DR PAULA MEYER

GERAÇÃO DISTRIBUÍDA E SEUS BENEFÍCIOS NAS REGIÕES ISOLADAS DO PAÍS

Não é nenhuma novidade que o Brasil seja um país único, conhecido pelas suas belezas naturais, cultura, povo acolhedor como também pela narrativa histórica de contrastes sociais e econômicos. Quando o assunto é acesso à energia elétrica a narrativa perdura até os dias atuiais.

A grandeza e magnitude dos desafios enfrentados são gigantescos quanto os números apresentados nesse artigo. O Brasil em 2019, consumiu o equivalente a 482.226 GWh de eletricidade, sendo que 2.873 GWh estão lotados em sistemas isolados (SI) que não estão conectados ao principal sistema de interligação nacional que é o Sistema Interligado de Energia, o SIN. (PEN SISOL 2021 – ONS)

A geração de energia nos sistemas isolados é oriunda de termelétricas movidas a óleo diesel e cerca de 1,6% da população brasileira depende dessa geração para ter o acesso à energia elétrica. A região Norte do país, concentra a maior parte desses sistemas isolados, perfazendo um total de 212, totalizando 475 MWmed de carga média anual de energia. (PEN SISOL 2021 – ONS)

A geração distribuída, GD, poderia ser uma alternativa importante a ser considerada quando o assunto é universalização de energia.

Mais alguns números para refletirmos acerca desse possibilidade. Os estados do Amapá (7,1GW), Roraima (2,9MW), Acre (9,6 MW), Amazonas (26,7 MW) e Rondônia (45,9MW) detém juntos 85,2 GW em potência instalada em geração distribuída (GD). O Brasil inteiro detém 8.470 GW . (Absolar, 2019)

Poder-se-ia incentivar a expansão dessa geração sobretudo em localidades onde a densidade demográfica é baixa e os custos de infraestrutura (construção e manutenção das linhas de transmissão e subestações) são elevados comparados com as demais localidades do país.

Por outro lado, as perdas técnicas decorrentes desse distanciamento dos principais centros de geração de energia também seriam minimizados. Quanto menor a distância entre a unidade geradora e a unidade de consumo, menores seriam as perdas decorrentes do processo de transporte e de distribuição nos núcleos dos transformadores, perdas dielétricas etc (PEN SISOL 2021 – ONS)

No Brasil, essas perdas técnicas correspondem a 7,5% da energia que passa pelas linhas de transmissão e redes da distribuição, mas que acaba por não ser comercializada pois se perde seja por motivos técnicos ou outros. Esse valor  de perdas é rateado entre geradoras e consumidores finais na tarifa de energia elétrica. (ANEEL, 2019)

Se contabilizarmos as perdas não-técnicas decorrentes furtos (ligações clandestinas, desvios na rede de distribuição), fraudes, as perdas totais seriam de 14%. A magnitude de perdas totais, perdas técnicas e não-técnicas juntas equivale a abastecer as regiões Centro-Oeste e Norte de energia.

A geração distribuída pode sim ser a outra via para a regularização do acesso à energia elétrica no país. Um país como o Brasil precisa colocar no centro da discussão debates dessa natureza de modo a tornar mais eficiente o uso da infraestrutura construída do setor elétrico brasileiro. Essas são apenas algumas das inúmeras vantagens em incentivar a GD num país tão grande e cheio de contrastes como o nosso.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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