De forma inédita, espetáculo consagrado que reúne milhares de turistas e conterrâneos no Marco Zero do Recife, vira filme dirigido pela cineasta Tuca Siqueira e Pedro Sotero
Em um momento de isolamento social vivido no mundo inteiro, o Baile do Menino Deus convida os brasileiros para “abrirem suas portas” para a chegada do “Menino Divino”. Espetáculo natalino, produzido pela Relicário Produções/Carla Valença, e dirigido por Ronaldo Correia de Brito, que reúne milhares de turistas e conterrâneos no Marco Zero do Recife há 17 anos, se prepara para contar a história mais famosa do mundo de uma forma desafiadora. Este ano, o espetáculo que faz uma leitura lúdica do nascimento de Jesus Cristo, chegará nas casas dos brasileiros entre os dias 23 a 26 de dezembro, através de um espetáculo filme em plataformas digitais e TV. O filme também estará disponível pelo site, em formato com libras e audiodescrição.
O Baile que nunca termina, sempre principia e se recria, conta com apoio e patrocínio do Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura, do Governo de Pernambuco, da Prefeitura do Recife, da Rede do Grupo Itaú, Aché Laboratórios, Sherwin-Williams, Tramontina, STN Nordeste, Inbetta, Copergás e Globo PE.
O longa inédito da grande ópera popular nordestina, que se orienta nas tradições de festas e representações teatrais do ciclo natalino, incorporadas às mais diversas culturas do Brasil, começa a ser gravado a partir desta quinta-feira (12) e conta com direção geral de Tuca Siqueira (Amores de Chumbo e Fashion Girl) e direção de fotografia de Pedro Sotero (premiado em Cannes com o filme Bacurau).
Produtora, roteirista e diretora de cinema, a pernambucana Tuca Siqueira iniciou sua carreira em 2003. Sua trajetória conta com diversas séries, filmes e documentários premiados. Entre eles, “Amores de Chumbo”, seu primeiro longa de ficção, considerado uma verdadeira pérola cinematográfica pela crítica.
“Eu tive a sorte de ter pais que sempre me levaram ao teatro e minha relação com a consciência do coletivo sempre foi muito forte por causa do meu envolvimento com a dança e o teatro, desde pequena”, conta Tuca. “Acho que isso foi o que me levou para o audiovisual que é uma arte tão coletiva. Assisti o Baile pela primeira vez no ano passado. Me emocionou muito pela ousadia e coragem política de se apresentar uma Maria negra e um José rastafari. Tudo isso me dá muito mais orgulho de ter recebido o convite para dirigir o espetáculo. Foi um presente pra mim e será uma grande surpresa para o público”, finaliza.
Diretor de fotografia desde 2006 no Recife, lugar onde desenvolveu uma consistente filmografia de curtas e longas-metragens, Pedro Sotero fotografou filmes que incluem três seleções oficiais no festival Cannes, à exemplo de “Aquarius”, “Bacurau” e “O Som ao Redor”. Em 2018, ganhou o prêmio de melhor fotografia no SSIFF, com longa argentino “Rojo” e em 2019, trabalhou na pesquisa, roteiro e fotografia do filme instalação SWINGUERRA, obra selecionada para representar o Brasil na Bienal de Veneza e finalista do prêmio ABC 2020.
Entre os solos da peça, outro destaque é Silvério Pessoa, que estará em quatro atos. A rede de artistas do Baile também conta com a participação do Bongar, grupo de percussionistas e cantores do Terreiro Xambá, que apresentará, o talento Guilherme, percussionista de apenas cinco anos, filho de Guitinho de Xambá, que traz toda a representatividade negra que vem do Quilombo Urbano do Portão do Gelo, para o espetáculo. O corpo de baile, composto por onze bailarinos, também está renovado, bem como o figurino e a cenografia.
Carla Valença e Ronaldo Correia de Brito oficializaram a ideia de transformar o espetáculo em filme no mês de agosto. O conceito veio da diretora de arte Sephora Silva. “Estremecemos só em pensar, mas partimos para o desafio de realizar três produções, dentro de uma mesma e gigante produção, que é a do Baile, para não deixar o público sem o espetáculo”, comenta Ronaldo.
A proposta do espetáculo filme do Baile é encenar a apresentação da mesma forma que ela é todos os anos no Marco Zero, usando a linguagem do cinema sem perder nenhuma característica própria da montagem, mas trazendo novidades. “O Baile é um espetáculo de rua que se integra com a cidade no espaço do Marco Zero e trazendo o cenário para dentro do teatro a gente quis trazer a cidade como cenário para o fundo do teatro”, conta Sephora Silva. “Incorporamos projeções com imagens reais da cidade e animações. Serão 8 cenas com projeções, desde o céu divino na cena do anjo, imagens diferentes de dia com um morro colorido, teremos um sertão verde próspero e animações com desenhos de Joana Lira. Também teremos um momento com uma mensagem muito importante nas cenas dos caboclinhos com a projeção da floresta amazônica e trazendo uma alerta às queimadas”.
Preocupados com a segurança dos artistas e de todos os profissionais envolvidos na produção, as gravações do Baile contam com todos os critérios de segurança, exigidos em tempos de pandemia e uma equipe médica formada por cinco profissionais e dois consultores foram contratados para criar um protocolo de segurança e prevenção à Covid19.
“É um desejo mais antigo de fazer o espetáculo num formato de filme”, conta Carla Valença. “Estamos felizes e ansiosos, a oportunidade de realização chegou. Quando se deu a pandemia do coronavírus, eu e Ronaldo nos reunimos com muitas pessoas com o objetivo de vislumbrar caminhos e agregar profissionais com a expertise do teatro e do audiovisual, já prevíamos a possibilidade de não poder acontecer presencialmente”. O filme também estará disponível pelo site em formato com libras e audiodescrição.
“Quebramos a cabeça, pensamos muito com toda a nossa equipe, para que a consagração de um trabalho que começou há 37 anos não fosse interrompida e que fosse realizada de forma segura para os mais de 300 artistas e profissionais envolvidos em sua realização.
A produção do Telefilme é assinada pela REC, produtora recifense dos sócios Chico Ribeiro e Ofir Figueiredo voltada para a criação e produção de conteúdo audiovisual. Entre as suas principais produções estão “Para Quando o Carnaval Chegar”, de Marcelo Gomes, “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, “Viajo porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de Katim Ainouz e Marcelo Gomes, “Para Ter Onde Ir”, de Jorane Castro e diversos outros longas.
Em sua edição de 2019, o Baile do Menino Deus quebrou mais um recorde de público levando mais de 70 mil pessoas, de todos os lugares do país, para a Praça do Marco Zero do Recife.
Parte da Trilogia das Festas Brasileiras, que retratam manifestações populares nordestinas como, a Bandeira de São João e Arlequim de Carnaval, no Baile do Menino Deus, a dupla de “Mateus” (personagens principais) é interpretada pelos atores Sóstenes Vidal e Arilson Lopes, eles buscam uma forma de abrir a porta da casa onde estão José, Maria e o recém-nascido Jesus, para celebrar a vida em clima de festa. Uma saga que recorre a sortilégios, brincadeiras, invocação de criaturas fantásticas – como a Burrinha Zabilin, o Jaraguá e o Boi – e muita música e dança.
O que faz o Baile do Menino Deus ser único na cena natalina brasileira é o seu projeto de resgatar várias formas de celebração do Natal, que sobreviveram e se guardaram apenas no Nordeste do Brasil. Reisado, lapinha, pastoril, cavalo marinho, guerreiro, chegança, boi de reis e outras manifestações.