DR PAULA MEYER

A DÉCADA PERDIDA (2012-2022) E SEUS EFEITOS NO COTIDIANO DAS FAMÍLIAS

O termo ” década perdida”  foi amplamente cunhado nos livros de economia para ilustrar a década dos anos 80 caracterizada pela perda de poder aquisitivo e crescimento econômico pífio.

Nos anos 2000, mais especificamente durante o período de 2012-2022, o país vivenciou mais um episódio de década perdida em que o empobrecimento da população e ampliação das classes sociais da base constituídas pelas classes D e E.

Nos anos 2000, a classe C representava 22% dos domicílios (R$ 2,8 mil – R$ 6,8 mil) e as classes D e E correspondiam a 64% dos domicílios com renda média de até R$ 2,8 mil. Com o advento da pandemia e a crise externa em 2008, subprime nos Estados Unidos e o arrefecimento do crescimento da economia brasileira, as classes D e E tomaram a proporção de 51% dos domicilios em 2020.

Estudo realizado pela Tendências Consultoria mostra essa ascenção das classes da base.  Ao longo dos últimos 10 anos a ocorrência de eventos externo e internos à economia brasileira amoldaram uma nova configuração da distribuição das classes A,B,C, D e E.

De acordo com estudo realizado pela consultoria, em 2019/2020, a participação da classe C no total dos domicílios brasileiros aumentou de 31,6% para 32,3%. Já a classe B sofreu um recuo de 13,7% para 13% assim como a classe A de 3,5% para 2,8%. Apesar de alguns recuos em relação a participação de algumas classes, a classe B expandiu-se ligeiramente de 32,3% para 33%.

É incontestável que os anos de pandemia, 2020-2022, impactaram mais fortemente no poder aquisitivo das classes mais baixas. a expectativa da inflação para 2022 é de 7,5% de acordo com o Boletim Focus. A blindagem contra os efeitos da elevação nos preços é maior nas classes mais altas.

Ainda de acordo com o levantamento realizado pela Tendências Consultoria, em 2020, a classe C viu o seu poder aquisitivo encolher em 3,8% e em 2021, a perda foi mais expressiva, de 6,3%. As classes D e E, em virtude do beneficiamento dos programas de transferência de renda durante o período da pandemia, os efeitos foram suaves e em alguns segmentos houve um aumento da renda domiciliar.

A adoção de políticas públicas de transferência de renda ainda é a solução em períodos de baixa da economia. Compreender o comportamento dos agentes da “demanda efetiva” e saber a hora de intervir corretamente de modo a amenizar o declive da depressão no sistema é crucial. Como diria Keynes, evitar o “multiplicador às avessas” no nível de atividade econômica é importante e cabe ao Estado essa missão.

A segunda década perdida vivenciada pelo país mostra nitidamente a relevância de  estratégias de cunho nacional que amenizem os efeitos perversos das crises externas e internas. Esse ano teremos novas eleições e caberá ao cidadão escolher de forma pontual os candidatos que efetivamente lhe representa e que seja capaz de reverter o quadro atual e individual da situação econômica vivenciada por cada um.

A economia definirá o pleito e os rumos da nova trajetória que guiará o país nos próximos anos. Esperamos que nao tenhamos que vivenciar mais uma década perdida sem a melhoria dos indicadores sociais e econômicos de uma nação que já experimentou os efeitos perversos de inflação alta e baixo crescimento nos anos 80.

 

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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