Direto de New York-EUA,
Em 2015, na função de Procurador Federal da AGU, pedi Licença Capacitação, somei às férias regulamentares e fui para New York fazer curso de aperfeiçoamento em inglês, na escola Zoni Langue Centers, de Manhattan.
Foi nesse período de quatro meses de estudos em New York, que tive o prazer e privilégio de conhecer e ser aluno do professor Andreas Huewes. Em sala, éramos alunos de mais de dez Nações, sob o comando desse mestre na arte de ensinar.
Por saber que ele possui uma história de vida inspiradora e seguirmos em contato desde então, em 5 de março o convidei a conceder esta entrevista para a série “Histórias de quem não desiste”, e ele prontamente aceitou meu convite.
Por cada pessoa que nos concede o prazer de falar um pouquinho de si nesta série, peço a você que observe que êxito ou sucesso é um processo de construção, na vida de pessoas que confundem os sonhos com a própria vida.
Todas as quartas-feiras, pelos próximos três meses, trarei entrevistas com pessoas do Brasil e do mundo, cuja trajetória de vida é inspiradora.
Senhoras e senhores, com vocês, direto de New York-EUA, Andreas Huewes:
Judivan Vieira: Fale um pouco sobre você: nome, onde nasceu, idade e de sua origem econômica.
Andreas Huewes: Olá, meu nome é Andreas e nasci na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina no sul do Brasil. Tenho 52 anos atualmente e cresci numa família de classe média no Brasil.
JV: Que atividades profissionais desempenha?
AH: Já exerci várias atividades profissionais na minha vida, desde estagiário numa multinacional francesa no Brasil até garçom em restaurantes em NYC, mas nos últimos 22 anos eu tenho me dedicado ao ensino da língua inglesa para imigrantes e estudantes internacionais aqui nos EUA, nas cidades de Miami e New York.
JV: As pessoas tendem a olhar para quem colhe êxitos, sem refletir sobre a longa história de construção da vida pessoal e profissional. Qual foi, e continua sendo, seu processo de construção do professor de inglês que há em você?
AH: Quando eu vim morar aqui em NYC, em 1992, a minha prioridade era me graduar numa universidade norte-americana. Fui aceito pela Hunter College que faz parte da “CUNY – City University of New York” e lá cursei o Bacharelado em Literatura Inglesa e Teatro, e Mestrado em “TESOL – Teaching English to Speakers of Other Languages”. Tento estar sempre me atualizando na minha área com cursos online.
JV: Como nasceu a ideia de imigrar do Brasil e qual era sua principal meta a atingir neste empreitada pessoal?
AH: Desde que me conheço como gente sempre tive vontade de morar aqui nos EUA permanentemente e quando concluí o segundo grau no Brasil eu decidi que viria para os EUA começar minha vida aqui. Juntei uma quantia de dinheiro durante mais ou menos um ano e com a ajuda financeira dos meus pais consegui vir para os EUA. A cultura americana e a língua inglesa sempre foram muito influentes na minha vida desde pequeno, então quando finalmente me mudei para cá sozinho lembro da alegria imensa que senti de ter meu maior sonho, até aquele momento, realizado.
JV: Qual foi seu primeiro destino fora do Brasil e como foi sua adaptação pessoal e profissional?
AH: O primeiro lugar onde fiquei foi na cidade de Richmond no estado da Virgínia na casa de uma amiga norte-americana que me ofereceu hospedar na casa dela, temporariamente. De lá acabei decidindo vir para New York porque na época eu tinha uma amiga brasileira morando aqui que me ajudou com moradia e um trabalho num restaurante em Manhattan.
Minha adaptação foi tranquila porque eu já falava inglês fluentemente e isso me ajudou muito na formação de amizades com pessoas de várias descendências culturais aqui em New York.
Tendo um bom conhecimento da língua inglesa, também facilitou muito o meu crescer no trabalho naquele momento e na minha busca de uma universidade americana para começar meus estudos logo que possível.
JV: Além de sua obstinação pessoal para vencer, que pessoa ou pessoas mais te inspiraram para perseguir a realização de seus objetivos e metas?
AH: Acredito que assim como eu, a maioria das pessoas tem uma obstinação para vencer na vida e meus pais sempre foram para mim a maior inspiração, pois eles sempre trabalharam muito e fizeram de tudo o possível para proporcionar para mim e meus irmãos uma vida digna e boa.
Meus pais sempre enfatizaram a importância de obter uma educação de nível superior pois isto nos facilitaria muito alcançar muitos dos nossos objetivos.
JV: Porque decidiu deixar Miami, e se mudar em definitivo para New York? Que objetivos e metas, tinha em mente para esse novo ciclo? Seria mais fácil realizá-las na “cidade que nunca dorme”?
AH: Na verdade, me mudei para Miami logo após ter concluído o Bacharelado no Hunter College. Estava querendo vivenciar coisas diferentes e achei que precisava de um “break” de NYC, naquela época.
Como um dos meus melhores amigos estava morando em Miami, decidi ir para lá. Acabei ficando lá por 3 anos e foi tempo suficiente para perceber que NYC era muito mais meu estilo de cidade para morar.
Outro fator que pesou na minha decisão de retornar para NYC foi o clima de muito calor em Miami na maior parte do ano. Prefiro um clima mais ameno e gosto muito de inverno e neve, então foi fácil a decisão de me mudar de volta para NYC. Foi a melhor decisão que tomei. Amo NYC e sendo “the city that never sleeps”, sempre tenho muitas opções para entretenimento aqui.
JV: Como é ser um professor brasileiro em uma cidade de tanta concorrência entre pessoas e empresas?
AH: Sendo um professor brasileiro lecionando o inglês para estrangeiros e imigrantes de todas as partes do mundo, aqui é uma experiência ímpar e muito gratificante tanto pessoalmente como profissionalmente. Graças a Deus, nunca senti muita concorrência na minha área profissional aqui.
JV: Você é um professor que a cada curso ensina simultaneamente a alunos de vários países. Que perfil de aluno te chama mais a atenção?
AH: O que eu mais aprecio neste meu trabalho é a troca de conhecimento cultural que tenho diariamente com meus alunos. Eu ensino a eles a língua inglesa e eles me enriquecem com conhecimento cultural de todos os continentes do mundo.
Nesses anos todos que leciono inglês, acredito que já tive alunos de mais da metade dos quase 200 países existentes nesse nosso planeta.
Creio que o perfil que mais admiro nos meus alunos é o daqueles que vem para cá com uma sede insaciável de conhecimento da língua, pois eles têm consciência de quanto esse conhecimento trará benefícios para eles no futuro, seja aqui nos EUA, no país de origem deles, ou em outros países onde porventura eles passem.
JV: Nos EUA, principalmente na formatura do ensino médio, há uma frase famosa que costuma ilustrar o livro dos formandos: “Most likely to be”, algo como: “este aluno provavelmente será um…”, na tentativa de fazer prognóstico se a pessoa será um fracasso ou sucesso na vida profissional. Os alunos com os quais lida já chegam “prontos”, bem sucedidos, ou muitos seguem “cruzando fronteiras” em busca de sonhos?
AH: Meus alunos são tão diversos que é difícil classificá-los em poucas categorias. Tenho e já tive desde alunos imigrantes que cruzaram a fronteira entre o México e os EUA em busca de uma vida digna e segura, até alunos que já são extremamente bem sucedidos profissionalmente no país de origem, como presidentes de multinacionais, diplomatas, atores, cantores, etc.
JV: O lema dos professores norte-americanos é: ame, ensine, inspire. Você pensa que isto é “mera romantização” do ensino? Em sua opinião, qual a justa medida com a qual alunos e aprendizes da vida devem contribuir para que todo esse esforço de ensino se torne aprendizado eficaz, ou seja, produza os êxitos esperados pelas pessoas?
AH: Baseado na minha experiência como professor, eu creio que o lema acima é muito verdadeiro. Se você não ama a profissão do ensino, você não será uma inspiração para os seus alunos, pelo contrário, poderá ser uma pedra de tropeço para que alguns deles desenvolvam a paixão pelo aprendizado. A justa medida está na paixão do professor pelo ensino e na obsessão do aluno no aprendizado. Essa combinação seguramente trará os êxitos esperados pelas pessoas envolvidas.
JV: Erasmo de Roterdã diz que “conselho” não se dá a quem não o pede. Sempre gostei de pedir conselhos a quem possui experiência e cujos êxitos estão expostos na vitrine da vida. Sendo assim, que conselhos você dá a quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos?
AH: Meu conselho para quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos e também para quem já tem uma vida construída e está pensando em uma mudança para outro país em busca de êxitos pessoais e profissionais, é de não deixar se influenciar por pessoas que se opõem às suas metas sem ter experiências próprias na área.
Acho que uma vivência em outro país aprendendo uma nova língua e cultura é sempre muito enriquecedor e vale a pena.
Sempre que estou no Brasil de férias e as pessoas me perguntam se é uma boa ideia vir morar aqui nos EUA, eu respondo que sim, mesmo que no final da experiência você não conquiste todos os seus objetivos iniciais. Muitas vezes, e ouço isso frequentemente de alunos meus, você acaba descobrindo novas paixões na vida que se você tivesse permanecido onde estava, nunca teria a oportunidade de explorar.
Muito obrigado, Andreas!