primeiro ano foi de fato algo bem pessoal, muito mais um diário de bordo do que um site.
Porém, nos indignamos com a quantidade de informações incorretas na internet sobre imigração e vimos como isso pode atrapalhar quem está nessa jornada.
Então quando chegamos a Portugal decidimos mudar o projeto, para algo mais colaborativo, para não cairmos no erro dos demais projetos, de dar uma opinião enviesada. Começamos a criar uma rede de brasileiros que moram na Europa (hoje cerca de 40) e juntos escrevem os conteúdos sobre onde moram em seu ponto de vista, e nós organizamos e compilamos, por isso deixou de ser nossa opinião e passou a ser a opinião de brasileiros morando no exterior.
JV: As pessoas tendem a olhar para quem colhe êxitos, sem refletir sobre a longa história de construção da vida pessoal e profissional. Qual foi, e continua sendo, seu processo de construção do sucesso que hoje colhe?
EG: Com certeza, muitos amigos me viram aos 20 e depois aos 30 anos e parece que o que tenho foi da noite para o dia, mas foram anos, literalmente de construção, e ainda hoje continuo nesse processo, tenho o objetivo de criar algo que seja maior que o Euro Dicas e impacte positivamente a vida das pessoas através da tecnologia. Portanto, continuo no meu processo de desenvolvimento pessoal e profissional.
JV: Você dispõe, em números, da quantidade de pessoas que o site EURO DICAS alcança e que já ajudou na adaptação e desenvolvimento fora do Brasil?
EG: Temos o histórico de 2018 em diante, e de lá até hoje, soma 78 milhões de acessos, gerando mais de 102 milhões de páginas lidas. Atualmente contamos com cerca de 2 milhões de acessos por mês.
JV: O que tem a dizer para quem vive no exterior e está pensando em desistir de perseguir seus objetivos e metas e voltar ao Brasil?
EG: Diria para antes de desistir, lembrar porque começou esta jornada. Morar fora não é um paraíso, e pode, na verdade, parecer um inferno se não houver um verdadeiro motivo. Todas às vezes que passei por dificuldades fora e pensava porque tinham me metido nisso, lembrava do meu propósito, e era a única maneira de superar as dificuldades.
Quando as pessoas falam que querem morar fora, eu sempre pergunto com qual propósito, morar fora não é fácil, permanecer fora é mais difícil ainda.
JV: Erasmo de Roterdã diz que “conselho” não se dá a quem não o pede. Sempre gostei de pedir conselhos a quem possui experiência e cujos êxitos estão expostos na vitrine da vida. Sendo assim, que conselhos você dá a quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos, inclusive saindo do Brasil para viver no exterior?
EG: É difícil dar este tipo de conselho sem parecer clichê, mas se pararmos para pensar, o clichê existe por ter sido repetido muitas vezes, porém é pouco seguido.
De maneira breve, meu conselho seria apenas: seja organizado (planilhe e escreva tudo) e seja persistente no seu propósito. Com estas duas ferramentas, mesmo sem talentos especiais, acredito que conseguí ter o que julgo ser sucesso.
Eis o link do site: https://www.eurodicas.com.br/