O Brasil é um dos países do mundo que possui uma das matrizes energéticas mais limpas. Cerca de 84% da geração de energia no país advém de fontes renováveis e limpas. (BEN, 2021)
Em tempos onde a discussão assenta-se no questionamento da razão pela qual o Brasil possui um modelo de geração calcado basicamente em usinas hidrelétricas, acho pertinente fazer alguns esclarecimentos contextualizando a gênese do setor elétrico brasileiro ao longo do tempo.
Nos anos 60, mais precisamente, no período de 1968 a 1973, o país experimentava taxas de crescimento econômico da ordem de 11% ao ano. Na época, o parque industrial encontrava-se constituído e consolidado. A continuidade da performance econômica requeria a garantia da oferta contínua do principal insumo energético à época – a eletricidade. Cerca de 40% da geração de eletricidade no país encontrava-se sob o comando do Estado brasileiro por meio do controle da empresa Eletrobras.
A Eletrobras incorporava também os outros elos da cadeia do setor energetico – transmissão e distribuição, além de deter o controle e administração da Itaipu Binacional. O modelo de geração elétrica assentava-se em usinas de grande porte e com reservatórios gigantescos. Por muitos anos esse modelo prevaleceu. As questões ambientais eram pouco aventadas e portanto, não dominavam o debate politico energético à época.
Com a ocorrência do apagão em 2001, em 2004 houve a promulgação do PROINFA, programa destinado ao incentivo de outras fontes de energia, tais como biomassa, eólica, solar, PCHs.
De lá para cá, as fontes eólica e solar despontaram no horizonte e desde então a sua participação na geração de energia tem-se destacado. Ano passado, em meio a pandemia do COVID-19, a fonte solar expandiu em relação a 2019, 61,5% e a eólica, 1,9%. (BEN, 2021)
No primeiro semestre de 2021, a matriz energética incorporou 1.787,4 MW de potencia adicional, sendo que 1.422,9 MW foi originário da fonte eólica. O cenário de avanço da fonte eólica decorre da maturação dos investimentos em empreendimentos já em operação. (Canal Energia, 2021)
O Brasil soma 176.157,6 MW de potência fiscalizada, ou seja, usinas em operação e de empreendimentos outorgados em fase de construção. Deste total de usinas, 75% utilizam fontes renováveis. Fazendo-se um corte temos 10,47% usinas eólicas, 1,9% usinas fotovoltaicas (solar), 57,95% usinas hidrelétricas, 3,12% pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) (Aneel, 2021).
As termelétricas em 2020 diminuíram sua participação na geração de energia ainda que de forma tímida, -5%. Os principais recursos energéticos utilizados na geração de energia pelas termelétricas foram gás natural, biomassa e carvão e derivados. É importante deixar claro nesse texto que nem toda biomassa maltrata o meio ambiente. Existem unidades termelétricas cuja emissão de poluentes é baixa, como as termelétricas à biomassa. Esse esclarecimento é importante ser realizado haja visto que em tempos de crise energética, o acionamento destas parece ser a pior solução do ponto de vista ambiental. (BEN, 2021)
Não se pode combater uma crise hídrica acionando-se fontes intermitentes, ou seja, fontes que não tenham uma longa duração de oferta de fluxo de energia. As fontes solar e eólica são complementares sendo importante o Plano A, ou seja, a garantia do abastecimento elétrico por fontes continuadas, no caso hídricas e térmicas.
Uma outra solução para a crise energetica atual, seria o Ministério de Minas e de Energia pensar em uma politica de armazenamento de energia de modo que em períodos de rios secos possamos acessar esses estoques de energia.
Como se diz o velho ditado: nas crises encontramos as oportunidades e soluções, acredito que a atual crise hídriga fará com que os players do setor elétrico repensem várias questões que até então foram deixadas de lado pois se lá atrás não havia urgência em pensá-las ou remediá-las, agora chegou a hora.