DR PAULA MEYER

FELIZ ANO NOVO – ECONOMIA, PANDEMIA E ANGÚSTIA

O ano começa com a renovação dos votos de Ano Novo e a espera por dias melhores. O Brasil segue emplacando o péssimo lugar entre os países que não conseguiram conter o avanço do vírus e pela falta de coordenação nas medidas de combate. Jornais comentam as aglomerações isoladas nos festejos de virada do ano. Bailes funks, festinhas particulares, migração de multidões a outras praias do litoral brasileiro estamparam as manchetes dos jornais lá fora.

Brasileiros aguardam ansiosamente o dia em que poderão vacinar-se. Os calendários ainda estão sendo discutidos pelos órgãos responsáveis, datas possíveis já foram aventadas mas nada de concreto foi definido até o momento. Desentendimentos entre as esferas federal e estadual dificultam a definição das datas de vacinação. Falta coordenação entre os órgãos. Faltam insumos como seringas, agulhas para o início da vacinação. O país já acumula 195 mil óbitos e as mortes por COVID-19 avançam.  Nesse campo vê-se o avanço da disputa política com ações pífias e discursos duvidando sobre a eficácia da vacina. Esse cenário dificulta a efetivação das ações rumo ao extermínio do vírus.

Na economia, o cenário também é tão contraditório quanto na área da saúde. O orçamento de R$ 1,5 trilhão foi aprovado sendo que R$ 100 bilhões serão destinados a gastos discricionários. Ou seja gastos que poderão ser remanejados entre diferentes áreas. O restante já está com destinação definida e boa parte será para o pagamento de servidores públicos e benefícios de previdência social.

Em 2020 o país registrou um aumento do resultado primário de déficit que segundo previsões do Ministério da Economia ficará em R$ 844,0 bilhões o equivalente a 91% do PIB brasileiro. Em 2019, esse resultado foi de 74,3% do PIB.

Em 2021 a meta de déficit é de R$ 247 bilhões. Essa meta fiscal já é sabida diante mão que não será cumprida. Desde 2014 os gastos superam as receitas e em ano de pandemia e continuidade desta não será diferente. É necessário implantar uma estratégia de cortes ou priorização de gastos em ano de “vacas magérrimas”.

O Governo Federal sabe a importância em realocar os gastos e a necessidade de implantar medidas mais duras de modo que possamos ter novamente o controle fiscal. O fim da calamidade pública em 31 de dezembro de 2020 forçará o Governo a repensar essas alocações orçamentarias em 2021. Por outro lado, a Reforma Administrativa encontra-se ainda em discussão, pressionada por grupos da sociedade que não desejam abrir mão dos benefícios. Algumas propostas como congelamento de salários de servidores públicos, fim de determinadas isenções fiscais já estão na mira afim de conter o avanço do rombo nas contas públicas. Tais medidas além de impopulares recaem em um segmento da sociedade – os servidores públicos – a conta do desequilíbrio fiscal de 2020.

Por outro lado, com a continuidade da pandemia em 2021, o Governo Federal vai ter que encontrar novas formas de amparar a população que está ainda desassistida devido ao recrudescimento de algumas atividades econômicas. A prorrogação do auxílio emergencial em valores menores pode ser um alento em um quadro de queda brusca do rendimento da população mais afetada. Por outro lado, a pandemia poderá não acompanhar o ano-calendário e se estender além de 2021. Isso significa dizer que o Governo precisa ter um plano B para enfrentar o que está por vir.

Em resumo, o ANO NOVO de 2021 pode ser descrito como sendo: ECONOMIA apresentando sinais de recuperação, PANDEMIA e mortes que não cessam em 2021 e aumento da ANGÚSTIA crescente até a chegada da vacina.

Nos resta esperar. O Ano de 2021 está mais para o verbo esperar, esperançar. Como Deus é brasileiro, esperamos que Ele tenha piedade de todos nós, brasileiros.

 

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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