Ontem a noite em cadeia nacional de TV, o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em um pronunciamento de apenas 5 minutos anunciou o novo valor da bandeira tarifária “crise hídrica” bem como as medidas de racionamento de energia que passam a vigorar a partir de hoje até abril 2022.
A perplexidade não tomou conta pois os ventos do Planalto Central já estavam soprando nessa direção de contenção de consumo daqui para frente. A baixa dos reservatórios, o prolongamento da estiagem que assolapou os níveis destes empurraram a geração de energia elétrica na direção de outras fontes de energia.
O que devemos entender é o teor dessas medidas e de que modo elas afetarão a vida do cidadão daqui para frente.
Antes de mais nada, é importante esclarecer alguns pontos afim de nocautear os que acreditam que quanto pior melhor .
Dentre as medidas anunciadas, temos a cobrança de uma bandeira tarifária de “crise hídrica” que atingirá apenas àqueles cujo consumo de energia mensal seja da ordem de 100KWh, com a cobrança de R$ 14,20 na sua conta de luz sem contar com os impostos. Esse valor será repassado as usinas geradoras de energia cujo valor R$/KWh é mais caro devido ao acionamento de outras fontes de energia e cujos custos de produção também são mais elevados do que se tivéssemos utilizando a fonte hídrica.
Por outro lado, fala-se em racionamento de energia. A palavra racionamento imputa a ideia de controlar a distribuição de recursos ou bens escassos, no caso aqui é a energia. Esse racionamento requer a distribuição ao longo do dia do uso adequado, pede-se para deslocar o uso de energia para os horários em que haja uma “folga” de carga no sistema nacional (SIN). Ficar atento aos banhos demorados, ao uso da secadora de roupas e do ferro de passar. E o ar condicionado também não ficou de fora da linha de tiro.
O governo propôs que a cada 1kWh economizado temos R$ 0,50 centavos de desconto para quem economizar no mínimo 10% em relação a energia consumida entre setembro e dezembro de 2020. Quem não atingir o mínimo de 10% de economia não usufruirá do bônus de R$ 0,50 a cada 1kWh reduzido. Em janeiro 2022, será creditado o desconto na conta do consumidor que atingir as metas estabelecidas pela regra do racionamento.
Em 2020 comparado com 2019, a redução do consumo de energia foi da ordem de -1,0% . Os segmentos que apresentaram maior queda foram: comercial -10,55 (9,9TWh), público -7,3% (3,4 TWh) e energético -3,4% (1,1 TWh). Os que apresentaram expansão no consumo: residencial +4,0% (5,8 TWh). (EPE, 2020)
A grande lição que devemos tirar em meio a um momento de pandemia é que a atual crise hídrica nos mostra o quão forte é o coletivo. O bem-estar da sociedade já esta sendo afetado pelos diversos aumentos da conta de luz em 2021 e a situação poderá agravar-se ainda mais.
O uso racional de energia ao longo do dia e com parcimônia trará benefícios a todos. A hora não é de apontar o dedo de quem foi o erro, o Brasil possui um setor elétrico complexo em que a fonte hídrica é a principal fonte de geração de energia elétrica. Cerca de 63% da geração de eletricidade recai sobre os ombros da fonte hídrica. As demais fontes – solar, eólica e biomassa, por exemplo, ocupam, 19,8% da geração total de eletricidade de energia. Não cabe a essas a responsabilidade do suprimento de energia haja visto que são fontes intermitentes, ou seja, fontes que tem espaçamentos de oferta ao longo de períodos.
O momento atual pede lucidez e coerência em que o pensar coletivo sobreponha a todas as dificuldades que estão por vir. A cooperação de todos minimizará os efeitos dessa crise em nossos lares e no nosso cotidiano. Então vamos fazer a nossa parte com consciência e aguardando tudo isso passar.